Igreja Católica proíbe cinzas de defuntos em casa ou espalhadas na natureza
Vaticano insiste na tradição de sepultura em local sagrado.
A Igreja Católica entende que as cinzas dos defuntos não devem ser espalhadas na natureza, divididas pelos familiares e nem mesmo guardadas em casa. A determinação consta de um documento acerca das práticas fúnebres, Ad resurgendum cum Christo, que estabelece novas normas sobre a sepultura de defuntos e conservação das cinzas resultantes da cremação dos corpos.
O Vaticano assume a preferência pela “sepultura dos corpos, uma vez que assim se evidencia uma estima maior pelos defuntos”, lê-se no documento. Para o Vaticano, "o costume de enterrar os cadáveres dos fiéis" expressa melhor a esperança cristã na ressurreição.
A Igreja Católica foi durante muito tempo contra o recurso à cremação, mas em 1963 o Santo Ofício permitiu a prática. No entanto, este novo documento datado de 15 de Agosto, e agora tornado público, reitera que a cremação não é "em si mesma contrária à religião cristã" – “a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”.
E faz uma recomendação a todos os católicos que queiram manter os restos mortais dos seus familiares: a conservação das cinzas deve ser feita em “lugar sagrado” porque “favorece a memória e a oração pelos defuntos da parte dos seus familiares e de toda a comunidade cristã”, diz o documento.
Acredita o Vaticano que estas medidas poderão ajudar a evitar "a possibilidade de esquecimento ou falta de respeito que podem acontecer, sobretudo depois de passar a primeira geração, ou então cair em práticas inconvenientes ou supersticiosas".
Num briefing realizado pelo Vaticano, o cardeal Gerhard Müller, autor do documento, afirmou ainda ser necessário “acabar com esse pensamento individualista”, porque "o corpo morto não é a propriedade privada dos parentes, mas sim um filho de Deus, que faz parte do povo de Deus", cita o jornal The Guardian.
A Igreja, no entanto, recusa reunir os restos mortais dos santos que se encontram espalhados por igrejas no mundo inteiro, porque, segundo o conselheiro teológico do Vaticano, Monsignor Angel Rodriguez Luno, tal seria espoletar "uma guerra entre crentes".
A publicação deste documento ganha agora protagonismo até porque faltam poucos dias para a celebração do dia de Todos os Santos (1 de Novembro, em Portugal), período escolhido pela Igreja para recordar aquele que já faleceram.
Texto editado por Hugo Daniel Sousa