Mãe de jovem agredido por filhos do embaixador quer fim de relações entre Portugal e Iraque

Vilma Pires exige que o filho seja indemnizado pelos “danos que sofreu, nos termos da lei portuguesa”.

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Rui Gaudencio
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Depois de se ter sabido nesta sexta-feira que o Governo iraquiano adiou a decisão sobre o pedido de levantamento de imunidade de que gozam os gémeos de 17 anos, por serem filhos de um diplomata em funções, foi a vez de a mãe do rapaz agredido por aqueles irmãos, em Ponte de Sor, reagir. Vilma Pires não poupa nas palavras para expressar a sua revolta: diz que não perdoa ao Governo português “se não mover céu e terra” para que “se faça justiça” e defende que os portugueses não podem aceitar que o país continue a manter relações diplomáticas com o Iraque.

O comunicado acabou de ser enviado por esta mãe às redacções. Nele, Vilma Pires critica o facto de o Governo iraquiano ter optado por não levantar, pelo menos para já, a imunidade diplomática aos gémeos – numa nota entregue nesta sexta-feira ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o Governo iraquiano “dá conta da disponibilidade dos filhos” do embaixador Saad Ali “para serem desde já ouvidos no inquérito em curso”, mas considera “ser ainda prematuro tomar uma decisão a respeito do pedido de levantamento de imunidade”.

Ora, Vilma Pires considera que esta decisão significa que se está a dar “cobertura e protecção àqueles que cometeram um crime hediondo e tão selvagem em território português e contra um jovem cidadão português”. Na sequência da agressão que aconteceu a 17 de Agosto, o jovem de 16 anos sofreu múltiplas fracturas no crânio e permaneceu várias semanas nos cuidados intensivos do Hospital de Santa Maria.

Na mensagem divulgada, a mãe daquele adolescente deixa claro que não perdoa “à embaixada e ao Governo do Iraque a cobertura que deram para que este crime ficasse impune”. Mas não só: “ainda perdoarei menos ao Governo português se não mover céu e terra” para que “se faça justiça”.

É nesta parte da nota enviada que deixa um apelo: “Os portugueses não podem aceitar, depois de o Governo do Iraque ter avalizado um crime tão barbaramente cometido por dois jovens iraquianos com imunidade diplomática, em território português” que “o Governo português continue a manter relações diplomáticas com o Iraque".

Vilma Pires quer que “o Governo português responda com a defesa intransigente do valor sagrado da justiça e dos direitos dos seus cidadãos”. E quer também que o filho “seja indemnizado pelos danos que sofreu, nos termos da lei portuguesa, caso os agressores não tivessem imunidade diplomática”. Recorde-se que o embaixador iraquiano pagou a despesa hospitalar deste jovem, no valor de 12 mil euros.

A mãe não esconde o quão zangada está com os governantes em Portugal, numa parte da mensagem diz que “os políticos portugueses só são bons para os estrangeiros”; noutra lança um apelo para que não se consinta que o Governo português “abandone” o seu filho à sua sorte, “como sempre costuma fazer com os cidadãos portugueses quando estão em jogo interesses estrangeiros”.

Argumenta que nem ela, nem o filho sabem “sequer” o que vem escrito na Convenção de Viena – que prevê a imunidade diplomática –, o que sabe é que, se o Estado português a assinou, “devia garantir a protecção e a segurança dos cidadãos portugueses que vivem em Portugal contra aqueles que, ao abrigo da Convenção de Viena, se deslocam livremente pelo território nacional com o direito de agredir” outros cidadãos.

“Ainda acreditei que o envio do ramo de flores pelo senhor embaixador do Iraque fosse a manifestação de algum sinal de arrependimento. Mas, pelos vistos, entendi mal o gesto”, lamenta a mãe recordando um gesto do diplomata enquanto o filho esteve internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

A 25 de Agosto, depois de o Ministério Público anunciar que queria interrogar os gémeos (por entender que estava em causa uma tentativa de homicídio), o MNE pediu ao Iraque o levantamento da imunidade daqueles jovens. A resposta, depois de insistências várias, chegou agora. Também a Procuradoria-Geral da República fez saber, nesta tarde, que recebeu, através do MNE, a resposta iraquiana e que o documento será remetido ao processo, "no âmbito do qual será juridicamente apreciado pelo Ministério Público".

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