Domínio de Trump no Twitter amplificado por contas automáticas
Estudo da Universidade de Oxford indica que o candidato do Partido Republicano venceu o campeonato dos bots contra Clinton após o primeiro debate.
As manifestações de apoio a Donald Trump na rede social Twitter durante o primeiro debate presidencial, no dia 26 de Setembro, foram exageradas por meio milhão de mensagens publicadas automaticamente, sem qualquer ser humano do outro lado a escrevê-las, indica um estudo da Universidade de Oxford.
Ambos os candidatos beneficiaram destes Twitterbots – programas criados para partilhar mensagens ou para seguir outros utilizadores do Twitter de forma automática –, mas Donald Trump beneficiou quatro vezes mais do que Hillary Clinton.
O estudo da Universidade de Oxford ainda não foi revisto por publicações científicas e há quem ponha em causa os seus pressupostos, mas a equipa liderada pelo professor Philip Howard diz que se baseou em análises feitas durante eleições na Venezuela e no referendo sobre o "Brexit".
Num primeiro momento, os investigadores identificaram o número total de mensagens (tweets) que continham palavras-chave (hashtags) associadas a apenas um dos candidatos – no caso de Donald Trump, muitos utilizadores costumam terminar os seus tweets com as hashtags #AmericaFirst ou #NeverHillary, por exemplo. No total, a equipa de Oxford identificou cerca de 1,8 milhões de mensagens com hashtags de apoio a Donald Trump e 613 mil de apoio a Hillary Clinton.
A partir destes dados, os investigadores foram tentar separar as mensagens escritas e enviadas por utilizadores verdadeiros daquelas que são disparadas automaticamente, e descobriram que Donald Trump foi o candidato que mais beneficiou – mais de 576 mil tweets foram enviados por contas automáticas, contra os 136 mil a favor de Hillary Clinton.
Contas feitas, Donald Trump manteve a sua vantagem no apoio declarado no Twitter no dia do debate e nos três dias seguintes, mas o fosso em relação a Hillary Clinton reduziu-se de forma substancial quando os bots foram retirados da equação.
Para separar uma conta gerida por um ser humano de uma conta automática os investigadores partiram do princípio de que esta última disparou pelo menos 50 tweets durante um dia – 200 nos quatro dias em que decorreu a análise. No estudo não há qualquer referência à origem das contas autimáticas – podem ter sido criadas por pessoas ligadas às candidaturas ou por quaisquer outras pessoas.
Os pressupostos deste estudo podem ser discutidos – alguns utilizadores podem ser tão activos no Twitter que escrevem mais do que 50 mensagens por dia, por exemplo. Mas o professor Philip Howard disse à BBC que na maioria dos casos essas mensagens foram disparadas também durante a noite, pelo que um utilizador teria de se manter acordado durante quatro dias, uma possibilidade muito remota.
O investigador destaca duas conclusões. Por um lado, constata-se que a maioria das mensagens no Twitter são partilhadas por utilizadores verdadeiros, com interesse em participar na discussão política, mas também há o reverso da medalha: "Quando quase um quarto da actividade no Twitter é automatizada, a ideia de que os políticos estão a manipular as pessoas pode sair reforçada", disse Howard.