Estudos revelam que os mega-agrupamentos podem afectar a aprendizagem

Fundação Francisco Manuel dos Santos apresentou o mês da Educação.

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As provas de aferição permitem aos investigadores conhecer melhor os alunos portugueses ruf rui farinha

A aprendizagem pode ser afectada por ser feita em escolas que fazem parte de mega-agrupamentos? A resposta de alguns estudos de caso — que foram apresentados em Lisboa, nesta quarta-feira, no âmbito do mês da Educação, criado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) — é “sim”.

Anualmente, a FFMS dedica o mês de Outubro à educação e apresenta estudos que foram feitos com financiamento da mesma. Este ano não é excepção e serão apresentados trabalhos no âmbito do projecto aQeduto, uma parceria com o Conselho Nacional de Educação (CNE), que se tem debruçado sobre dados dos estudos da OCDE sobre educação.

Nesta quarta-feira, o primeiro dia do ciclo promovido pela FFMS, o tema foi a Organização da Rede Escolar e foram apresentados estudos de caso da autoria de Teresa Seabra e Maria Manuel Vieira, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; e de Leonor Torres, da Universidade do Minho.

Teresa Seabra e Maria Manuel Vieira debruçaram-se sobre os resultados dos alunos de 4.º e 6.º anos nas provas de aferição em 2009/2010, na região de Lisboa, para perceber o efeito da escola nos resultados obtidos e concluíram que a escola pode fazer a diferença. As investigadoras olharam com mais atenção para os resultados dos alunos do 1.º e do 2.º ciclo de quatro agrupamentos e concluíram que os alunos que tinham melhores notas eram de uma escola onde os estudantes provinham de meios mais desfavorecidos.

Porquê? Porque a escola fazia um “apoio persistente e continuado com todos os alunos que precisassem de reforço e não deixou nenhum aluno para trás”, explica Teresa Seabra. Logo, não é só o meio socioeconómico de onde o aluno provém que faz a diferença, mas a escola e o que esta faz pelos seus jovens.

O segredo está no acompanhamento, mas também na dimensão da escola, continua Teresa Seabra, durante um almoço promovido pela FFMS com a comunicação social. Neste estudo, o agrupamento com melhores resultados tinha 1500 alunos e o outro, com resultados menos bons, tinha 4000.

Também Leonor Torres, da Universidade do Minho, reflectiu sobre algumas dificuldades na gestão da rede escolar e nas implicações que têm os mega-agrupamentos no sucesso dos alunos.

Embora haja um aspecto positivo dos mega-agrupamentos que é a sequencialidade – ou seja, um aluno entra no pré-escolar e prossegue até ao secundário num mesmo agrupamento de escolas –, outros aspectos são negativos, diz a investigadora do Minho: por exemplo, a falta de autonomia das escolas que fazem parte da mesma unidade orgânica,que  “perdem poder de decisão” pois tudo está concentrado na escola sede, explica Leonor Torres. “A escola faz mais coisas diferentes quando não é agrupada, quando tem uma dinâmica muito próxima dos alunos”, defende.

Chumbar não compensa

Luís Catela Nunes, Carmo Seabra e Ana Balcão Reis, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, continuam preocupados com a taxa de retenção em Portugal, uma das mais altas da OCDE e voltam, este ano, a debruçar-se sobre o tema. Desta vez, os investigadores –  Carmo Seabra foi ministra da Educação – concentraram-se no impacto da retenção precoce, no 4.º ano, na aprendizagem dos alunos e até que ponto esta contribui para a melhoria dos resultados escolares. Os autores seguiram o percurso escolar das crianças que em 2006/2007 fizeram as provas de aferição do 4.º ano, e concluem que não compensa chumbar os estudantes.

“Os alunos não ganham nada com o chumbo”, declara Luis Catela Nunes depois de observar o que se passa com esses estudantes e comparando-os com os que não ficaram retidos. 

O estudo avança ainda, segundo a Lusa, que reprovar uma aluna do 4.º ano com mau desempenho escolar tem um efeito positivo muito reduzido, sendo que entre os rapazes esse efeito é nulo. O estudo permite ainda identificar quem são os alunos que chumbam: têm baixo desempenho escolar, são rapazes (na sua maioria), nacionais ou descendentes de outros países de língua portuguesa, e filhos de mães com nível de educação inferior. “O facto de ter apoio social escolar ou de ter computador ou Internet em casa não influencia em nada a probabilidade de retenção”, diz Catela Nunes durante o almoço.

No entanto, salvaguarda o investigador, estas conclusões não podem servir para os professores decidirem não reter um aluno porque alguns podem beneficiar de uma retenção. “A progressão escolar nos anos subsequentes parece ser mais rápida para os alunos inicialmente retidos do que para os alunos que transitam. Mas mesmo quando obtemos um efeito positivo da retenção na progressão escolar subsequente, esse efeito não é suficientemente forte para compensar o ano de atraso causado pela retenção inicial”, defendem os investigadores no estudo.

Na próxima semana, a 19 de Outubro, em Coimbra, será o lançamento do livro do sociólogo Elísio Estanque sobre A Praxe. E no mesmo dia, também em Coimbra, será apresentado o estudo de comparação dos exames em Portugal com outros 12 países, da responsabilidade de Jaime Carvalho e Silva. 

A FFMS aproveitou ainda o final da manhã para assinar um protocolo com a Associação Nacional de Municípios Portugueses para fazer chegar as suas publicações a todas as autarquias. 

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