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Um fórum para pôr o Porto a pensar

Na primeira semana de Novembro, o Fórum do Futuro volta ao Porto para discutir temas tão diversos como as sinapses cerebrais, a pioneira arquitectura forense ou a crise dos refugiados.

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O neurocienista Carl Edward Schoonover abordará o estranho mundo do cérebro, com os seus 86 mil milhões de neurónios unidos por uma densa rede de ligações sinápticas dr

A terceira edição do Fórum do Futuro, dedicada às ligações, um tema ainda proposto por Paulo Cunha e Silva (1962-2015), abre a 1 de Novembro no Teatro Municipal Rivoli, no Porto, sob o signo da fé: o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura no Vaticano, vai discutir com o arquitecto chileno David Basulto a questão de saber quem merece, afinal, a designação de Grande Arquitecto? Essa entidade divina que conforta espiritualmente os sofredores, ou uma nova espécie deus prático, que recorre à investigação e ao planeamento? Ou será que os dois podem trabalhar em equipa?

Herdeiro de uma das mais bem-sucedidas iniciativas lançadas por Paulo Cunha e Silva durante a Porto 2001, e recuperada em novos moldes quando este assumiu o pelouro da Cultura na autarquia, o Fórum do Futuro, afirmou esta terça-feira o presidente da Câmara Rui Moreira na apresentação do respectivo programa, quer “pôr a cidade a pensar”.

Com 22 sessões até 6 de Novembro, e contando este ano com 28 convidados internacionais das mais diversas especialidades disciplinares e proveniências geográficas – da Dinamarca a Israel e da Turquia aos Estados Unidos –, o fórum cresceu em 2016, embora a sua componente mais voltada para as vanguardas científicas seja um pouco menos forte na programação deste ano do que o foi na de 2015, dedicado ao tópico da felicidade.

O dia de abertura termina com dois músicos afro-americanos que têm uma noção bastante precisa de como a música pode mudar uma vida. Lonnie Holley viveu na miséria antes de ser reconhecido como artista – era o sétimo de 27 filhos e, segundo garante, o pai trocou-o por uma garrafa de whisky quando tinha quatro anos – e o seu companheiro de sessão, Laraaji, era um músico de rua até ter sido descoberto por Brian Eno.

A ciência é a estrela do segundo dia do fórum, com Chris Llewellyn Smith, antigo diretor-geral do CERN e actual director do Departamento de Pesquisa Energética da Universidade de Oxford, que falará nos desafios técnicos, económicos e políticos aos quais é urgente responder para alcançarmos um futuro sustentável, e o neurocienista Carl Edward Schoonover, que abordará o estranho mundo do cérebro, com os seus 86 mil milhões de neurónios unidos por uma densa rede de ligações sinápticas. Ambos conversarão depois com o músico e cineasta Jem Finer, fundador dos Pogues, sobre as ligações entre arte e ciência.

Com um salto a Serralves para ouvir o curador Hans-Ulrich Obrist, director artístico das Serpentine Galleries, em Londres, o programa de 3 de Novembro traz ainda o fotógrafo camaronês Samuel Fosso, o especialista em comunicação e espaço público Dominique Wolton, e a ficcionista escocesa Ali Smith, que conversará no Rivoli com Richard Zimmler. Dois escritores “interessados na forma como a literatura pode integrar a distância histórica e a distância de género”, notou Guilherme Blanc, do pelouro da Cultura da autarquia, na apresentação do programa.

Dois arquitectos empenhados em repensar o papel social da arquitectura, Andrés Jaque e Anthony Engi Meacock, do colectivo Assemble – vencedor do prémio Turner em 2015 –, o documentarista Teddy Goitom, fundador da influente produtora Stocktown Films e criador da plataforma digital Afripedia, o compositor italiano Luca Francesconi, o filósofo portuense Paulo Tunhas e o designer israelita Ron Arad preenchem as várias sessões de dia 4, e o escritor marroquino Tahar Ben Jelloun abre o programa de sábado, dia 5, com uma conversa sobre violência e barbárie num mundo sob ameaça terrorista e onde o populismo político e a xenofobia estão em alta.

Ainda no sábado, intervirão o multifacetado John Akomfrah, um documentarista, artista plástico, escritor, curador e ensaísta ganês radicado no Reino Unido, e o arquitecto israelita Eyal Weizman, que estuda cenários de guerra em todo o mundo através da arquitectura forense, uma nova disciplina que, acredita, poderá fornecer dados preciosos à análise política e à intervenção humanitária.

No domingo, último dia do fórum, o cineasta Joshua Oppenheimer, autor de dois filmes recentes sobre as atrocidades do governo indonésio de Suharto – que serão exibidos no Rivoli –, falará da necessidade de lutar contra o esquecimento, seguindo-se a sessão de encerramento, que discutirá a crise dos refugiados com quatro protagonistas que, nos seus diferentes papéis, lidaram com ela de perto.

Um programa vasto que a autarquia conseguiu montar com o orçamento relativamente modesto de 140 mil euros, porque, explicou Rui Moreira, o Fórum do Futuro já construiu uma reputação “e é hoje mais fácil trazer pessoas ao Porto”.

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