Há 1,5 milhões de crianças malnutridas no Iémen

O chefe das operações humanitárias da ONU, Stephen O’Brien, visitou o país e ficou “absolutamente aflito por ver uma tal malnutrição” entre "as pequenas crianças".

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Salem Abdullah Musabih tem seis anos e está ao colo da mãe num hospital de Hudheida Abduljabbar Zeyad/Reuters

São 18 os meses que as organizações internacionais contabilizam de conflito no Iémen. Faz sentido; afinal, foi em Março do ano passado que a Arábia Saudita se envolveu no que era até aí uma guerra civil. Mas quando falamos de Iémen, falamos do mais pobre dos países árabes, à beira de ficar sem água e onde em 2014 metade da população já vivia com menos de dois dólares por dia e sem acesso a saneamento básico, enquanto 41% se encontrava em insegurança alimentar.

As consequências da guerra actual – mais de 6700 mortos e pelo menos três milhões de deslocados internos ou refugiados – têm de ser avaliadas tendo em conta o contexto de partida. A semana passada, o chefe das operações humanitárias da ONU, Stephen O’Brien, visitou Sanaa e ficou “absolutamente aflito por ver uma tal malnutrição” entre "as pequenas crianças".

É normal que O’Brien tenha ficado impressionado. De acordo com a UNICEF, perto de três milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar imediata e 1,5 milhões de crianças sofrem de malnutrição – destas, 370 mil de “malnutrição aguda severa, que enfraquece o sistema imunitário a um ponto em que se multiplicam por dez os riscos de morte”.

A coligação militar liderada por Riad impõe um bloqueio aéreo, terrestre e naval mas, apesar disso, há mecanismos previstos para fazer chegar ajuda à população, o que nem sempre é possível. Os últimos, por exemplo, chegaram ao porto de Hudheida, no mar Vermelho (cidade controlada pelos rebeldes huthis), mas não puderam ser descarregados porque as gruas estão partidas, explicou O’Brien aos jornalistas.

O responsável das Nações Unidas não explicou o que é que aconteceu às gruas de Hudheida, cidade-porto onde antes da guerra entravam 80 a 90% das mercadorias importadas do Iémen. Mas em Agosto do ano passado, o mesmo O’Brien acusou os sauditas de violarem as leis humanitárias internacionais depois de terem bombardeado este porto.

Não há drama que de que os iemenitas não sofram e a Organização Mundial da Saúde (OMS) acaba de anunciar um surto de cólera (é endémica no país) confinado, para já, à capital, Sanaa. “Até agora, recenseámos 17 casos suspeitos e onze confirmados”, afirmou na cidade Amro Saleh, especialista da OMS.

O conflito delapidou entretanto um sistema de saúde que já era frágil: mais de 1900 dos 3507 hospitais e centros de saúde das 16 províncias do país deixaram de funcionar completa ou parcialmente. Destas, 274 foram alvo de bombardeamentos.

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