"O único banco que será sempre português é a CGD"

Aumento de capital da Caixa pode vir só em 2017. Veículo para o malparado avança este ano, mesmo que com resistência dos banqueiros.

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"O país tem de entrar em 2017 com o sistema financeiro estabilizado" São José Almeida, Vera Moutinho, Sibila Lind, David Dinis

O veículo malparado da banca vai mesmo avançar?
Essa minha afirmação perdeu bastante originalidade porque, do Fundo Monetário Internacional às recomendações específicas da Comissão Europeia, todos têm sublinhado aquilo que hoje é uma evidência, que foi escondida deliberadamente entre a troika e o anterior Governo, que é o elevadíssimo nível de crédito malparado acumulado no sistema.

Não foi propriamente escondido, estava nos relatórios.
Foi escondido para simular a famosa saída limpa e que, aliás, já se traduziu na resolução de dois bancos — e em vários outros episódios que me escuso agora de relembrar. Temos vindo a trabalhar muito intensamente com o Banco de Portugal para termos uma solução sistémica. Relativamente à Caixa Geral de Depósitos, o Estado assumiu no programa de recapitalização a resolução desse problema, mas era bom que pudéssemos ter uma solução sistémica compatível com as regras da concorrência.

Não percebi se vai acontecer ou não.
Vai.

Os bancos resistiram à sua proposta.
Sim, pois. Sabe? Há coisas que há coisas que quando têm que ser têm mesmo que ser. E a Comissão Europeia tem, aliás, um calendário exigente, fixando-nos Outubro para esse objectivo. Não sei se conseguiremos cumprir exactamente esse calendário mas não tenho dúvidas nenhumas que o país tem de entrar em 2017 com o sistema financeiro estabilizado, com boas condições de poder financiar a economia. Há um grande trabalho que tem sido feito por parte do sector bancário nesse sentido, do Estado em relação à Caixa, do sector privado também. Hoje temos várias instituições que têm ultrapassadas as suas situações de conflitos accionistas, com capacidade de atrair investimento directo estrangeiro que vai reforçar as suas condições de capitalização. Olhando para a angústia que muitos tivemos aqui há uns meses atrás, hoje estou convencido — enfim, não queria ser irritantemente optimista — que chegaremos ao final deste ano com o nosso sistema financeiro tendo ultrapassado os caminhos de incerteza que o perturbaram no passado.

A CGD terá a primeira fase de recapitalização já este ano?
Não necessariamente. Temos estado a trabalhar com a administração da Caixa. Será feita à medida das necessidades do esforço de capitalização.

Quanto à auditoria à gestão da CGD, que foi determinada pelo Governo e que o novo presidente da Caixa disse esta semana que não tinha recebido solicitação, ela será feita quando?
A administração da Caixa fará essa auditoria.

Relativamente ao Novo Banco, a venda é para avançar mesmo?
Sobre esse tema, neste momento, não quero fazer comentários. O senhor governador do Banco de Portugal já anunciou que brevemente apresentará ao Governo o quadro de soluções que tem a propor relativamente a esse processo que tem sido conduzido directamente pelo Banco de Portugal. Portanto não me vou antecipar.

Mas gostaria que fosse vendido?
Não me vou antecipar aquilo que serão as propostas que o senhor governador venha a apresentar e que têm vindo, presumo, a resultar do processo negocial que decorre na sequência do concurso que o Banco de Portugal abriu.

Na última semana conhecemos um documento do Governo que muda as regras do Fundo de Resolução…
… É um comunicado em que se vem esclarecer que o período de amortização, por parte do Fundo de Resolução, do empréstimo do Estado será devidamente distendido — e não será isso que contribuirá para que não haja aquele objectivo que temos de que haja estabilização.

Gostaria que o Novo Banco ficasse como um banco português?
O único banco que nós sabemos que será português sempre é a CGD e por isso a quisemos 100% pública. Nesta era da globalização tenho mesmo dificuldade em perceber o que significa essa sua pergunta.

Creio que a percebeu. Quando é que há uma solução para os ditos “lesados” do BES?
A matriz de solução está encontrada, depende da consolidação final da auditoria que a Deloitte fez porque é essencial apurar uma condição essencial: em que medida a solução de resolução [do banco] era mais negativa do que a solução alternativa de liquidação, porque isso é um dos parâmetros delimitadores.

Julgo já haver um documento.
Sim, a Deloitte já o apresentou, mas tem estado a ser discutido no âmbito do Fundo de Resolução e a ser sujeita a testes.

Tem um calendário?
O meu calendário era que ontem já estivesse resolvido, mas infelizmente nem sempre o calendário depende da nossa vontade, pois depende de condicionantes de terceiros. Temos vindo a trabalhar muito proximamente com a associação dos lesados do BES, num quadro de grande confiança, de respeito mútuo e de esforço conjunto para responder a soluções. A matriz da solução está encontrada, falta agora consolidar os pressupostos financeiros que permitem dar execução a essa solução. E isso é muito importante, também, para estabilizar o nosso sistema financeiro. Não é só estabilizar os balanços dos bancos, é estabilizar a confiança de todos aqueles que investiram nos produtos bancários, a confiança que têm que ter nos produtos que a banca coloca no mercado.

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