José Eduardo Martins, um pensador "livre" a fazer oposição em Lisboa
O advogado e ex-deputado que vai escrever o programa autárquico de Lisboa estava afastado da vida partidária desde que Passos Coelho assumiu a liderança do PSD.
O coordenador do programa autárquico do PSD para Lisboa gosta de ser advogado, de organizar festivais de música e de acompanhar os filhos. Marques Mendes descreve-o como um político “bem preparado e imaginativo”. E diz que o partido precisa mais de políticos assim no futuro. <_o3a_p>
José Eduardo Martins está de um lado, Jorge Moreira da Silva do outro. A história podia passar-se nos dias de hoje e acontecer em Lisboa. Mas a verdade é que tem 20 anos e aconteceu numa disputa pela liderança da JSD. Foi nessa altura que o advogado apoiou Pedro Duarte para líder da ‘jota’ e perdeu por 13 votos num congresso. Tornou-se oposição a Moreira da Silva e só após a saída deste – que sucedeu a Passos Coelho à frente da JSD – é que foi secretário-geral de Pedro Duarte, então eleito presidente daquela estrutura. <_o3a_p>
Vinte anos depois, o ex-deputado torna-se o coordenador do programa autárquico do PSD para Lisboa. Vem pela mão do líder da concelhia, Mauro Xavier, que já tornou público não ser fã de Jorge Moreira da Silva, actual vice-presidente do partido, como candidato do PSD à câmara. Há quem veja nesta nomeação um bloqueio à candidatura do ex-ministro do Ambiente. Ao PÚBLICO, José Eduardo Martins desvaloriza a divergência: “Não acho que haja disputa entre nós. Isso é um mito”. <_o3a_p>
Já Pedro Santana Lopes, provedor da Santa Casa da Misericórdia, colhe simpatias por parte do agora coordenador e da concelhia. Até haver um nome com a chancela da direcção, José Eduardo Martins será o rosto da oposição ao socialista Fernando Medina. E está a talhar o fato para Pedro Santana Lopes? “O objectivo deste exercício não é esse, mas sim para que um candidato se sinta amparado”, responde. <_o3a_p>
Com 46 anos, José Eduardo Martins afastou-se da vida partidária desde que Passos Coelho assumiu a liderança do PSD, sinal de um distanciamento que já vinha de há longos anos, desde as andanças dos dois pela JSD. Fez parte da direcção de Manuela Ferreira Leite e já tinha integrado os governos de Durão Barroso e de Santana Lopes como secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, primeiro, e do Ambiente, depois. <_o3a_p>
Nos últimos anos em que deixou o Parlamento, José Eduardo Martins dedicou-se à advocacia – é sócio da Abreu Advogados - mas também a organizar festivais de música como Paredes de Coura e o Primavera Sound. “É uma experiência de trabalho completamente diferente, é liderar pelo sorriso”, diz. É festivaleiro – “adoro festivais e vou a todos” – e garante que não vai deixar de participar na organização destas iniciativas. E Lisboa tem muitos ou poucos festivais? “Não compete à câmara definir o gosto, nem se tem a mais ou a menos. A câmara pode definir o gosto em coisas como a descaracterização do comércio na cidade, por exemplo”, responde.
<_o3a_p>"Não faço advocacia ao almoço"
A queda para os festivais e para música não o confunde quanto à profissão. “É muito importante ser advogado e isso não é passar a vida nos órgãos sociais das empresas. Não faço advocacia ao almoço”, afirma. E foi precisamente a separação ética entre a vida profissional e o exercício do mandato de deputado que o levou, há sete anos, a insultar e ameaçar o socialista Afonso Candal, durante um debate sobre painéis solares na Assembleia da República.<_o3a_p>
O lado temperamental é assumido e sobressai em histórias antigas. Há quem garanta que, num conselho nacional da JSD, chegou a vias de facto com um ‘jota’ muito crítico da direcção de que fazia parte. José Eduardo Martins já disse que os desaguisados nunca chegaram a tal ponto. É defeito ou feitio? “É feitio. Como dizia o meu pai: o rapaz é bruto, mas não é mau. Para usar um eufemismo, não sou espectacularmente paciente”. Um social-democrata que foi seu contemporâneo na JSD, embora na oposição, deixa um elogio: “É respeitado mas é um pensador livre e isso tem consequências”. <_o3a_p>
Sem qualquer participação no PSD nos últimos anos – à excepção da intervenção no último congresso de Março - , José Eduardo Martins divide o tempo entre os tribunais, os festivais e a vida familiar. “Gosto de ir às aulas de música dos meus filhos. A minha profissão é advocacia, a minha devoção é ser pai e bom pai”. Sobra ainda tempo para ler – “durmo pouco, leio pela noite fora” – e consegue “acompanhar o que se vai publicando”. Sobretudo em ficção. O homem escolhido para “pensar Lisboa” pelo PSD nasceu no Bairro Alto, vive na cidade, mas gosta de ir passar os fins-de-semana a Grândola, a uma casa que arrendou há sete anos. <_o3a_p>
O antigo líder do PSD, Marques Mendes, com quem partilha o escritório de advogados, não tem dúvidas de que vai sair “um programa exequível, por um lado, e inovador, por outro”. Ao PÚBLICO, o comentador televisivo descreve-o como “um político mais moderno do que o tradicional” por ter um “pensamento estruturado, ser bem preparado e ao mesmo tempo ser imaginativo, ter um discurso atractivo, novo, diferente”.
Na definição do ex-líder do PSD, José Eduardo Martins é um “social-democrata, sem aspas nem reticências”. Uma matriz que Marques Mendes "aprecia pessoalmente" e que abre horizontes no PSD: “Julgo que o partido precisa de mais pessoas assim, no futuro”. Seja qual for o candidato a Lisboa, é indiscutível que este cargo lhe pode dar palco mediático. Para se candidatar a líder do PSD? À pergunta, o próprio tem respondido com um “não sei”.