Governo vai alterar regras para as fundações
Executivo quer reavaliar algumas fundações que ficaram impedidas de ter financiamento desde 2012. Alterações passam ainda pela criação de um registo único.
No dia em que o Presidente da República vetou politicamente a primeira lei do Executivo de António Costa, o chefe de Estado e o Governo estavam em sintonia noutro aspecto: ambos querem mudar as regras para as fundações. Para já, o Governo lança duas alterações legislativas. Uma delas passa por dar oportunidade às fundações que não responderam aos censos às fundações de 2012, e por isso ficaram afastadas definitivamente de qualquer financiamento público, de serem reavaliadas. No limite, estas fundações poderão voltar a ser financiadas pelo Estado. “Não podem existir impedimentos para toda a vida. Não é razoável nem proporcional estender indefinidamente no tempo as consequências da falta de resposta ao Censo de 2012”, disse ontem a ministra da Presidência e Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques.
Desde o início da legislativa, já chegaram ao Governo 74 novos pedidos de registo de fundações privadas e 300 pedidos de “alteração estatutária”. Destes pedidos, alguns (um pequeno universo de menos de uma dezena de fundações) são de fundações que perderam o financiamento por não terem respondido aos censos ou por terem dado uma resposta insuficiente.
Além desta alteração, a ministra anunciou a criação de um “registo único” de fundações, que permitirá perceber quantas fundações existem e qual a sua função. Para a ministra trata-se de “mais uma oportunidade de simplificação de todos os procedimentos associados à vida das fundações, desde a sua criação até à sua extinção”.
Estas propostas do Governo vão ao encontro da vontade do Presidente da República de que haja uma “reflexão revisora” sobre a forma como o Estado lida com as fundações. Disse ontem Marcelo Rebelo de Sousa, numa conferência sobre o Dia Europeu das Fundações, que tem havido “alguns maus exemplos” e com isso houve uma degradação da opinião pública sobre as fundações, nomeadamente por causa do “recurso abusivo às fundações públicas”.
“Quando se depararam com a criação de fundações públicas sem fundos, o que é a negação da própria figura jurídica, à espera de os vir a obter no futuro, sabendo-se lá onde e como, aí a desconfiança converteu-se em oposição militante e indiferenciada", disse.
Foi daqui, defendeu, que nasceu a necessidade de uma clarificação de 2012, mas, admitiu, a legislação da altura foi “demasiado ambiciosa”. “A crise mais grave vivida a partir de 2011, as exigências do memorando de entendimento, o rigor governativo, e até a conveniência de encontrar bodes expiatórios rápidos e persuasivos, aliados a alguns maus exemplos, e à sua cómoda, embora injusta generalização, criaram uma onda anti fundacional". É este o sentimento que o Chefe de Estado quer ver desaparecer em relação a estas entidades.