Quando a alternativa parte dos estudantes

Em Lisboa é o primeiro ano, em Coimbra já vai na terceira edição. Grupos de estudantes organizam-se para receber os novos colegas sem hierarquias.

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Em Coimbra e Lisboa, estudantes criaram alternativas à praxe e ajudam a integrar os novos alunos Bruno Lisita

O acolhimento aos recém chegados não passa só pelas mãos das instituições. Em Coimbra e em Lisboa, grupos de estudantes organizaram-se para ajudar a integrar os novos alunos sem hierarquias, constituindo-se como alternativas à praxe, em que os “caloiros” são recebidos pelos “doutores”.

Pelo terceiro ano, o Cria’ctividade apresenta um programa com actividades culturais, desportivas e debates para evitar “o monopólio” da praxe, como foi dito pela organização na apresentação do calendário de iniciativas. A ideia partiu de um grupo informal de estudantes em 2014 e define-se como “uma plataforma aberta, horizontal composta por estudantes e não só”, lembra Valdemar Gomes, um dos porta-voz da iniciativa.

O estudante de direito explica que o Cria’ctividade pretende “criar um espaço seguro e heterogéneo dentro da universidade”, assim como proporcionar uma introdução “à universidade e à cidade dos novos estudantes que seja anti-hierárquica e sem submissão”. No entanto, o papel da iniciativa, diz, não é posicionar-se contra ou a favor da praxe, tanto que as actividades do programa são abertas a todos os estudantes. 

 “A crítica não fica fechada na praxe. Vamos ter um debate, “Taras e Manias”, que é sobre as hierarquias e rituais dentro da academia”, esclarece o estudante de direito.

O debate é apenas um dos eventos previstos na programação deste ano, que começou segunda-feira com a banca perto da zona em que os novos estudantes da universidade fazem a matrícula e só termina no dia 8 de Outubro. Nos eventos estão envolvidas várias repúblicas de Coimbra, organismos autónomos e secção da Associação Académica de Coimbra.

Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa surgiu este ano um projecto semelhante ao de Coimbra. O AlternAtiva está a ajudar a integrar os novos estudantes pela primeira vez e define-se como “uma alternativa à praxe” sendo que também não exclui quem seja pela praxe e queira participar. Uma iniciativa que se constitua como outra possibilidade de “de convívio e dinamização cultural” e “que seja aberta a toda a gente”, define Rebeca Csalog, uma das organizadoras.

A estudante de Antropologia conta que, apesar de em anos anteriores existirem iniciativas como o MATA (movimento anti-tradição académica), estas focavam-se no combate à praxe e não ofereciam “uma recepção diferente aos novos alunos”. Daí começou a conversar com amigos. “Sentíamos que havia colegas nossos que iam para a praxe só por falta de maneiras de conhecerem outras pessoas, especialmente com pessoas que vêm de fora de Lisboa e não conhecem ninguém”, conta. A organizadora da iniciativa sublinha que, apesar de haver ali quem tenha posições bastante críticas em relação à praxe, a actividade “não é um movimento anti-praxe”, mas constitui-se antes como uma alternativa. “É contrariar a praxe pela positiva“, diz.

Quanto a parcerias, a AlternAtiva, que arranca segunda-feira e vai até ao último dia do mês, não tem apoios, mas conta com a autorização da direcção da faculdade para utilizar o espaço. No projecto que começou por acolher os estudantes do programa Erasmus estão envolvidos cerca de 50 pessoas, refere a estudante, sendo que a AlternAtiva já se estendeu para além da FCSH. Começa pela Faculdade de Medicina Veterinária e Rebeca diz ainda que colegas de outras faculdades já entraram em contacto para organizar iniciativas do género ao longo do ano.

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