Accionistas do BCP dão luz verde a negociações com a Fosun
Conselho de administração vai voltar a reunir-se ainda este mês para analisar em detalhe as condições da oferta do grupo chinês.
Os grandes accionistas do BCP, como é o caso da Sonangol (com 17,8%), deram luz verde à comissão executiva liderada por Nuno Amado para iniciar negociações que permitam ao grupo chinês Fosun assumir 17% do capital da instituição portuguesa, tornando-se o maior accionista a par da petrolífera angolana.
Em reunião realizada nesta quarta-feira nas instalações do BCP, na Rua Augusta, em Lisboa, o conselho de administração, presidido por António Monteiro (que representa os interesses angolanos), veio ratificar a decisão dos executivos que consideraram “credível e não hostil” a proposta da Fosun.
Em causa está a compra directa de 16,7% do segundo maior banco português por aumento de capital reservado ao grupo chinês, que em Portugal já domina a Fidelidade e a Luz Saúde. Nesse caso, a Sonangol terá a sua presença diluída para um patamar ligeiramente inferior ao da Fosun, que já admitiu que poderá ir, numa fase posterior, até 30%, o que a tornará a accionista destacada. Caso se confirme a intenção, a Fosun pede para nomear até cinco administradores.
A luz verde foi confirmada através de um comunicado emitido pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Na nota, o BCP informa que “o seu conselho de administração analisou, em reunião ocorrida hoje [esta quarta-feira], uma recomendação da comissão executiva relativa à proposta de investimento recebida da Fosun”.
O conselho de administração “apreciou positivamente o interesse demonstrado pela Fosun e debateu linhas gerais do que poderão vir a ser os termos do investimento, tendo solicitado à comissão executiva que aprofunde as negociações, e que, logo que sejam esclarecidos os aspectos relativos às condições precedentes (…) solicite a imediata convocação de nova reunião do conselho de administração, a qual deverá ocorrer sempre antes do final do corrente mês de Setembro”, lê-se no comunicado.
Nas próximas semanas, a gestão do BCP, agora com o apoio da administração, vai dar continuidade à análise da proposta chinesa com vista a chegar a um “acordo”, em termos de capital, de preço e de condições de mercado, para depois ser submetido à aprovação da assembleia-geral. Só nessa altura o tema ficará clarificado.
A proposta dirigida pela Fosun no final de Julho a Nuno Amado vem dar resposta às necessidades de capital do BCP, que poderá, nomeadamente, pagar ao Estado parte do empréstimo de 750 milhões em CoCo’s que ainda está em divida. O BCP já pediu para reembolsar o Estado em 250 milhões, reduzindo a divida para 500 milhões.
Mas tudo indica que a operação com a Fosun não responderá a todos os problemas da instituição e é expectável que Amado avance com outras medidas para reforçar os capitais. Uma delas poderá envolver os accionistas. Para além da petrolífera Sonangol, o maior investidor, o BCP conta no seu capital com o espanhol Banco Sabadell, com 5,07%, o luso-angolano Interoceânico, com 2,06%, a EDP (dominada pela chinesa Three Gorges), com 2,71%, e o fundo norte-americano BlackRock (que pode ter acções parqueadas), com 2,22%,
Outro ponto que terá de merecer a atenção da Fosun é o dossier Novo Banco, que é crítico para o futuro do BCP. Isto, nomeadamente, se o comprador for o BPI (o que só acontecerá se a OPA do CaixaBank vencer) ou outra instituição que ponha em causa a sua relevância no mercado nacional. Por exemplo, BPI e Novo Banco juntos ficam com uma fatia do negócio próxima do BCP. No quadro actual, a Fosun não manifestou intenção de disputar o Novo Banco, mas a situação tenderá a alterar-se caso entre no BCP e este considere que a aquisição do Novo Banco faz sentido para a sua estratégia de crescimento.