Jesus garante que "empréstimo" de Cristiano já dava para equilibrar
Sporting começa fase de grupos em Madrid, frente ao detentor do título, sem medo de manter o seu estilo.
O Sporting já teve tempo para interiorizar a ideia de que só há um antídoto para a estreia mais dura que, em teoria, poderia imaginar-se na jornada inaugural da fase de grupos da Liga dos Campeões. Sempre na lógica de atrair o titã madrileno a uma armadilha onde o “leão” consiga nivelar os duelos e esbater as diferenças entre o campeão em título e um Sporting a ensaiar o regresso aos grandes palcos, Jorge Jesus prepara-se para lutar por uma exibição moralizadora, sem abdicar do sonho de incendiar o Bernabéu.
Se defrontar o detentor do troféu – perdão, de onze troféus – em território totalmente hostil não bastasse, o Sporting ainda terá que preparar-se para o embate emocional de rever um Cristiano Ronaldo implacável e empedernido mesmo face às próprias raízes.
E nem o facto do filho pródigo estar a regressar de paragem prolongada, provocada pela lesão na final do Campeonato da Europa, refreia a determinação que todos sabem estar-lhe incrustada nos genes e que em breve lhe valerá o ambicionado “tetra” como melhor jogador do planeta.
Para este problema, Jorge Jesus até apresenta uma solução: convencer o capitão da selecção nacional a passar-se para o lado dos "leões" para equilibrar a partida. Um desejo que Jesus prontamente reconhece ser impossível de satisfazer.
Para a abordagem ao contratorpedeiro “merengue”, Jorge Jesus reuniu 28 bravos, lançando logo à partida uma cortina de fumo na tentativa de aumentar a imprevisibilidade da estratégia delineada para Madrid.
O treinador português, que não se deixa iludir com os elogios recebidos, quer por Zidane quer por Futre – mostrando-se ainda assim feliz pelo reconhecimento, mesmo tendo noção de que quem esteve em duas finais da Liga Europa não é propriamente um desconhecido –, desmente, em certa medida, esta ideia de camuflagem, garantindo que não vai alterar o ADN pelo facto de defrontar o Real Madrid, que considerou apenas o mais forte dos últimos anos, justificando a opinião com o facto de os “merengues”, sob o comando de Zidane, não serem já apenas a soma das individualidades, mas uma equipa que funciona com a força do colectivo.
Jesus foi mais longe e arriscou expor-se um pouco mais, deixando pistas, como a de que privilegiará os jogadores com quem tem trabalhado no último ano (rebatendo a ideia de lançar os reforços), comentando abertamente a situação de Gelson Martins e Rúben Semedo, dois jovens na casa dos 20 anos que o treinador garante estrear no “onze” titular em plena Champions.
Em Madrid, Jesus admitiu, de resto, que defrontará “os melhores”, o que não infunde receio no grupo, até porque se quiser estar entre os melhores é preciso mentalidade e preparação, garantindo um Sporting de grande coragem.
Mesmo reconhecendo que o Real Madrid está num plano intocável para as restantes equipas do grupo, o treinador sportinguista está apostado em surpreender Zidane, ciente de que pode transferir praticamente toda a pressão deste jogo para o campo dos espanhóis, naturalmente obrigados a defender o estatuto de campeão europeu e o prestígio acumulado ao longo da história da competição num jogo inaugural em que farão as honras da casa a um Sporting animado pela liderança perfeita da Liga portuguesa.
Jesus acredita que a equipa tem capacidade para fazer uma fase de grupos “muito boa” e afirma mesmo que a ideia é “jogar para dois resultados: um óptimo, que seria a vitória, e outro bom, que passaria pelo empate”, sustentou, embora subscrevesse a ideia lançada por um jornalista espanhol, que passaria por fazer quatro pontos com o Real Madrid, nos dois jogos, e com isso assegurar os oitavos.
Jesus prometeu não descaracterizar o "leão", dizendo-se preparado para contrariar a ofensiva de uma linha letal, com Bale, Ronaldo, Morata ou Benzema, deixando ao critério do treinador do Real a forma de parar o ataque português, numa tentativa de lançar a discussão táctica que deixa a Zidane o ónus de decifrar o que vai na mente do treinador português, cuja personalidade não revela traços de submissão, mesmo admitindo que qualquer imprudência poderá converter-se em ataque “kamikaze”.
Perante qualquer cenário, Zidane manteve uma calma olímpica, respondendo a todas as questões, sem descortesias ou mudanças bruscas na leitura que faz de um jogo em que se apresenta praticamente na máxima força e como favorito indiscutível.
Fábio Coentrão, Isco e Keylor Navas são a excepção, continuando indisponíveis, por lesão. Aos 28 de Jesus, Zizou respondeu convocando 19 “galácticos”, sem lamentar-se do castigo imposto ao Real que não permitiu acrescentar novas estrelas ao plantel.
Apenas a incerteza relativamente à “duração” de Cristiano Ronaldo, que esteve praticamente dois meses sem competir, mesmo que o português garanta estar pronto para 90 minutos ao nível máximo.