Assunção Cristas surpreende PSD e anuncia candidatura a Lisboa
Passos Coelho não foi avisado, apesar de ter havido uma tentativa de contacto por parte da líder do CDS-PP.
Com o PSD às voltas em torno de um nome forte para a capital, Assunção Cristas jogou com o efeito surpresa e anunciou que será candidata à Câmara Municipal de Lisboa, nas autárquicas de 2017. Fê-lo com o argumento de que quer ser “um exemplo de mobilização” do CDS-PP. O anúncio, durante a reentrée do partido em Oliveira do Bairro, Aveiro, apanhou de surpresa o líder do PSD, Passos Coelho, e acabou por acontecer sem directos televisivos.
No distrito de Viseu, Passos Coelho reagiu pouco tempo depois aos jornalistas. Não, não foi informado previamente porque não ouviu a tentativa de contacto telefónico por parte de Assunção Cristas pouco antes do anúncio.
O líder do PSD desejou "muito democraticamente a uma aliada a maior sorte e o maior sucesso". E voltou a remeter uma decisão sobre candidatos para mais tarde. “"Evidentemente que o PSD, na altura própria, tomará a sua posição em matéria quer de Câmara de Lisboa, quer de outros municípios no país. Este não é o momento de estarmos a fazer o anúncio de escolhas que só serão feitas mais tarde", disse, numa curta declaração.
Num comício-festa, a líder do CDS justificou, em parte, a sua candidatura com um argumento interno. “Quero dar o exemplo nesta mobilização do nosso partido [para as autárquicas] e é por isso que darei o meu exemplo sendo candidata à presidência da Câmara Municipal de Lisboa”, disse Assunção Cristas, citada pela Lusa. A líder do CDS-PP sublinhou que Lisboa e os lisboetas merecem "um projecto forte, mobilizador, grande e de futuro".
Reconhecendo a “dificuldade” das eleições autárquias “em Lisboa e no resto do país”, a ex-ministra da Agricultura sustentou que o seu partido tem “as melhores ideias e as melhores propostas”. Apesar de ser natural de Luanda, Assunção Cristas recordou que foi em Lisboa que cresceu, estudou e começou a trabalhar: “Tenho o vento de Lisboa colado à minha pele e a água do Tejo colada à minha alma”.
A líder do CDS-PP não esqueceu as preocupações que muitos lhe apontaram sobre o risco de haver eleições antecipadas. “Há quem diga que é preciso cautela porque que vêm aí legislativas. Não nos podemos preocupar com o que não depende de nós”, argumentou.
O anúncio da líder do CDS-PP acontece dois dias depois de ter ouvido muitas opiniões desfavoráveis a essa candidatura durante uma reunião da comissão política nacional.
Nessa reunião, dirigentes argumentaram que a líder do partido não se devia expor e que não tem nada a provar na sua liderança, até porque a transição foi tranquila. Outro motivo ouvido na sala teve a ver com riscos. No caso de haver um mau resultado eleitoral, Assunção Cristas ficaria fragilizada interna e externamente.
Os dirigentes lembraram ainda que não seria o partido a decidir, a opção seria pessoal e caberia à própria. Na origem desta ideia esteve uma recente entrevista à revista Sábado em que Cristas sugeria que houvesse um apelo do partido para avançar para Lisboa. Ao que o PÚBLICO apurou, essa vaga de fundo não se ouviu na sede do partido.
PSD apoiará?
A questão está agora em saber se o PSD ainda pode vir a apoiar a candidatura de Assunção Cristas, mas a hipótese parece muito pouco provável, já que o partido foi surpreendido com o anúncio. Por outro lado, muitos sociais-democratas viam como difícil o partido não apresentar um candidato próprio à câmara de Lisboa.
A hipótese de Assunção Cristas não desagradava, no entanto, à distrital de Lisboa, até porque a líder do CDS aparecia muito bem colocada em sondagens internas. Os sociais-democratas ainda não desistiram de Pedro Santana Lopes, actual provedor da Santa Casa da Misericórdia, mas qualquer que seja a opção, só será anunciada nos próximos meses, como reiterou esta noite Passos Coelho, depois de esta semana já ter sentido a necessidade remeter a decisão para mais tarde para tirar pressão do partido.
O timing sobre Lisboa entre os dois partidos está desencontrado, mas Passos Coelho e Assunção Cristas acertaram celebrar depois de Outubro um acordo-chapéu para as coligações autárquicas em todo o país. As conversações entre PSD e CDS já estão em curso ao nível das distritais.
Desde o congresso em que sucedeu a Paulo Portas na liderança do CDS, em Março deste ano, que Assunção Cristas sugeriu que podia ser a própria a liderar uma lista à capital ao dizer que Lisboa precisava de uma candidatura “forte, ambiciosa e mobilizadora”, palavras que voltou a utilizar neste sábado no anúncio da candidatura. Segundo fontes centristas, a ex-ministra da Agricultura mostrou sempre vontade em avançar para a capital independentemente do PSD.