Diabéticos já têm alternativa à tradicional picada nos dedos
Novo sistema para medir glicose chega ao mercado na próxima semana, mas os custos ainda são elevados.
A partir da próxima semana, os diabéticos vão passar a ter disponível no mercado português um novo aparelho que permitirá medir os níveis de glicose no sangue sem terem de estar sujeitos à habitual picada no dedo.
O novo sistema é simples e permite “medir, armazenar e registar os dados relativos aos níveis de glicose”, disse nesta quinta-feira José Luís Medina, presidente da Sociedade Portuguesa da Diabetologia (SPD), na apresentação do novo produto comercializado pela farmacêutica Abott.
O presidente da SPD destaca o facto de o novo sistema permitir aos portugueses uma autovigilância mais efectiva da doença, além de “que pode ser utilizado por crianças a partir dos quatro anos” de idade.
O sistema é composto por um sensor redondo que mede 35 por cinco milímetros, que é instalado na parte posterior do braço, e por um aparelho que permite a sua leitura. O sensor mede os níveis de glicose a cada minuto e, ao ser feita a leitura, é possível ao doente perceber como este valor se alterou nas últimas oito horas, o valor no momento da leitura e ainda a tendência para as próximas horas tendo em conta os números registados anteriormente.
Através da verificação dessa tendência torna-se possível ao doente tomar as medidas necessárias para que os níveis de açúcar no sangue estabilizem, evitando que estes entrem em hipoglicemia e diminuindo os episódios de urgência e internamentos. Os dados poderão ser também lidos numa aplicação gratuita para telemóvel que deverá lançada dentro de dois meses.
Também presente na cerimónia de lançamento do novo produto em Portugal, Francisco Carrilho, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, lembrou por seu lado que “o Estado gasta 450 milhões de euros só nos internamentos por diabetes” e defendeu que uma eventual comparticipação do novo sistema — com a designação comercial de FreeStyle Libre —“permitirá uma redução de custos a cinco ou dez anos”, aliviando o peso do tratamento dos doentes diabéticos do tipo 1 e 2 que têm de administrar diariamente várias doses de insulina.
É que o novo sistema não sai barato aos doentes: cada sensor custa quase 60 euros e tem a duração de 14 dias, o que representa um total de 120 euros de despesas mensais. Acresce a este valor o preço do próprio aparelho para ler o sensor, que ascende a 170 euros embora inclua os dois primeiros sensores. No sistema actual da tecnologia de tiras que obriga a picadas nos dedos, o utente não paga além de sete euros por mês porque o Estado comparticipa em 85% estes produtos para os diabéticos, além de comparticipar a 100% os tradicionais leitores das tiras que medem a glicémia.
A Abbot já iniciou contactos com o Infarmed com vista a uma eventual comparticipação, mas não há ainda qualquer decisão tomada nesse sentido.
Inês Rodrigues não é portadora de diabetes mas Rafael, o seu filho de 11 anos, tem a doença diagnosticada há oito. Até Abril deste ano, quando adquiriram o aparelho, o menino tinha de picar o dedo cerca de dez vezes por dia e “mesmo assim andava sempre descontrolado”, conta a mãe, que com este aparelho faz ao filho “cerca de 100 a 150 medições diárias sem sequer ter de picar o dedo”, o que permite “um muito melhor controlo e uma melhor qualidade de vida”.
Jenifer Duarte também é diabética e tem em casa mais uma pessoa com a doença. Ambos adquiriram o aparelho no estrangeiro mas os custos são elevados, o que os faz continuar a utilizar o método antigo. No entanto, prevêem “fazer isto de vez em quando, durante 15 dias ou um mês”, para verificarem quais os ajustes necessários que têm de fazer nas doses de insulina a tomar.
Em Portugal, cerca de um milhão de pessoas vive com diabetes e mais dois milhões têm risco elevado de vir a desenvolver a doença.
Texto editado por Tiago Luz Pedro