Oito activistas angolanos queixam-se de agressões da polícia
"Levámos pontapés e chapadas", diz Luaty Beirão.
Um grupo de oito activistas políticos angolanos, entre eles o luso-angolano Luaty Beirão, foi detido neste sábado pela polícia em Luanda durante duas horas, quando tentavam visitar um preso numa cadeia da cidade e queixam-se de terem sido agredidos.
Depois de a notícia ter sido avançada pelo Observador, Luaty Beirão disse à Lusa que o grupo foi agredido, salientando que "toda a gente sofreu, levou alguns pontapés e chapadas". "Eu apanhei umas três chapadas", contou o activista, que foi detido juntamente com Divac Freire, Laurinda Gouveia, Nuno Dala, Albano Bingo, Rosa Conde, Graciano Brinco e Elizabete Campos.
Os incidentes ocorreram quando os oito activistas tentavam visitar Francisco Gomes Mapanda, conhecido por "Dago Nível", que está preso na cadeia de Viana. Alegam que chegaram ao local às 10h e que às 11h ainda não tinham sido distribuídas as senhas para a visita, que terminava ao meio-dia.
"Disseram-nos que tínhamos que ir para a porta principal e um comandante da polícia disse-nos que tínhamos que ir embora, mas nós não gostamos desse tipo de conversas", acrescentou Luaty Beirão, acrescentando que exigiram uma justificação. Segundo o rapper, foram apresentadas três versões diferentes sobre as razões de não poder haver visitas hoje.
"Entraram e fecharam a porta e começámos a bater para ver se eles abriam. Não só abriram como veio todo o tipo de força de intervenção a dizer-nos para sairmos dali", explicou Luaty, afirmando que, de seguida, foram agredidos.
De acordo com Luaty Beirão, durante a semana houve outros protestos e o desejo do grupo é que Dago Nível seja libertado, salientando que já foi cumprida metade da pena.
"Aquilo que ele fez no tribunal, o Nito também fez, e o Nito está solto. Dualidade de critérios? Fomos mostrar solidariedade, fomos ali em protesto nos primeiros dias, com cartazes, coisas muito simples, muito singelas, ainda assim os polícias acham que têm de nos tirar. Hoje era só para visitar, não era protesto nenhum", frisou.
O grupo que foi levado pela polícia para o comando de divisão de Viana, foi convidado depois de 40 minutos a deixar as instalações, segundo Luaty Beirão.
O activista disse que tentaram apresentar uma queixa contra os polícias agressores, mas foram aconselhados a fazê-lo na área de inspecção do comando geral da Polícia, para onde se deslocaram dois membros do grupo para abertura de um processo.
Dago Nível encontra-se a cumprir, desde Março, uma pena de oito meses de prisão por ter gritado em tribunal, durante o julgamento do grupo de 15+2 activistas, que tudo aquilo era "uma palhaçada". Estes activistas foram condenados por tentativa de rebelião, depois de terem sido presos quando liam um livro sobre derrubar ditaduras
Os 15+2 foram libertados a 29 de Junho por decisão do Tribunal Supremo, que deu provimento ao habeas corpus apresentado pela defesa, pedindo que aguardassem em liberdade o resultado dos recursos da sentença da primeira instância. Acabariam por ser abrangidos por uma amnistia decretada pelo Governo de Luanda em Junho.