APAV lança campanha dirigida a homens vítimas de violência doméstica
Só em 2015 foram apresentadas 452 queixas por homens, mais 14,4% do que em 2013.
Entre 2013 e 2015 a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou 22.373 processos de apoio relacionados com violência doméstica. Em 1240 deles as vítimas eram do sexo masculino. Só no último ano foram apresentadas 452 queixas por homens, mais 14,4% do que em 2013. Face a estes números, a associação lançou uma campanha especial. Destina-se a sensibilizar a população para o fenómeno da violência doméstica contra os homens.
Daniel Cotrim, assessor técnico da direcção, explicou à Lusa que a APAV decidiu avançar porque este fenómeno também faz parte da realidade que compõe a violência doméstica. “Sabemos que estatisticamente as mulheres ainda são mais vítimas deste crime do que os homens, mas aquilo que temos vindo a reparar nos nossos números é que entre 2013 e 2015 houve um aumento de quase 15% de denúncias de homens adultos vítimas de violência doméstica junto dos nossos gabinetes de apoio à vítima.”
A campanha pretende “sensibilizar para as questões do medo e da vergonha, que surgem como principal barreira ao primeiro pedido de ajuda”.
A maioria dos processos que chegam à APAV com vítimas-homens dizem respeito a relações conjugais, totalizando 667 vítimas ou seja 54 % das denúncias. Destas, 75% dos autores das agressões eram companheiros ou maridos/mulheres das vítimas e 25% eram ex-companheiros ou ex-cônjuges. Há também um número significativo de casos onde a violência surge nas relações entre pais e filhos (30%). São dados estatísticos divulgados pela associação na sequência do lançamento da campanha.
Os homens com idade superior a 65 anos são uma fatia importante das vítimas de violência doméstica, representando 27,6% das queixas. Por sua vez, os agressores, na sua maioria do sexo feminino (60,8%), têm idades compreendidas entre os 35 e os 54 anos (32,2%).
Segundo a APAV mais de 60 % das denúncias estão relacionadas com maus-tratos psíquicos e físicos sendo que os maus-tratos psíquicos representam grande parte dos casos (38,2%).
“Os homens vítimas de violência doméstica podem ser alvo de comportamentos de controlo, agressões físicas e psicológicas” mas “o receio do descrédito e da humilhação”, por parte de amigos, familiares e até de instituições policiais impede, muitas vezes, a decisão da denúncia da vitimação, afirma a APAV em comunicado.
Daniel Cotrim acrescenta: “É preciso que os homens se libertem deste peso do medo e da vergonha de pedirem ajuda, de terem medo de serem humilhados, de que não acreditem neles junto das autoridades ou das instituições.” Felizmente, acrescenta, “muito se avançou e muito se aprendeu relativamente a estas questões”.
A campanha estará disponível no site e no Facebook da associação, existindo também um vídeo no YouTube.
Texto editado por Andreia Sanches