João Valente monta tenda na Feira da Luz há 40 anos

Nascido numa carroça, o feirante mais antigo tem assistido à transformação desta festa de Lisboa.

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João Valente instala-se todos os Verões nesta feira de Carnide. A população já o conhece Nuno Ferreira Santos

Para João Valente, o final do Verão não seria o mesmo sem a Feira da Luz. Montar a roulotte naquele jardim de Carnide é uma tradição que se cumpre há 40 anos. E pode-se dizer que a sua vida começou nas feiras. Os seus pais eram feirantes e andavam de terra em terra. Há 61 anos, acabou por nascer numa carroça. 

O hábito de vir à Feira da Luz começou nos seus primeiros anos de vida e foi também aqui que foi crescendo. Chegou a trabalhar como electricista em Lisboa, mas logo que terminava o turno, dirigia-se para a sua barraca. É ainda em mãos com o antigo ofício que o encontramos. Valente de nome, mas franzino de corpo, João sobe à árvore para verificar a ligação eléctrica da sua roulotte. “Uma vez fui eu que desmontei os contadores todos aqui da feira”. Foi também numa das feiras que conheceu a sua mulher. E o negócio das pipocas. “Os meus sogros é que faziam pipocas. Quando eles terminaram, herdei o material deles.”

Desses tempos já passados, recorda o senhor Araújo que distribuía os lugares da feira pela antiguidade de cada feirante. E faz questão de relembrar os roubos no recinto. Se agora o Jardim da Luz está repleto de stands, há 30 anos estava preenchido por barracas de pano. “Os assaltantes iam por trás, cortavam o pano e tudo o que tivessem à mão roubavam”. Depois lá se começou a pensar numa solução e colocaram-se redes de ferro entre os panos. “Hoje o espaço está mais seguro, pois há polícias municipais”, esclarece.

Sempre conheceu a roulotte das pipocas debaixo daquela árvore, em frente à Igreja. Ainda se lembra quando pagava o terreno com senhas de casa-de-banho. De todos estes os anos vão ficando as pessoas. Já começa a ver caras novas, mas também não esquece o Carlos dos plásticos e a predominância de vendedores de loiças .E também já vai conhecendo os moradores de Carnide. “Alguns já estão à espera que eu venha."

No Inverno não vende pipocas, com uma excepção: a passagem de ano no Terreiro do Paço. O tempo de monotonia durante esta estação e a sua curiosidade levaram-no a Itália. João Valente queria saber como se fabricavam as roulottes e isso não era possível em Portugal. A viagem foi há mais de 20 anos, juntamente com um colega que tinha pistas de carrinhos de choques. Viram motores, pistas e ganharam motivação para fabricar as próprias barracas. “Depois comprei o inox e mandei cortar, antes de juntar tudo.”

O calendário no Verão é bem mais preenchido. Começa em Maio e faz muitas das festas em Lisboa e nas proximidades. “Fiz os arraiais de Lisboa 40 anos seguidos.” No final de Agosto, vem sempre parar à Feira da Luz. Desde que o evento passou para a competência da Junta de Freguesia de Carnide, João Valente refere que o espaço melhorou e os divertimentos voltaram. “Na altura em que era da competência da câmara de Lisboa, não permitiam muitas atracções”, relembra, destacando o momento em que proibiram o bingo.  

“Estão quentinhas!”, confessa que este é o único pregão que usa para atrair clientes. De resto, as pipocas e as farturas, que tem num outro espaço do recinto, vão saindo. Mais pela noite e pelo fim-de-semana. E não consegue esconder. Este ano tem uma queixa: “Em 40 anos, estou no pior lugar da feira ”, diz com revolta sobre o local onde colocaram a roulette das farturas. Pelo espaço de venda de farturas e pelo das pipocas paga quase 6000 euros. 

Ensaio para a futura Feira Popular de Lisboa

“É sempre um momento tenso”, diz o presidente da junta de Freguesia de Carnide, Fábio Sousa, sobre as reclamações dos feirantes quanto ao espaço e ao preço que pagam. “Acham sempre que ficam no pior local.” Fábio Sousa não nega que tenham razão, mas assume a dificuldade em agradar a todos, neste que "é o momento mais emblemático em Carnide".

A junta de freguesia organiza o evento desde 2014 e a partir daí, o número de feirantes tem vindo a aumentar. Este ano, há 104 feirantes, 15 estreantes, e 30 instituições de Carnide. O orçamento ronda os 200 mil euros. O autarca revela que a junta tem tido o retorno total do investimento, devido aos patrocínios e pagamentos de stands.

Este é mais um ano de novidades na Feira da Luz. No stand da junta de freguesia, há um espaço dedicado à futura Feira Popular de Lisboa, que se vai situar em Carnide. As pessoas podem dar a sua opinião e "experimentar" andar numa montanha russa através de óculos de realidade virtual. “No fundo estamos a fazer um pequeno ensaio para a feira popular”, confessa. As visitas ao centro histórico de Carnide são outros dos destaques, juntamente com a actuação de Bruno Nogueira e Manuela Azevedo, com Deixem o Pimba em Paz, no dia 17 de Setembro. As festividades terminam no dia 25 de Setembro. 

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