Ir dos bancos da Universidade de Verão do PSD para o Parlamento

A partir de hoje, uma centena de jovens participa na Universidade de Verão do PSD. Três deputados do partido contaram ao PÚBLICO como foi participar na tradicional rentrée social-democrata no passado.

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A Universidade de Verão do PSD é já uma tradição na vida política portuguesa MIGUEL MADEIRA/ARQUIVO

Margarida é conhecida como a mais jovem deputada do Partido Social-Democrata nas bancadas da Assembleia da República. Com 26 anos, lembra ao PÚBLICO como materializou o seu interesse na política, influenciado por debates familiares, inscrevendo-se em 2006 na Universidade de Verão do PSD, que descobriu através da internet. “Não estava na convicção de que eles me iam aceitar, porque tinha 16 anos e não conhecia ninguém”, confessa. Mas foi aceite, e partiu para Castelo de Vide.

Um dos trabalhos de grupo marcou-a especialmente. Idealizado por Francisco Pinto Balsemão, o tema gerou uma série de discussões no seu grupo, formado por pessoas de várias faixas etárias. “A ideia era pegar no programa do partido e nas concepções das estrelas, planetas, cometas e o que cada uma destas coisas representa, e tentar representar o programa do partido num planetário”, explica. O objectivo era desenhar e debater 'paralelismos ideológicos', como a comparação da família a um planeta, por ser robusto, ou a uma estrela, por ser variável ao longo da vida."

Dos oradores, ficou-lhe marcada a memória de Leonor Beleza e de Mónica Ferro, que discursou num jantar-conferência sobre relações internacionais e direitos humanos. “E é engraçado como agora na Assembleia estou a trabalhar muitos dos temas que ela trabalhava, na área da cooperação e nos temas da igualdade”, acrescenta. A jovem deputada admite que estava “longe de imaginar que dez anos depois estaria nalgumas áreas a fazer o mesmo tipo de trabalho que Mónica Ferro e a ter a possibilidade de muitas das vezes recorrer a ela”.

Tal como aconteceu com Margarida Balseiro Lopes há dez anos, em 2016, vários jovens com interesse na social-democracia vão ter a oportunidade de discutir política e ver alguns dos seus ídolos da política actual em carne e osso, entre os dias 29 de Agosto e 4 de Setembro, na XIV Universidade de Verão do PSD em Castelo de Vide. Ao PÚBLICO, mais dois deputados sociais-democratas - Ricardo Baptista Leite e Joana Barata Lopes - falaram acerca da sua experiência enquanto participantes ou organizadores de eventos anteriores.

Joana Barata Lopes foi colega de Margarida na edição de 2006 e recorda especialmente a presença de Durão Barroso. “Era a quem nós queríamos fazer mais perguntas”, conta ao PÚBLICO. A social-democrata acabou por se envolver na organização de edições posteriores, das quais destaca a heterogeneidade nos grupos de participantes, factor que, na sua opinião, contribui para uma maior aprendizagem política dos jovens devido à presença de diferentes contextos pessoais. “Podemos ter a melhor ideia, podemos ser geniais, mas se não conseguirmos interagir com pessoas que são diferentes de nós, com vivências diferentes da nossa, não vamos conseguir fazer passar a nossa mensagem”, explica Barata Lopes. Segundo a deputada, chegam a Castelo de Vide, neste período, tanto pessoas ligadas à estrutura partidária como não militantes.

Para a sua colega de "universidade" Margarida Balseiro Lopes, a experiência de Castelo de Vide é uma “iniciativa muito marcante”. Confessa que lhe guarda carinho, não só por fazer parte da organização, mas também por poder acompanhar o percurso de vida das pessoas que foi conhecendo. Aponta ainda que sente diferenças positivas desde 2006. É o caso da criação da rede UVTV ou da parceria com o Instituto Português do Sangue nas últimas duas edições. “Todas as edições são diferentes, o que é ainda mais engraçado para mim”, conclui.

Joana tem uma visão semelhante, apontando ainda o rigor com que as opiniões dos alunos são encaradas. “Aquilo que os alunos dizem é de facto tido em consideração, é alvo de estudo e reuniões para se perceber como é que se pode melhorar e reparar aquilo para o qual eles vão alertando”, esclarece.

O deputado Ricardo Baptista Leite passou por Castelo de Vide na primeira edição da universidade, em 2003, e recorda a experiência como uma iniciativa que expandiu o seu entendimento político e rede de contactos. Interessado em política desde a infância passada no Canadá, acabou por se identificar durante o curso de Medicina com o pensamento de Sá Carneiro, após ler os manifestos partidários. Quando se inscreveu na Universidade de Verão, tinha-se tornado militante do PSD recentemente, fruto de um encontro casual com Marcelo Rebelo de Sousa numa fila de um notário em Oeiras. “A minha mãe já sabia que eu tinha interesse no Partido Social Democrata, mas eu não conhecia ninguém. Ela transmitiu isso ao professor e passadas duas semanas recebi em casa uma ficha de militante assinada por ele”, relembra.

Um vez lá, o jovem que entretanto chegou a deputado e vereador da Câmara de Cascais- provando que a universidade, afinal serve para alguma coisa - quis aproveitar a oportunidade para conhecer outras pessoas. “Eu já tinha começado a conhecer algumas pessoas a nível da JSD e do PSD de Cascais, mas decidi candidatar-me porque seria uma oportunidade de conhecer mais pessoas e de me envolver mais activamente na vida partidária”, explica Baptista Leite. Encontrou uma universidade “muito bem organizada”, que funcionou como um “espaço de troca de ideias não restritas à visão do enquadramento ideológico social-democrata”. Quem o deputado assegura não esquecer é Marcelo Rebelo de Sousa, cujos discursos sobre a social-democracia e a ideologia no poder o cativaram, já enquanto organizador, em várias edições do evento.

Para Baptista Leite, a iniciativa é “um momento positivo na vida partidária, em que todas aquelas questões a que muitas vezes os partidos são associados, particularmente as guerras internas, são deixadas de lado.” Ali, durante uma semana, os jovens podem discutir política de forma aprofundada, com o foco na melhoria do país, e podem até colher frutos para o seu futuro político, como aconteceu com os três ex-alunos que falaram ao PÚBLICO. “É uma experiência extraordinária, porque nos dá aquilo que de melhor a política tem, que é o debate de ideias e a possibilidade de aprendermos com as pessoas que sabem mais do que nós. E na altura eu tinha 16 anos, portanto ainda mais achava que tinha mesmo muito a aprender. E ainda bem, evidentemente”, diz Margarida.

Mas não só de debate se faz a Universidade de Verão. Joana refere a formação de quadros políticos, que considera ser, paralelamente à “excelência da formação”, de uma grande importância. “A Universidade de Verão imprime nas pessoas que nela participam uma primeira noção do rigor e vontade de fazer melhor, que para mim é essencial”, sustenta.

Este ano, a rentrée social-democrata irá incluir tanto oradores estreantes como outros que regressam de edições anteriores. O discurso inaugural cabe ao director da Universidade de Verão, o eurodeputado Carlos Coelho. Do PSD, estarão presentes Maria Luís Albuquerque, Carlos Moedas, Carlos Pimenta, Jorge Moreira da Silva e Paulo Rangel, entre outros.

Mas também o ex-Presidente da Assembleia da República socialista Jaime Gama, o refugiado sírio Nour Machlah e o presidente do partido grego Nova Democracia, Kyriakos Mitsotakis, têm discursos agendados. No dia 31, a maestrina Joana Carneiro, da Orquestra Sinfónica Portuguesa, será a oradora durante um jantar-conferência.

O encerramento da Universidade de Verão caberá, como tem acontecido no passado, ao líder do PSD Pedro Passos Coelho, no dia 4 de Setembro. A organização é levada a cabo pelo PSD, pela JSD, pelo Instituto Sá Carneiro e pelo PPE.

Texto editado por Sónia Sapage

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