Dirigentes que subscreveram petição para referendo anti-Maduro vão ser demitidos
Presidente da Venezuela prometeu uma purga maior do que a da Turquia. Os funcionários públicos que concordaram com a convocação do referendo revogatório correm o risco de ser despedidos.
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, já tinha ameaçado promover uma “purga maior do que a da Turquia” para punir aqueles que, na sua opinião, “ultrapassaram os limites do golpismo”. E agora avançou mesmo, dando ordens para o despedimento dos dirigentes de topo de cinco ministérios que subscreveram a petição para a convocatória de um referendo revogatório do seu mandato, promovida pela coligação opositora Mesa de Unidade Democrática.
A ordem de despedimento foi confirmada pelo porta-voz do Partido Socialista Unido da Venezuela e autarca do município de Libertador, Jorge Rodríguez, que acrescentou que outros funcionários públicos que assinaram a petição a favor do referendo para a saída de Maduro também poderão ser demitidos.
“Por ordem do Presidente Nicolás Maduro, foram citados cinco ministros para estabelecer, de forma categórica, que não podem exercer cargos directivos de ministérios, instituições públicas, governos estaduais e municipais pessoas que estejam contra a revolução bolivariana e o Presidente”, anunciou Jorge Rodríguez, precisando que na sequência das instruções presidenciais abriu-se um período de 48 horas para a identificação e demissão dos dirigentes em ministérios como as Finanças, o Trabalho, a Indústria, a Alimentação e no gabinete da Presidência.
“Estes são funcionários que maltratam o povo, que estão a insultar o Governo, do qual fazem parte como responsáveis. São eles que estão a boicotar o trabalho do Presidente”, acusou Rodríguez.
A petição foi entregue em Maio ao Conselho Nacional Eleitoral com quase dois milhões de assinaturas. Depois de vários compassos de espera, a autoridade eleitoral reconheceu a sua validade, e iniciou a segunda etapa do processo administrativo, que deverá decorrer apenas no mês de Outubro, e exige uma nova recolha de assinaturas. Desta vez, a MUD dispõe de um período de apenas três dias para confirmar a intenção de pelo menos 20% dos eleitores do país (cerca de quatro milhões de pessoas) em participar no referendo.
A purga presidencial e ameaça de futuras demissões é encarada pela oposição como uma inadmissível manobra de pressão, e ao mesmo tempo um gesto desesperado para a sobrevivência do regime de Maduro, que a braços com uma crise económica, energética e de segurança sem precedentes, viu a sua popularidade cair para a casa dos 20%.
Para não perder o ímpeto, a oposição convocou para o próximo dia 1 de Setembro a “maior mobilização da História” da Venezuela, para mostrar a todo o mundo “o tamanho do descontentamento que existe neste país” e assinalar o “início da derrota deste regime”, segundo o secretário-geral da MUD, Jesús Torrealba.
Se a oposição conseguir recolher quatro milhões de assinaturas, avança-se para a derradeira etapa, de marcação da data e realização da consulta popular – que apenas resultará na perda de mandato de Nicolás Maduro se essa opção obtiver o mesmo número de votos depositados no actual Presidente nas eleições de Abril de 2013.
Para o mesmo dia 1 de Setembro, o regime anunciou uma “contra-ofensiva revolucionária junto do poder popular”, com o Presidente Nicolás Maduro a convocar os seus apoiantes para defender o Governo da “escalada da guerra não convencional” que foi montada pela MUD. De acordo com Jorge Rodríguez, à “tomada de Caracas” prometida pela oposição, a militância chavista responderá com a “tomada da Venezuela”.
Numa carta endereçada ao líder de oposição Leopoldo López, que viu a justiça venezuelana ratificar a sua condenação a uma pena de 14 anos de prisão por incitamento à violência, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, lamentou o “fim da democracia no país”, onde segundo disse se transpôs um umbral: “Hoje não resta nenhuma liberdade fundamental, nenhum direito cívico ou político na Venezuela. É a intimidação política que impera”, escreveu Almagro.