Estas luzes

Estas luzes do fim de Agosto deitam sombras insuportáveis sobre o futuro próximo.

Às vezes é preciso ser-se críptico para se ser entendido. A simplicidade é bonita mas esconde muito. Os nossos olhos não são como máquinas fotográficas, nem microscópios ou telescópios: apanham tudo sem saber o que seleccionar. Estão sempre acesos. O fogo de ver é existir.

É como os crepúsculos de Agosto: estas luzes, que discutem infinitamente a superioridade das cores-de-rosa sobre as cores-de-laranja, nunca mais acabam, graças a Deus. A festa festeja-se quando começam.

Olho para estes céus e sou incapaz de transcrevê-los, tal é o pasmo. As palavras e o escrever parecem grosseiras ao pé de tal acontecer. São tão tardias que apetece desistir delas. A beleza, tradicional e previsível, também se define através da incapacidade de falar acerca das coisas verdadeiramente belas.

Estas luzes do fim de Agosto deitam sombras insuportáveis sobre o futuro próximo, necessariamente pior, e o passado que nunca conseguimos ultrapassar, por lá permanecermos, incapazes de conceber que poderíamos melhorar.

Antes da última semana de Agosto os corações portugueses começam a arder quando mais esperavam apagar-se. As luzes destes céus são tão violentas que nos obrigam a abdicar de qualquer opinião acerca delas.

Estas luzes que agora chegam, no fim de Agosto, vêm avisar-nos que devemos ser mais claros. Já que nunca poderemos ser salvos, vale mais perdermo-nos com a glória de nos termos sacrificado pela felicidade.

É com a maior felicidade que morremos — e nascemos outra vez.

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