Atletismo tem esperanças no Rio, sobretudo fora do Engenhão

As formações femininas da maratona e da marcha são as mais bem colocadas para dar posições de topo a Portugal.

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Sara Moreira será uma das representantes portuguesas na maratona FABRICE COFFRINI/AFP

O atletismo é o único desporto que deu a Portugal títulos olímpicos, quatro ao todo. Uma vez mais, o primeiro desporto olímpico é aquele que leva aos Jogos do Rio de Janeiro o maior número de atletas dentro da delegação global de Portugal, superando uma vintena de elementos, mas convirá realçar que após a pequena euforia que se seguiu aos resultados dos Europeus de Amesterdão não deverá, nem poderá mesmo, esperar-se uma tradução directa do que aconteceu na Holanda para os resultados no Brasil.

A melhor maneira de explicar isso, de forma paradigmática, é a prova do tripo salto feminino, em que Portugal apresenta duas atletas em grande forma: Patrícia Mamona, campeã europeia em Amesterdão, com 14,58m, e Susana Costa, quinta com 14,34m, portanto, ambas com recordes pessoais. As portuguesas irão competir numa prova em que as três melhores do mundo, actualmente, não são europeias, dando pelos nomes de Caterine Ibargüen, da Colômbia, Yulimar Rojas, da Venezuela, e Olga Rypakova, do Cazaquistão. Ibargüen e Rojas são as duas melhores do ano e as únicas em 2016 acima dos 15 metros - Ibargüen, em quatro anos, desde os Jogos de Londres (onde foi segunda atrás de Rypakova) só perdeu uma prova, e assim fica tudo dito. Claro que não há impossíveis, mas a tarefa é gigantesca para as duas lusas, ainda que ambas, e Susana Costa em especial, pareçam não ter atingido os seus limites.

Há, claro, o triplo masculino também, e nele estará Nelson Évora. A época do campeão olímpico de Pequim em 2008 tem sido algo pálida, e depois do quarto lugar nos Mundiais de pista coberta, em Março, Évora não voltou a encontrar o caminho dos 17m. Porém, Nelson insiste que está fisicamente em forma e fica sempre a esperança que, de um momento para o outro, possa desbloquear a sua capacidade.

Porque parece tratar-se disso mesmo, de um bloqueio decorrente da pressão de reencontrar os caminhos da escala 17m. Com tanta ânsia, as coisas não têm saído. O americano Christian Taylor, líder do ano com 17,78m feitos há pouco tempo, é favorito incontestado, e os "ianques" têm também em Will Claye, segundo do ano (17,65m), outra arma fortíssima. Mas um Évora ao seu melhor nível terá de ser tido em conta para as medalhas. A condição em que se apresentar o português torna, assim, a prova do triplo masculino numa grande incógnita.

Será fora da pista do Engenhão, o famoso estádio dos Jogos, que as coisas poderão ser mais favoráveis às cores portuguesas. A formação feminina da maratona é de grande luxo, englobando Sara Moreira (recorde pessoal de 2h24m49s), Ana Dulce Félix (2h25m15s) e Jéssica Augusto (2h24m25s). Sara foi campeã europeia da meia-maratona em Amesterdão, há um mês, Jéssica foi então segunda, e Dulce foi também segunda nesses Europeus nos 10.000m, com recorde pessoal. Todas estão em plena forma e não há como não ter esperanças no seu desempenho, até porque estão ainda algo distantes dos seus limites.

É claro que os grupos das duas superpotências africanas são fortíssimos e, à partida, limitam as expectativas das outras formações. O Quénia apresentará Visiline Jepkesho, vencedora neste ano em Paris, com 2h25m53s, Helah Kiprop, terceira da época com 2h21m27s, e Jemima Sumgong, vencedora em Londres, em Abril, com 2h22m58s. A Etiópia traz a sua campeã mundial do ano passado, Mare Dibaba, sexta em Londres nesta época, Tirfi Tsegaye, a líder mundial de 2016, com 2h19m41s, e Tigist Tufa, segunda em Londres com 2h23m03s. E depois há que contar ainda com as japonesas, as americanas e uma ou outra do leste da Europa, como a bielorrussa Olga Mazuronak, e pelo menos com a francesa Christelle Daunay, a actual campeã europeia.

Muitas candidatas para poucos lugares… Mas, e isto aplica-se sobretudo às africanas e tem sido demonstrado em grandes campeonatos, a maratona olímpica é muito diferente das maratonas comerciais, nas quais dominam sem partilha. Não há lebres, o contexto é diferente. Fica tudo mais aberto, muito mais.

Fica depois a marcha feminina, na distância de 20km, em equação. Aqui, a ausência da Rússia escancara portas a outras nações, e sobretudo de forma evidente à China, que apresentará Liu Hong (1h25m56s neste ano) e Qieyang Shenjie (1h26m49s) como as duas principais favoritas. Portugal, com um trio composto por Daniela Cardoso (1h33m46s em 2016), em estreia, Inês Henriques (1h29m00s), e Ana Cabecinha (1h28m40s, 17.ª da temporada contando com russas, 10.ª sem elas) apresenta uma das mais fortes equipas.

Ana Cabecinha pode sonhar com um resultado de topo, em condições normais, e mesmo uma medalha não é equação impossível. Mas fica a dificuldade adicional, em contraponto com a ausência das russas, da emergência das marchadoras sul-americanas, como a mexicana Maria Guadalupe González (1h26m17s) e a brasileira Erica de Sena (1h27m18s) a mostrarem-se também candidatas ao pódio.

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