Combater o Daesh exige coerência
As sociedades que lidam com este continuado terrorismo têm por obrigação ser coerentes.
França, Alemanha, Alemanha, França. Os alvos dos mais recentes atentados na Europa com ligações confirmadas ao Daesh ou reivindicados por este têm-se centrado nos dois países com maior peso na União Europeia (agora que o Reino Unido votou pela saída). A explosão em Ansbach, inicialmente atribuída a um sírio a quem não havia sido dado asilo, foi depois reivindicada pelo Daesh com um vídeo gravado anteriormente pelo autor do atentado que mostrava que o asilo nada teve a ver com o assunto: a explosão (na qual ele foi o único a morrer, fazendo no entanto 15 feridos) foi premeditada e associada à jihad do pretenso “califado”.
O bárbaro assassinato do padre francês Jacques Hamel, de 84 anos, degolado na sua própria igreja, em Rouen, por dois atacantes depois mortos pela polícia, inseriu-se também no mesmo tipo de atentados: uma acção-relâmpago, particamente suicida, para matar pretensos “infiéis”, neste caso católicos.
Mas se o objectivo do Daesh e dos que assassinam em seu nome é “levar o terror ao coração” dos que desprezam, as sociedades que lidam com este continuado (e, nalguns casos artesanal) terrorismo tem por obrigação montar as suas defesas de forma coerente. Um antigo negociador (com atacantes deste tipo) do Ministério do Interior disse à televisão, depois de a polícia ter abatido a tiro os atacantes de Rouen: “O Daesh é impiedoso, porque é que não o podemos ser?” A resposta devia dá-la a própria França: porque uma democracia que se rege pelo Estado de Direito não é o Daesh nem se lhe pode comparar. Mas uma democracia não pode também, como sucedeu em Rouen, deixar à solta, apenas com uma pulseira electrónica (que lhe permitia movimentar-se na rua durante parte do dia), um homem que estivera preso por associação criminosa e com intenções terroristas. Ora foi um dos atacantes em Rouen. Esta debilidade aproveita-a a oposição francesa. E, à parte o populismo, com razão.