Close-up: ver e debater o cinema em Famalicão
Novo programa vai ter o seu primeiro momento forte na Casa das Artes, entre 27 e 30 de Outubro, inspirado no icónico filme de Abbas Kiarostami.
Não será um festival no sentido mais comum do termo, na medida em que, por exemplo, não terá – para já – componente competitiva. Close-up será, primeiro que tudo, um “observatório de cinema”, e vai nascer em Vila Nova de Famalicão no mês de Outubro (entre os dias 27 e 30) para dar um impulso novo à programação da Casa das Artes da cidade.
O nome, explica Vítor Ribeiro, um engenheiro também com estudos literários e de cinema e que é actualmente o programador da Casa das Artes, foi tomado de empréstimo do icónico filme de Abbas Kiarostami, Close-up (1990). Conta a história de um jovem desempregado que se faz passar pelo prestigiado realizador iraniano Mohsen Makhmalbaf, em Teerão, para convencer uma família a entrar no seu “novo filme", acabando por ser julgado, condenado, mas finalmente redimido pelo cinema.
“Este filme é a nossa grande referência, quase um emblema, em termos estéticos; de certo modo, podemos dizer que existe um antes e um depois de Close-up, na distinção entre o que é documentário e o que é ficção, na história do cinema, com a particularidade de ele ter surgido por altura do centenário”, diz Vítor Ribeiro. E esse é um bom ponto de partida para o novo “festival” de Famalicão, que irá apresentar na Casa das Artes – numa parceria continuada com o Cineclube de Joane, que aí promove as suas sessões desde 2002 – uma programação espalhada pelo ano inteiro, baseada na história já centenária do cinema, mas também na sua relação com as novas tecnologias (a televisão, o vídeo, o digital...), e a multiplicação de ecrãs que vêm marcando este início do século XXI.
O programa da primeira estação de Close-up só vai ser divulgado em Setembro, mas Vítor Ribeiro abre um pouco do véu: a secção Paisagens Temáticas vai evocar os 70 anos das imagens do Holocausto, a partir do modo como realizadores como Claude Lanzmann (Shoa, O Último dos Injustos) ou László Nemes (O Filho de Saul) lidaram com esse imaginário; e pela secção Cinema Mundo vão passar as longas-metragens do brasileiro Gabriel Mascaro (o realizador de Boi Néon).
Assumindo a vertente quase científica do conceito de observatório, o novo "festival" vai “envolver no programa realizadores, jornalista e críticos, programadores e investigadores, e manter uma ligação forte à comunidade, desde a Universidade às escolas da região”, diz Vítor Ribeiro. E isso vai passar não apenas pelo momento forte da programação nesses quatro dias de Outubro – em que se realizarão “25 sessões comentadas de cinema contemporâneo e com trilhos pela história do cinema” –, mas depois também ao longo de toda a temporada, com iniciativas todos os dois meses.