O destino para os jovens médicos será cada vez mais a emigração
Ordem dos Médicos e Associação Nacional de Estudantes de Medicina lamentam que o ministério não tenha reduzido o número de vagas para os cursos do sector.
Dramático, incompetência. Estes são os dois termos escolhidos pelo bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, para definir as consequências da recusa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) em reduzir o número de vagas dos cursos de Medicina. Ao todo existem 1441 lugares disponíveis, a que acrescem mais 76 de dois cursos preparatórios aos mestrados integrados de Medicina.
“Devíamos avaliar as necessidades do país neste sector e o Serviço Nacional de Saúde contratar os médicos que formamos. Não estamos a fazer nem uma coisa, nem outra, o que é dramático”, diz. Consequências?
“Os jovens que escolhem Medicina têm de ter a consciência de que estamos a formar médicos acima das necessidades do país e por isso, embora não só, centenas emigram todos os anos." Mas, alerta, também “têm de estar preparados para não existirem vagas suficientes para a especialidade que escolherem e preparem-se para emigrar de modo a poderem completar a sua formação”.
Em 2015 ficaram sem vagas para a especialidade 114 jovens médicos. Este ano o número subiu para 158. E a situação tenderá a agravar-se, como também já alertou a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM). “Lamentamos a recusa do ministério em reconhecer a existência do problema”, comenta o presidente da ANEM, André Fernandes, que lembra que, em Março, a associação enviou ao MCTES um documento detalhado com o retrato da situação. “Esperávamos que houvesse disponibilidade para o discutirmos e encontrar alternativas, mas até hoje não tivemos qualquer resposta."
Do mesmo se queixa a Ordem dos Médicos. O seu bastonário conta que pediram uma audiência ao ministro Manuel Heitor para debater a questão das vagas, mas também não receberam qualquer resposta. “Medicina é o único curso do país que tem um número de vagas acima da sua capacidade formativa. Estamos a ser negativamente discriminadas porque politicamente se decidiu não baixar o número de lugares disponíveis”, frisa Jose Manuel Silva, que lamenta a “incompetência” mostrada pelo ministério em toda esta situação.
O que, segundo ele, está já também a levantar problemas de “ordem ética”. “Transformámo-nos num país exportador de médicos e esses médicos que vão para fora foram formados cá, treinaram com os nossos doentes para depois irem tratar os doentes de outros países."