Governo turco vai pedir extradição de Fethullah Gülen

É o principal adversário de Erdogan e está exilado nos EUA. Ancara diz que já enviou quatro dossiers com provas do seu envolvimento no golpe.

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Fetullah Gülen é acusado por Erdogan o mentor do golpe falhado na Turquia Greg Savoy / Reuters

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, revelou que vai pedir a extradição do imã Fethullah Gülen, que acredita ter sido o mentor do golpe de Estado falhado da semana passada. Porém, os EUA pedem provas e a União Europeia treme com a perspectiva de um retorno à aplicação da pena de morte.

Gülen está exilado na Pensilvânia (EUA) desde 1999 e o seu movimento — denominado Hizmet (Serviço), que defende um islão moderado e mais orientado para o Ocidente — tem sido um dos alvos preferenciais do regime de Erdogan. O Governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) acusa os gülenistas de controlarem vastos sectores do poder judicial, do ensino e dos media com o intuito de derrubarem Erdogan.

Logo na noite de 15 de Julho, o Presidente turco acusou Gülen e o seu movimento de serem os responsáveis pelo putsch. Mas para ser julgado, o imã terá de ser extraditado pelos EUA e Washington tem mostrado reticências em chegar a um acordo.

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O secretário de Estado, John Kerry, insistiu na apresentação de provas e não apenas de “alegações” para que a extradição seja autorizada. “Iremos obviamente apoiar que os autores do golpe sejam levados perante a justiça, mas também alertamos para que não se vá muito para além disso”, afirmou Kerry.

Erdogan também não escondeu que o regresso da pena de morte pode estar para breve — algo que poderá igualmente funcionar como um obstáculo a que os EUA extraditem Gülen. Em 2014, Ancara já tinha feito um pedido de extradição de Gülen, acusando-o de conspiração para derrubar o Governo.

Em entrevista ao serviço turco da CNN, Erdogan lembrou que existe um “acordo mútuo para a extradição de criminosos” entre os dois países. “Vocês pedem que alguém seja extraditado, e são meus parceiros estratégicos, então eu obedeço, mas se não fizerem a mesma coisa por mim… bem, é claro que deve haver reciprocidade neste tipo de coisas”, disse o Presidente turco, que desde a noite do golpe, que decorria enquanto estava de férias na estância balnear de Marmaris, ainda não abandonou Istambul.

O primeiro-ministro, Binali Yildirim, chegou mesmo a dizer que a “Turquia pode questionar a sua amizade com os EUA” caso o pedido de extradição venha a ser recusado. “Estamos um pouco desapontados quando os nossos amigos dizem ‘mostrem-nos provas’ enquanto há membros desta organização a tentar destruir o Estado e há uma pessoa que lhes dá instruções”, afirmou Yildirim, citado pelo jornal Hurriyet.

De qualquer forma, o chefe do Governo turco revelou esta terça-feira que já foram enviadas para Washington quatro dossiers com provas do envolvimento de Gülen na tentativa de golpe. "Vamos cortar [o movimento por trás do golpe] de uma tal maneira que mais nenhum traidor, mais nenhuma organização terrorista clandestina, mais nenhum grupo terrorista separatista terá a audácia de trair este povo sagrado, este grande Estado, a Turquia", afirmou Yildirim.

Gülen — que de aliado passou a principal rival de Erdogan e do AKP — já tinha negado logo na noite do golpe qualquer envolvimento e agora voltou a fazê-lo. “Sempre fui contra a intervenção de militares na política interna”, disse à AFP, num raro encontro com jornalistas esta segunda-feira na sua casa na Pensilvânia. O imã garantiu não estar preocupado com a eventual extradição e mostrou confiança nas autoridades norte-americanas. “A lei está acima de tudo aqui. Não acredito que este Governo vá prestar atenção a qualquer coisa que não esteja baseada na lei.”

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A perspectiva de um regresso da pena de morte como medida punitiva na Turquia deixou Bruxelas em sobressalto. Num comunicado conjunto, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia reafirmaram que “a rejeição inequívoca da pena de morte” é um pilar essencial do regime jurídico dos países europeus.

Bruxelas vai tentando pressionar a Turquia com as armas ao seu alcance. O comissário europeu, Gunther Ottinger, avisou esta terça-feira que o levantamento do regime de vistos para os cidadãos turcos — um dos pontos do polémico acordo entre a UE e a Turquia para o controlo dos refugiados — não deverá ser concluído este ano. Ottinger sublinhou que é necessário que o Governo turco defenda o Estado de direito. "E não é isso que parece estar a ser feito neste momento", acrescentou.

A Comissão Europeia manifestou igualmente dúvidas quanto à espontaneidade do golpe, temendo que tenha servido apenas de pretexto para que Erdogan — que o descreveu como "uma oferenda de Deus"   afaste de forma definitiva qualquer obstáculo ao seu controlo total do aparelho de Estado. “Dá ideia de que já havia alguma coisa preparada”, disse o comissário europeu responsável pelo alargamento, Johannes Hahn.

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