O Ministério da Saúde deslocou de Bragança para o Algarve três médicos ao mesmo tempo que abriu um concurso para contratar clínicos das respectivas especialidades por "comprovada carência" na região.

Um despacho do secretário de Estado adjunto da Saúde, Ferreira Araújo, publicado dia 11 de Julho em Diário da República, dá conta da abertura de procedimento concursal para recrutar especialistas para várias unidades de todo o país.

O despacho explica que o procedimento é "precedido da identificação dos serviços e estabelecimentos (...) com comprovada carência de pessoal médico por área profissional" e entre as vagas disponíveis estão Ortopedia e Anestesiologia para a Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste, duas especialidades que cederam três médicos ao Algarve durante todo o verão.

A Lusa consultou o despacho publicado em Diário da República que, no que respeita à região de Bragança, abre um total de dez vagas para suprir algumas carências de especialidades nos três hospitais da ULS do Nordeste.

Entre as vagas para esta região estão uma para ortopedia e outra para anestesiologia. Contam-se ainda uma vaga para Oftalmologia, Urologia e Medicina Física e de Reabilitação, três para Medicina Interna e duas para Ginecologia/Obstetrícia.

O despacho para recrutar especialistas para áreas carenciadas foi publicado praticamente em simultâneo com a cedência de dois ortopedistas e um anestesista da ULS do Nordeste, entre Julho e Setembro, aos hospitais do Algarve para dar resposta ao aumento de potenciais utentes devido à procura turística.

Num comunicado conjunto divulgado na quarta-feira, a ULS do Nordeste e Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte garantiam que a medida não afectará os serviços no distrito de Bragança.

"No caso concreto da ULS do Nordeste verificamos, por um lado, que a lista de espera na especialidade de ortopedia está devidamente controlada, não existindo sequer, nesta data, a emissão de nenhum vale cirúrgico e, por outro, que os tempos máximos de resposta garantida estão assegurados", asseguraram.

A especialidade de ortopedia na região de Bragança, assim como anestesiologia, são, contudo, apontadas com "comprovada carência de pessoal" na justificação governamental para a abertura do concurso de recrutamento de especialistas para o Serviço Nacional de Saúde, publicado em Diário da República, na segunda-feira.

O presidente da distrital de Bragança do PSD, Jorge Fidalgo, exigiu esta quinta-feira o regresso imediato dos três médicos deslocados da região para o Algarve, argumentando que fazem falta no distrito transmontano.

A cedência de clínicos "não faz qualquer sentido" para o dirigente social-democrata que lembrou a falta crónica de médicos na região transmontana.

Jorge Fidalgo argumentou ainda, em declarações à Lusa, que se durante o verão as carências aumentam no Algarve devido à procura turística, também na região de Bragança "a população duplica ou triplica" com o regresso dos emigrantes para férias.

Os deputados do PSD eleitos por Bragança José Silvano e Adão Silva já questionaram o Ministério da Saúde sobre esta medida, argumentando que "não faz qualquer sentido" e que "nunca aconteceu no passado".

Os parlamentares lembram "as carências de médicos ortopedistas e anestesistas nos hospitais de Bragança, que se traduz em alguns atrasos nas respostas mais prontas que se exigem em cirurgias ortopédicas".