A ministra do Interior britânica, Theresa May, que na quarta-feira se torna primeira-ministra, soube fazer o seu jogo por entre as facções a favor e contra o "Brexit" no Partido Conservador, para se posicionar como a candidata do consenso.

De alma eurocéptica, decidiu no início deste ano manter-se fiel ao primeiro-ministro David Cameron e defender a permanência na União Europeia. Mas só fez os serviços mínimos, pois continuou a propor a limitação da imigração, o tema favorito dos pró-"Brexit", o que lhe garantiu credibilidade nos dois campos.

Uma mulher alta e magra, de cabelos grisalhos e curtos e olhos salientes, é uma conservadora que se situa na ala mais à direita do seu partido, apesar de se ter posicionado na campanha do "Brexit" de forma a seduzir através dos temas mais sociais, tentando dessa forma quebrar a imagem de política fria que os eleitores tinham dela.

No Ministério do Interior, que ocupou desde 2010, manteve uma linha firme, quer se tratasse de delinquência, de imigração clandestina ou de pregadores islamistas.

É acusada de ter falta de carisma, mas são-lhe reconhecidas a autoridade e a competência. Também pode reivindicar uma "determinação feroz", como escreveu o Daily Telegraph. Por isso, foi inevitável que lhe chamassem "a nova Margaret Thatcher" - Thatcher foi a primeira mulher a chefiar o Governo britânico, entre 1979 e 1990, May é a segunda.

Está, porém, mais perto da chanceler alemã, Angela Merkel, que tem vários elementos em comum com May: é filha de um pastor, é conservadora, é pragmática, é aberta ao compromisso e não tem filhos.

Para se descrever, diz: "Não faço a ronda das televisões. Não tenho fofocas para contar ao pequeno-almoço. Não bebo cervejas no bar do Parlamento. E não faço alarde dos meus sentimentos. Só faço o meu trabalho."

"Theresa é uma mulher terrivelmente difícil", comentava recentemente numa televisão o ex-ministro Kenneth Clarke, agora deputado conservador.

"O próximo a dar-se conta disse vai ser Jean-Claude Juncker", respondeu-lhe May com humor, mas marcando o tom para as negociações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia com o presidente da Comissão Europeia.

Filha de um pastor anglicano, Theresa Mary Brasier nasceu a 1 de Outubro de 1956 em Eastbourne, uma cidade costeira no Sudeste de Inglaterra.

Depois de ter estudado Geografia na Universidade de Oxford e de uma breve passagem pelo Banco de Inglaterra, inicia a sua carreira política em 1986, como conselheira no bairro londrino de Merton.

Após duas derrotas nas legislativas, é eleita em 1997 deputada conservadora pelo círculo de Maidenhead, em Berkshire, no Sul de Inglaterra.

Entre 2002 e 2003, torna-se na primeira mulher a assumir o cargo de secretária-geral do Partido Conservador. Ganha notoriedade com um discurso em que critica o seu próprio partido, à época extremamente conservador em termos sociais e visto como estando afastado dos problemas dos mais pobres e das minorias – lembrou que muitos britânicos chamavam ao Partido Conservador o nasty party e fez muitos inimigos.

De 1999 a 2000 ocupa vários cargos no governo sombra dos conservadores, e em 2005 surge ao lado de David Cameron quando o actual primeiro-ministro demissionário conquista a liderança do partido.

Em 2010, quando Cameron é eleito chefe do Governo, Theresa May é recompensada com a pasta do Interior, um cargo que mantém após a vitória dos conservadores nas eleições de 2015.

"Tem uma capacidade de trabalho incrível e é muito exigente", disse à AFP uma das suas colaboradoras, sob a condição de anonimato. "Detesta correr riscos e é uma pessoa em que se pode confiar."

Por outro lado, não transmite calor humano nem é particularmente afável na comunicação, algo que tentou corrigir ao enviar para a imprensa uma série de fotografias pessoais - surgindo em muitas delas abraçada ao marido, Philip John May, um banqueiro - e do seu casamento pela igreja, em 1980.

Theresa May diz que gosta de caminhar e de cozinhar, e quando está entre um grupo de amigos revela o seu sentido de humor e o seu charme. E o seu conservadorismo a vestir é muitas vezes atenuado pelo gosto por sapatos extravagantes.