Descoberto planeta num sistema com três estrelas
Não há noites em parte da órbita deste planeta que tem quatro vezes a massa de Júpiter.
Uma equipa internacional de astrónomos detectou um planeta de um sistema com três sóis, informou nesta quinta-feira o Observatório Europeu do Sul (OES), adiantando que tal observação sugere que sistemas triplos de estrelas com planetas "possam ser mais comuns" do que se pensava.
O grupo usou um dos instrumentos do Very Large Telescope (VLT), o telescópio do OES situado no deserto de Atacama, no Chile, para obter as imagens. Os resultados da investigação, liderada por astrónomos da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, são publicados nesta quinta-feira, na revista científica Science.
O planeta em causa tem o nome de registo HD 131399Ab e orbita a estrela mais brilhante das três, a HD 131399A. O planeta tem quatro vezes a massa de Júpiter e uma temperatura de 580 graus Celsius. A sua órbita, que totaliza 550 anos terrestres, é a maior conhecida num sistema estelar múltiplo.
O HD 131399Ab está situado a cerca de 320 anos-luz da Terra, na constelação de Centauro, e tem cerca de 16 milhões de anos, o que o torna num dos exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar) mais jovens até agora descobertos (o Universo tem cerca de 13,77 mil milhões de anos) e "um dos muito poucos a serem directamente fotografados".
Durante parte da órbita do HD 131399Ab, um observador naquele planeta poderia desfrutar de dias constantes, isto é, sem noite, já que teria sempre luz directa de algum dos sóis. Noutra parte da órbita, poderia observar triplos nascimentos e pores de Sol, assinala em comunicado o OES, organização da qual Portugal faz parte.
Os cientistas estimam que a estrela mais brilhante do trio tenha 80% mais massa do que o Sol e esteja a ser orbitada pelas restantes duas, com menos massa, que rodopiam em torno uma da outra e estão separadas entre si pela distância que medeia aproximadamente o Sol e Saturno.
Neste cenário, segundo o Observatório Europeu do Sul, o planeta HD 131399Ab "desloca-se em torno" da estrela mais brilhante, numa órbita com um raio correspondente a cerca de duas vezes a órbita do planeta-anão Plutão.
A descoberta surpreendeu os cientistas, porque órbitas como a do HD 131399Ab "são frequentemente instáveis, devido à atracção gravitacional, complexa e variável, das outras duas estrelas do sistema", pelo que pensavam que "seria muito improvável existirem planetas em órbitas estáveis nestas condições".
Para os astrónomos, planetas como o HD 131399Ab "têm um interesse especial", uma vez que "mostram como funciona a formação planetária em cenários muito extremos", refere o OES na nota, sublinhando que os sistemas estelares múltiplos "são tão comuns" como as estrelas individuais, como o nosso Sol.