Eleitores espanhóis votam para deixar tudo na mesma
PP aumenta a sua vantagem. PSOE resiste como segundo partido da Espanha e força hegemónica da esquerda, apesar de eleger menos cinco deputados do que em Dezembro. Podemos perde eleitores e não rentabiliza aliança com a Esquerda Unida.
Na nova Espanha sem espaço para maiorias absolutas, Mariano Rajoy recebeu dos eleitores um resultado que nem em sonhos terá imaginado. Esperava ficar de novo em primeiro, mas não esperava crescer em votos e em número de deputados em relação às legislativas de Dezembro. A direita do PP, no poder desde 2011, sobe de 28,71% para 33,03%, e de 123 deputados passa a 137.
Rajoy vence as suas terceiras legislativas, tantas como aquelas a que se apresentou.
“Que viva a Espanha.” Assim se despediu um Rajoy emocionado do palco montado na rua Génova de Madrid. Antes, tivera dificuldades em fazer-se ouvir, interrompido a cada frase por militantes eufóricos que não deixavam de agitar bandeiras da Espanha e do PP enquanto gritavam "sim, podemos”.
O veterano líder agradeceu a todos “os que não desistiram” nesta “etapa difícil, muito difícil” e lutaram até ao fim por esta vitória. Descrevendo-se como “enormemente orgulhoso” do seu partido, prometeu aos espanhóis que “o PP estará sempre disponível e será sempre uma opção”, principalmente nos momentos mais duros.
“Reclamo o direito a governar e a sermos úteis a 100% dos espanhóis, aos que votaram em nós e aos que não o fizeram”, afirmou. “Amanhã, vamos falar com todos.”
Rajoy sai reforçado quando ninguém acreditava que isso fosse possível (e sem que nenhuma sondagem o tivesse antecipado), depois de quatro anos de maioria absoluta marcados por uma terrível crise económica e por sucessivos escândalos de corrupção. E fá-lo depois de uma campanha hiperpersonalizada e que polarizou ao máximo, apresentando-se como o “voto útil” contra a ameaça da aliança Unidos Podemos.
Depois das legislativas de Dezembro, as que marcaram o fim do bipartidarismo que até agora alternava no poder, os espanhóis foram chamados a repetir o voto e, mais uma vez, não há soluções óbvias de coligação. Só com um pacto muito alargado será possível formar governo. No que conta para o conjunto dos espanhóis – saber quando terão governo e qual será a sua composição mais provável – as incertezas são tantas ou mais do que há seis meses. E, apesar de ninguém admitir essa posibilidade, nada garante que não sejam necessárias novas eleições.
A nova esquerda, saída do movimento dos Indignados, e liderada pelo Podemos, de Pablo Iglesias, consolida-se como o terceiro partido espanhol (21,1% e 71 deputados) mas não inflige aos socialistas a humilhação com que contava. Aliás, é o grande derrotado, como assumiu Iglesias, falhada a sua estratégia de aliança à Esquerda Unida. "Os resultados não foram os que esperávamos."
Numa campanha muito polarizada entre a opção mais à direita, o PP, e a candidatura mais de esquerda, a coligação Unidos Podemos, vence o PP e saem a perder PSOE e Cidadãos – os dois partidos que no actual sistema partidário ocupam o novo centro ideológico. O crescimento do PP faz-se, aparentemente, à custa da descida do Cidadãos, partido liberal de centro-direita que em Dezembro elegera 40 deputados e que agora não ultrapassa os 32.
O PSOE desce em relação a Dezembro, ficando-se pelos 85 deputados (tinha 90) e pelos 22,67% dos votos – um resultado terrível, pior ainda do que o de Dezembro, quando o partido de Pedro Sánchez já sofrera a sua maior derrota de sempre. “Continuamos a ser a maior força de mudança", foi o melhor que Sánchez encontrou para dizer.
O que salva Sánchez é que as expectativas ainda eram piores: face ao pesadelo que os inquéritos indicavam, este PSOE resiste como segundo partido do país e a maior força da esquerda. Sobrevive, e isso é mais do que se esperava.