Bloco “quer ser a força mais forte do Governo de Portugal”

Convenção do BE debate moções na X Convenção que decorre em Lisboa.

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Sem hesitações, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Filipe Pedro Soares fez a pergunta e deu a resposta. “Quer o BE ser Governo? A resposta é: quer ser a força mais forte do Governo de Portugal.” A declaração foi feita quando o dirigente do BE apresentava a moção A, subscrita pela direcção, no reinicio ao principio da tarde dos trabalhos da X Convenção do partido que decorre no Pavilhão Casal Vistoso, em Lisboa.

Ora como quer o BE chegar a essa situação de força maioirtária? A resposta é dada pelo mesmo Filipe Pedro Soares: “Se quisermos ter futuro temos que desenhar uma maioria social à esquerda”.

Na sequência da vitória da saída da Grã-Bertanha da União Europeia no referendo de 23 de Julho, o líder parlamentar garante que “aconteceu o que o BE dizia”, ou seja, que “esta Europa não serve”. E caracterizou as actuais orientações da União Europeia como dirigindo a UE “rebaixando os povos”. E defendeu que “não há mais cenário” para não aceitar a vontade dos povos. Nem manter uma atitude de prometer mudar sem o fazerem como aconteceu “em todas as crises europeias”. E perguntou aos delegados: "Será que acreditam mesmo que Wolfgang Schäuble vai ficar mansinho e vai falar candidamente com os países do sul da Europa ou vai-se levantar e dizer: ‘nem pensar em aplicar sanções para Portugal, eles não podem sofrer mais?”Acrescentando de seguida: “Ou vamos ter as mesmas vozes a dizer sanções custe o que custar?” E repetiu que Portugal tem que dizer no Conselho Europeu que “não é aceitavel a aplicação de sanções”.

Pedro Filipe Soares acusou ainda os dirigentes da União Europeia de terem aberto “a porta à extrema-direita” e de tratarem “os povos como lixo”. “São eles que a cada cedência que fazem” vão abrindo “caminho à extrema direita”.

Já ao nível interno, o líder parlamentar garantiu que “valeu a pena o BE ter feito a escolha que fez”, ao aceitar dar apoio parlamentar ao executivo do PS e jurou que o seu partido não tem um “cronómetro à espera que o tempo acabe para mandar abaixo o governo”.

Depois de Pedro Filipe Soares, Catarina Príncipe apresentou a moção de que é primeira subscritora, para pedir um referendo interno que defina a posição do BE em relação à negociação do Orçamento do Estado para 2017. E acusou a direcção de ter antecipado a Convenção para que esta não se realizasse em cima da aprovação do OE2017 – refira-se que há dois anos a Convenção foi a 22 e 23 de Novembro.

Já João Madeira apresentou a sua moção lembrando que o combate do BE “e é de longo curso”, começando por frisar: “Somos anti-capitalistas”.

Nascer com Cavaco, pôr a finança no sítio e um sorriso aberto

No debate da tarde, Joana Mortágua, que subscreve a moção A, lembrou que a defesa da escola pública foi a primeira de “tantas vitórias” alcançadas e que o BE não quer “parar por aqui”, não quer deixar, noutros sectores da sociedade, que se sacrifique tudo em “nome do capital financeiro”. A bloquista defende um Governo que defenda o povo, que se bata pela renegociação da dívida. Joana Mortágua tem 30 anos: “Nasci com Cavaco”, afirmou, dizendo-se cansada do “parasitismo” a que assistiu ao longo da vida. “A minha geração exige um mundo novo e naquilo que depende de nós vai ter.” A sala rebenta em aplausos.

Mariana Mortágua também falou e, naturalmente, da sua área, a economia. Fez, no entanto, questão de passar a mensagem de que economia não significa mercados, é antes dirigida às pessoas. Falou no peso da dívida pública, na asfixia das empresas, nas pessoas que ficam sem casa, na falta de médicos e enfermeiros em Portugal. Criticou a fatia que vai para os “tubarões da finança”, uma “finança descontrolada” que “não conhece limites”. A deputada criticou que uma “finança sem vergonha” que “vem dizer sacrifiquem-se por nós”. A quem reclama isso, o BE só responde de uma forma: “Não, basta”, disse Mariana Mortágua. Basta diante do “poder da finança”, da “chantagem da finança”. “É tempo de resgatar a democracia na Europa”, afirmou, insistindo que não são os mercados, mas a vontade popular quem manda na economia. É preciso, continuou, “pôr a finança no lugar” para que “a esquerda possa cumprir o seu projecto. A democracia, insistiu, “é condição para a esquerda poder ser maioria”.

Já Francisco Louçã começou o discurso com uma nota optimista, dizendo que os bloquistas entraram nesta convenção de “sorriso aberto”. Teceu rasgados elogios ao BE, um partido “extraordinário”, que sabe “corrigir-se”. Elogiou Catarina Martins, Pedro Filipe Soares, Marisa Matias. E disse que o “melhor ainda está para vir”.

“Somos a garantia de um acordo”, disse ainda, assegurando que o BE não falha nem recua e que quem vive do seu salário “sabe que tem” o Bloco do seu lado. E “ai de quem deixar cair” o acordado, alertou. “Tem de ser ver connosco”, avisou. Louçã quer que se ouça alto e bom som nesta convenção: “Em Janeiro haverá um milhão de homens e mulheres que terá 557 euros de salário mínimo.” Teceu críticas à oposição social-democrata, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque e, entre outras imagens, ilustrou o Bloco: “Somos os do arco-íris, os da luta de baixo.”

Recado ao PS

“Há um espectro que paira sobre a Europa”. Foi com estas palavras, as mesmas com que começa o Manifesto Comunista de Marx e Engels, de 1848, que, na tarde deste sábado, o bloquista José Manuel Pureza iniciou a sua intervenção na X Convenção. Já não é o espectro do comunismo, como noutro século. “É o espectro da política do medo”, continuou o deputado e vice-presidente da Assembleia da República.

Um dia depois do “Brexit”, Pureza não deixou o tema da Europa de parte: “Com a sua ardilosa linguagem moralista, dizem-nos que estamos condenados a escolher entre integração europeia e egoísmos nacionais. Como se a integração europeia de que falam fosse benigna e como se a defesa das democracias nacionais fosse um mal atávico ou um retrocesso. Com o seu politiquês de pacotilha, dizem-nos que a moderação deve sempre prevalecer sobre os extremismos”, ironizou, garantindo, na sua intervenção, que o BE faz parte de uma “esquerda que nunca desiste de se assumir como crítica de todas as justificações para a diminuição dos direitos, sejam elas soberania nacional ou o europeísmo”.

E terminou o discurso num tom de crítica ao primeiro-ministro António Costa: “Disse há dias António Costa que é cada vez mais difícil ser socialista sem ser crítico da União Europeia. Tem plena razão. Mas isso é pouco. É mesmo o mínimo dos mínimos. E, por isso, dá lugar a todos os equívocos. Afirmar que só se pode ser socialista na União Europeia – como o fez o primeiro-ministro – é somar contradição a esse equívoco.”

Para Pureza, “está na hora de dizer, com toda a clareza, que só se pode ser socialista contra a City e contra Frankfurt, contra Cameron e contra Hollande, contra Merkel e contra Dijsselbloem”. E justificando a exigência que faz ao líder do PS e primeiro-ministro explicou porquê: “Em nome da melhor Europa do espírito critico, das lutas todas pela dignidade, da permanente incompletude, é com serenidade e com firmeza que afirmamos nesta X Convenção do BE que não se pode ser socialista senão recusando aquilo em que União Europeia se tornou.”

Notícia actualizada às 17h48 com as intervenções de Joana Mortágua, Mariana Mortágua e Francisco Louçã e com a intervenção de José Manuel Pureza às 19h05

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