Expectativas e receios nas relações comerciais entre Portugal e Reino Unido

Câmara de Comércio Luso-Britânica acredita que as empresas saberão adaptar-se. Presidente da AEP diz que "Brexit" constitui uma perda.

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Empresários dizem que relação histórica entre Portugal e Reino Unido não pode ser desperdiçada
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“As empresas não gostam de incerteza e volatilidade”, mas a “experiência mostra que se sabem adaptar”, diz Chris Barton REUTERS/Russell Boyce

Apesar do resultado do referendo britânico, Portugal e o Reino Unido “vão continuar a ser bons parceiros comerciais”. A convicção é do presidente da Câmara de Comércio Luso-Britânica (CCLB), Chris Barton, que acredita que nada vai mudar entre portugueses e britânicos, apesar da saída do país da União Europeia (UE).

“Portugal e o Reino Unido têm uma aliança forte e já eram bons parceiros comerciais antes da União Europeia e não há razão para que não continuem assim”, afirmou ao PÚBLICO, no dia em que o “Brexit” se tornou uma realidade.

O tom é de optimismo moderado, apesar de a Europa ter pela frente um processo inédito e prolongado para negociar pela primeira vez a saída de um país da comunidade, que tem aqui o seu principal mercado.

“As empresas não gostam de incerteza e volatilidade”, mas a “experiência mostra que se sabem adaptar”, desdramatiza Chris Barton. Por isso, o presidente da CCLB antevê que, depois do primeiro impacto, a comunidade empresarial vai saber ajustar-se à nova realidade. “Pode levar dias ou semanas até a poeira assentar, mas depois a realidade tem de ser encarada” de frente.

Já para Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), a decisão está já a ter gravosas consequências nos mercados financeiros, podendo atrasar ainda mais a construção da União Económica e Monetária Europeia. Isso interfere negativamente no comércio internacional e subtrai riqueza ao PIB mundialalertou através de um comunicado. Neste quadro, alerta, a vitória do Brexit” é uma “perda para as empresas e para a economia portuguesas.

“Há que assegurar que as relações políticas e económicas entre os dois países se reforçam”, sustentou, por seu turno, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, num comunicado onde avisou que o período que se segue na União terá de ser enfrentado com ponderação, para que os factores de instabilidade não sejam reforçados”.

A Confederação do Comércio e Serviços (CCP) defende, em comunicado, ser necessário que no processo de negociações os líderes europeus reconheçam o Reno Unido como um parceiro comercial fundamental” e que se assegure um bom clima para a actividade empresarial.

O presidente da Associação de Têxteis e Vestuário de Portugal (ATP), João Costa, não espera que o “Brexit” tenha “efeitos directos significativos ao nível das relações económicas e comerciais” entre a UE e o Reino Unido. “No imediato, [a saída do Reino Unido] afectará com certeza as exportações do nosso país”, mais pela via da contracção da economia britânica e pela queda do consumo, disse o responsável da ATP ao PÚBLICO. “Não penso que o Reino Unido ou a UE vão estabelecer barreiras aduaneiras”, que possam restringir os fluxos comerciais entre ambos, acrescentou.

O resultado do “Brexit” veio abrir um quadro de incerteza sobre qual o lugar do Reino Unido no acesso ao mercado único europeu, fundamental para a sua economia (e se no futuro haverá tarifas alfandegárias, por exemplo). Mais de metade das exportações britânicas têm como destino a UE (e também mais de 50% das importações têm origem nos restantes países da União).

Vendas de 3349 milhões

Para Portugal, por sua vez, o Reino Unido é um mercado com peso determinante no comércio internacional. É o quarto país para onde Portugal mais exporta – depois da Espanha, França e Alemanha – e as vendas têm vindo a aumentar bem acima do ritmo de crescimento global de todas as exportações portuguesas.

Portugal vendeu bens ao mercado britânico no valor de 3349 milhões de euros, mais 14% do que no ano anterior, enquanto as exportações nacionais apresentaram no ano passado uma subida de 3,7%.

“No curto prazo”, Chris Barton até acredita que se podem “abrir oportunidades interessantes” para exportadoras portuguesas que operam em sectores como “a moda e o têxtil e alimentação e bebidas”, ainda que no imediato se preveja que a libra perca valor (como está a acontecer neste primeiro dia de reacção aos resultados do referendo).

O têxtil e o sector alimentar são algumas das áreas de actividade mais importantes para as vendas de bens portugueses para o Reino Unido. No topo estão as exportações de máquinas, aparelhos e material eléctrico, que valeram a Portugal 633,8 milhões de euros no ano passado. O material de transporte é o segundo sector de actividade que mais vende para o mercado britânico (no ano passado as vendas totalizaram os 526,8 milhões de euros), seguindo-se os dois sectores a que Chris Barton se refere.

As exportações de têxteis representaram 437,4 milhões de euros no ano passado e os produtos de indústrias alimentares, as bebidas e o tabaco valeram à economia portuguesa 286.588.811 milhões de euros em exportações para o Reino Unido.

A estes somam-se sectores como os do plástico e borracha, indústrias químicas, madeira e calçado em que as exportações superam os 100 milhões de euros. A trajectória tem sido ascendente, mas a conjuntura externa ditará o ritmo exportador e, para o cenário do “Brexit” que agora se concretiza, as previsões são menos optimistas.

A OCDE prevê que, num cenário de “Brexit”, a economia britânica cresceria menos 0,5 pontos percentuais do que o valor estimado para 2017 e 2018 e menos 1,5 pontos do que o projectado para o ano seguinte. As vendas para o Reino Unido valem 6,7% das exportações portuguesas de bens.

No arranque deste ano, em que as instituições já estavam a prever um abrandamento da economia, as exportações para o Reino Unido estão a desacelerar, tendo crescido 6,9% nos quatro primeiros meses do ano passado.

Olhando para a balança dos serviços, a entrada de turistas britânicos constitui uma das grandes fontes de receitas. No caso das dormidas de estrangeiros em estabelecimentos hoteleiros, os cidadãos do Reino Unido foram o grupo com mais expressão, constituindo 24% do total.

Ao todo, foram registadas 8 milhões e 276 mil dormidas de britânicos, um número recorde e que tem vindo a crescer desde 2010. Francisco Calheiros, Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português (CTP) afirmou, em comunicado, que ainda “é demasiado cedo para prever o impacto” do “Brexit”. Com Luís Villalobos

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