Quando se apaga o sol sobre a Arrábida, está na hora de descobrir os pirilampos

Existem duas mil espécies de pirilampos em todo o mundo, 65 estão na Europa, 11 vivem em Portugal e Espanha mas bastam duas para preencher as noites na serra da Arrábida de momentos de magia.

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Nuno Cabrita
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Até 16 de Julho, decorrem as “Noites de Estrelas e Pirilampos” que a Ocean Alive, uma cooperativa de educação marinha, organiza, pelo 3º ano consecutivo, nos meses de Maio e Junho aos fins-de-semana no Parque Natural da Arrábida. Mas, este ano, um inesperado “bloom” de pirilampos incentivou a organização a prolongar por mais duas semanas a observação dos pequenos insectos.

As sessões incluem o recurso a um telescópio para observar Marte, Júpiter e Saturno, a Lua, enxames de estrelas e galáxias e, em simultâneo, contemplar a luminescência produzida por milhares de pirilampos em fase de reprodução.  

As visitas, em pleno campo, e através de um pequeno percurso pela Quinta do Alcube, são guiadas por um astrónomo amador e por uma bióloga. Pretendem “levantar o véu para a curiosidade sobre os pequenos organismos que comunicam através da bioluminescência”, explicou ao PÚBLICO, Raquel Gaspar, coordenadora da Ocean Alive.

A bióloga marinha que dinamiza o projecto “Guardiãs do Mar” vencedor do 1º lugar do Concurso FAZ - Ideias de Origem Portuguesa 2016, com o projecto “Salvar o ambiente, preservar empregos”, descreve o entusiasmo que as pessoas revelam quando observam os “pontinhos luminosos a fazer lembrar as decorações de Natal” quando a noite esconde o arvoredo na serra da Arrábida.

“À nossa volta, a vegetação do montado e das ribeiras da Quinta de Alcube, desenham volumes negros onde, sem ser por magia, o ar cintila numa dança que nos fala de amor: são os pirilampos machos a luzir no seu voo procurando enamorar uma fêmea para acasalar”, retrata Raquel Gaspar. Este é o momento final da vida do insecto que passou entre três a cinco anos em forma de larva a alimentar-se no solo para ter reservas na fase adulta, a qual dura apenas um mês. “Passam por nós, poisam na nossa roupa. É nestes encontros casuais que conseguimos vislumbrar as suas 'lanternas de luz', uma luz fria, tipo LED, de cor esverdeada ou amarelada”, prossegue a bióloga.  

A surpresa dá então lugar ao fascínio para a maioria dos cerca de 1500 observadores que ao longo das três edições do evento “Noites de Estrelas e Pirilampos” observaram, pela primeira vez, insectos de pequena dimensão (cerca de 2,5 centímetros de comprimento) que a ciência classifica com um palavrão: organismos bioluminiscentes. Seres vivos que emitem luz, a partir de uma reacção química baseada na combinação de uma substância chamada luciferina com o oxigénio na presença de uma enzima luciferase, que resulta em oxiluciferina para perder energia e, desta forma, emitir luz.

Já o sinónimo de formação popular deixa de lado os eufemismos científicos e opta pelo idioma puro. São vários os nomes utilizados em Portugal para identificara os pirilampos: caga-lume, caga-fogo, vaga­-lume, lumeiro, salta-marfim, lampírio, luzecu ou mosca-de-fogo…

Superada a definição do pequeno insecto que tanto adultos e crianças, numa primeira reacção, associam a algo mágico que não conseguem explicar porque apenas se vêm luzinhas sem que se consiga observar o objecto que as emite, a surpresa reflecte-se no rosto daqueles que acabam por descobrir que as estrelinhas que bailam são produzidas por pequenos “bichinhos” e que não há nada de magias.

As “Noites de Estrelas e Pirilampos” propiciam o aprofundamento da informação sobre os pirilampos e as causas que estão a contribuir para o seu progressivo desaparecimento: “Deve-se à destruição dos campos e ribeiras onde vivem, à utilização de pesticidas que matam caracóis e lesmas, as suas presas principais, e à poluição luminosa, que interfere na sua reprodução”, enumera Raquel Gaspar. A bióloga revela que “apesar das presas serem muito maiores que o seu tamanho, conseguem imobilizá-los através da inoculação de um veneno paralisante (como fazem as aranhas)”.

Em Portugal são conhecidas 11 espécies de pirilampos, sendo duas delas observadas na Quinta de Alcube: a Luciola lusitanica (o pirilampo-lusitanico) e a Nyctophila reichii (o pirilampo-mediterrânico). São conhecidas cerca de 2000 em todo o mundo.  

A bióloga revela que o fenómeno da bioluminescência observa-se ainda em “algumas aranhas, anelídeos, moluscos, certos cogumelos, alguns microrganismos e em muitos animais marinhos, já que o mar é o reino da bioluminescência”, frisando que a uma profundidade média de cerca de quatro quilómetros, grande parte dos animais marinhos comunicam entre si através da luz.

A emissão de luz pode ter várias funções: caça, defesa, protecção e comunicação. Nos pirilampos, a luz é emitida para defesa contra os predadores ou como sinal de perturbação e também é emitida pelas fêmeas adultas e em algumas espécies pelos machos durante a cerimónia de acasalamento. A fêmea faz um pulsar de luz, próprio da sua espécie, ao qual o macho responde aproximando-se e cheirando-a. Esta deixa de luzir após ter acasalado pelo que são as fêmeas com menos sucesso as que cintilam mais. Há espécies que comunicam ao crepúsculo, outras durante o escuro da noite. Nem todos os pirilampos emitem luz porque acasalam durante o dia.

Contactos para marcação de vistas: Site: www.ocean-alive.org Facebook: https://www.facebook.com/ocean.alive.org/ Email: info@ocean-alive.org Telefone: 917915595 ou 918467059 Contacto: Raquel Gaspar e Carolina Nunes.

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