Elementos da PJ, da PSP e da GNR suspeitos de corrupção em centros de inspecção
Cerca de 200 inspectores desenvolveram 70 buscas na área da Grande Lisboa. Entre os 20 detidos estão um inspector e um casal de seguranças da PJ, um agente da PSP e um militar da GNR na reserva. Os cinco estarão envolvidos num esquema para garantir aprovação de carros na inspecção.
Um inspector e um casal de seguranças da Polícia Judiciária (PJ), um agente da PSP e um militar da GNR na reserva foram detidos nesta terça-feira no âmbito de uma grande operação chamada Roda Viva levada a cabo pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) na zona da Grande Lisboa, adiantou ao PÚBLICO fonte da PJ. No inquérito, aberto há cerca de um ano, é investigada a actividade de dois centros de inspecção localizados na área metropolitana da capital.
Cerca de 200 inspectores desta unidade da PJ começaram a desenvolver buscas logo pela manhã desta terça-feira, numa investigação dirigida pelo Departamento de Investigação e Acção Penal de Sintra. Foram efectuadas 70 buscas a residências, oficinas e a centros de inspecção automóvel. No total, foram detidas 20 pessoas, das quais 16 são homens e quatro mulheres. Da lista de detidos fazem parte oito funcionários de centros de inspecção automóvel, sete empresários e colaboradores de oficinas de reparação automóvel, além dos cinco elementos das polícias.
Estes cinco detidos desempenhariam o mesmo tipo de papel. Fora do horário de trabalho levariam carros de terceiros aos centros de inspecções suspeitos, pagando para garantir que os automóveis inspeccionados passavam nos exames. Cada polícia estaria ligado a uma oficina, sendo alguns deles sócios dessas empresas. Os suspeitos não integram uma rede, estando em investigação várias situações distintas. Não há relação entre os crimes e as funções que estes suspeitos desempenham nas respectivas polícias, realçou fonte da Judiciária. Isto apesar de um deles trabalhar na secção de transportes da PJ, onde tratava da burocracia das viaturas daquela policia, um conhecimento que lhe seria útil.
Nada impede um elemento de uma polícia de ser sócio de uma empresa. Só podem, contudo, exercer funções nos cargos sociais se estiveram devidamente autorizados pelas respectivas hierarquias, que têm que considerar que não existe qualquer conflito de interesses na acumulação.
Receberiam dezenas de euros por cada automóvel
A PJ não quis revelar as contrapartidas financeiras e em espécie que seriam entregues aos funcionários e responsáveis dos dois centros de inspecção, salientando apenas que seriam quantias pequenas, na ordem das poucas dezenas de euros. Os inspectores acreditam que nem todos os proprietários dos automóveis que beneficiariam deste esquema saberiam dos pagamentos feitos aos funcionários dos centros de inspecção e admitem que algumas das viaturas até reuniam condições para passarem na inspecção. Os 20 detidos são suspeitos de crimes de corrupção, peculato, abuso de poder e falsificação de documentos. Segundo um comunicado do Ministério Público, citado pela Lusa, os detidos vão ser presentes esta quarta-feira ao juiz de instrução criminal em Sintra.
Não é a primeira vez que elementos policiais são detidos por suspeitas de corrupção ligadas a centros de inspecção. Em Outubro do ano passado, um inspector de um centro de fiscalização automóvel, em Lisboa, e dois agentes da PSP foram detidos pela própria PSP por suspeitas de estarem envolvidos num esquema de corrupção que permitiria atribuir certificados de inspecção a carros que não cumpriam os requisitos obrigatórios. Após o primeiro interrogatório judicial, o inspector de automóveis foi suspenso de funções. Segundo um comunicado divulgado na altura no site da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, os três arguidos ficaram proibidos de frequentar centros de inspecção e de contactarem entre si.
Uns meses antes, em Maio, uma outra investigação levada a cabo pela PJ culminou com a detenção de nove inspectores que trabalhavam num centro localizado na zona industrial do Porto, indiciados pelo crime de falsificação de notação técnica. O inquérito terá detectado a existência de veículos que passariam na inspecção sem nunca sequer terem entrado no centro. Tal permitia a circulação de viaturas com anomalias, o que coloca em risco a circulação rodoviária, constatava a PJ.