Com Paris no horizonte e O Ornitólogo a pairar, João Pedro Rodrigues invade Vila do Conde
A dupla formada por Rodrigues e pelo seu companheiro de vida e criação João Rui Guerra da Mata vai estar em foco na edição 2016 do Curtas.
Aguardamos ainda novidades sobre a estreia de O Ornitólogo, a longamente antecipada quinta longa-metragem de João Pedro Rodrigues. Mas 2016 está a provar ser um ano importante para o autor de O Fantasma e Morrer como um Homem. Haverá uma retrospectiva integral dos seus filmes no Centro Pompidou, em Paris, a partir de 25 de Novembro e até Janeiro de 2017, acompanhada por instalações e pela “pré-estreia” de O Ornitólogo; antes, contudo, a dupla formada por Rodrigues e pelo seu companheiro de vida e criação João Rui Guerra da Mata vai estar em foco na edição 2016 do Curtas Vila do Conde (9 a 17 de Julho) vezes três. Uma: a edição em DVD das curtas realizadas quer a solo quer em dupla. Duas: uma “Carta Branca” aos dois realizadores, com quatro sessões durante o festival. Três: Do Rio das Pérolas ao Ave, um conjunto de instalações expostas na Solar – Galeria de Arte Cinemática que transborda o festival, com abertura a 2 de Julho e encerramento a 25 de Setembro.
A grande novidade são os dois meses durante os quais João Pedro Rodrigues vai estar em foco no Centro Pompidou, num evento há longo desejado pelo departamento de cinema da instituição parisiense. À volta da retrospectiva integral das suas realizações, Rodrigues irá realizar a primeira apresentação pública oficial de O Ornitólogo, a história de um cientista perdido durante uma viagem de investigação (embora não seja impossível que até lá o filme surja no programa de um festival de cinema). Em paralelo, será exibida a instalação Santo António, criada em 2013 à volta da curta Manhã de Santo António para o Mimesis Art Museum coreano, a par de um novo projecto expositivo ainda no “segredo dos deuses”; e haverá ainda um ciclo de filmes de alunos do Le Fresnoy – Centro Nacional das Artes Contemporâneas comissariado por Rodrigues, que tem sido um dos professores convidados na instituição.
Antes, haverá Vila do Conde, onde Rodrigues e Guerra da Mata tomarão conta da Solar ao longo de três meses. Do Rio das Pérolas ao Ave define-se nas palavras dos próprios como um “percurso lúdico pelo universo dos nossos filmes, procurando e provocando novos diálogos e confrontos que possam iluminar o nosso trabalho”. Trabalhando a partir maioritariamente do trabalho em curta-metragem da dupla (mas excluindo Santo António), oito das nove peças multimedia são criações inteiramente novas. Uma delas – 16-05-2014, Esta Obra É Passível de Provocar uma Experiência Desconfortável e Emoções Negativas no Público Chinês - alude à censura da curta Alvorada Vermelha numa exposição colectiva em Beijing; outra, Casting #1: Telmo Ricardo Menezes, 13-2-1999, trabalha a partir do teste de casting feito àquele que seria o actor principal de O Fantasma. Rodrigues e Guerra da Mata farão uma visita guiada pela exposição no dia 14, pelas 16h00, e convidaram igualmente o artista plástico João Gabriel Pereira para criar uma peça a ser exibida ao mesmo tempo no âmbito do projecto CAVE.
O pequeno ciclo de “Carta Branca”, numa escolha apresentada pelos próprios realizadores, propõe em três sessões (a 13, 15 e 16) uma dezena de curtas clássicas assinadas por nomes como Keaton, Chaplin, Tati, Beckett, Genet, Andy Warhol ou Godard, acompanhadas na tarde de 16 pela projecção seguida de debate de Mahjong, curta realizada por Rodrigues e Guerra da Mata em 2013 a convite do projecto Estaleiro de Vila do Conde. Finalmente, o DVD (terceiro volume da série Fnac/Curtas, sucedendo aos títulos dedicados a Thom Andersen e a Miguel Gomes) reune a totalidade das curtas dirigidas quer por Rodrigues e Guerra da Mata individualmente quer a dois (como a “trilogia chinesa” formada por China, China, Alvorada Vermelha e Mahjong).