No mundo das startups, depois dos unicórnios vêm as baratas
Com receios sobre as valorizações muito elevadas, a linguagem dos investidores muda de metáfora.
O mundo do empreendedorismo está cheio de jargão de todo o tipo. Nesta quarta-feira, na Lisbon Investment Summit, um evento em Lisboa dedicado a startups, foi a vez de surgir, pelo meio das frases habitualmente ouvidas neste género de conferências, uma metáfora que, estando longe de ser nova, tem vindo a ganhar força nos meses recentes: em vez de unicórnios, as startups devem ser baratas.
Desta feita, a dica foi deixada por Eze Vidra, investidor e ex-sócio num fundo de capital de risco do Google para a Europa, que deu uma breve entrevista em palco (conduzida pelo fundador da startup Codacy, Jaime Jorge, e perante uma plateia praticamente sem perguntas para fazer).
“O crescimento a todo o custo não é saudável para as startups. Costumávamos glorificar unicórnios: não interessa quanto dinheiro se queima, queríamos chegar à valorização de mil milhões de dólares”, afirmou Vidra, notando que, no que diz respeito o investimento de risco, há um ano “as coisas eram diferentes”.
As startups-unicórnio precisam de muito capital. São aquelas que chegam a uma valorização de, pelo menos, mil milhões de dólares antes de entrarem em bolsa (este valorização é calculada com base no preço a que foi comprado o capital por parte de quem investiu). Um exemplo muito conhecido é a Uber, cuja actual valorização daria para muitos unicórnios (só o fundo soberano da Arábia Saudita investiu recentemente na empresa 3500 milhões de dólares).
Por outro lado, as baratas são aquelas startups que mantêm os custos controlados e se preocupam em ser rentáveis depressa - e que, por isso, estarão mais bem preparadas para um mundo com menos capital disponível para investimento, um cenário sobre o qual se têm vindo a avolumar receios. Vidra aludiu um "desastre nuclear" (embora a ideia de que aqueles insectos sobrevivem a radiação nuclear é, essencialmente, um mito).
Há indicadores que apontam para que o investimento de risco esteja em queda. Um estudo da consultora KPMG indica que, no último trimestre de 2015, este tipo de financiamento afundou 28% a nível global, quando comparado com o trimestre anterior. No primeiro trimestre de 2016, a descida continuou, com um recuo de 8%.
Na linguagem do ecossistema (pelo menos) o mítico cavalo com um único chifre parece estar a caminho de ser substituído por um vulgar (e pouco apreciado) insecto.