A prova não contava para a nota, mas os alunos não deixaram de fazê-la

Mais de 96% dos estudantes fizeram nesta segunda-feira as provas de aferição de Português do 2.º, 5.º e 8.º ano, que foram consideradas acessíveis. Segue-se Matemática, já nesta quarta-feira.

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Para os alunos da escola Clara de Resende, no Porto, as provas foram fáceis Rui Farinha/NFactos
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O facto de a prova de aferição de Português, realizada nesta segunda-feira, não ter impacto nas notas, não afastou os alunos. De acordo com os dados oficiais, a taxa média de participação dos estudantes do 2.º, 5.º e 8.º ano no teste ficou acima dos 96%. Os directores das escolas garantem que tudo correu “sem sobressaltos” no dia de estreia do novo modelo de avaliação do ensino básico, criado este ano pelo Governo.

De acordo com os dados fornecidos pelo Júri Nacional de Exames, a taxa de participação foi maior quanto mais velhos fossem os alunos que faziam a prova de aferição. Assim sendo, 95,7% dos estudantes do 2.º ano compareceram nas suas escolas para fazer o teste nacional, ao passo que, no 8.º ano, esse número subiu para 97,2%. Em média, 96,4% dos inscritos participaram na prova de Português — que, no caso do 2.º ano, continha ainda uma componente da disciplina de Estudo do Meio.

Uma vez que as provas de aferição não têm impacto na avaliação dos alunos, ao contrário do que acontecia com os exames nacionais, havia a expectativa de perceber se os estudantes iriam ou não usar esse facto como forma de não realizarem as provas. “Por mim, é-me igual fazer a prova ou não, porque não conta para a nota”, dizia Joana, aluna do 5.º ano da EB 2,3 Clara de Resende, no Porto, no final da prova. A opinião era partilhada por muitos dos seus colegas. Se, por um lado, a expectativa dos professores era grande, por outro os alunos desvalorizavam uma prova que apenas conta para conhecer as suas dificuldades às principais disciplinas.

Antes de o ministério ter divulgado os dados finais, os directores das escolas antecipavam o mesmo tipo de impactos do novo modelo. Os alunos “compareceram nas escolas que decidiram realizar a prova”, disse ao PÚBLICO Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas. “Houve alguns estudantes que, por uma ou outra razão, não realizaram a prova, mas nada de anormal ou extraordinário”, acrescentou o presidente da Associação Nacional de Directores de Escolas, Manuel Pereira.

Segundo os dados oficiais, houve 125.001 alunos do ensino básico a realizar, esta segunda-feira, as provas de Português — um número que fica aquém da estimativa feita pelo PÚBLICO, que apontava para 175 mil estudantes em condições de fazer a prova, um dado que tinha em conta o facto de 57% das escolas terem optado por fazer a prova neste primeiro dia de aplicação do novo modelo de avaliação do ensino básico e o número de inscritos nos três anos lectivos em que são feitos os testes padronizados.

Apesar de ser a primeira vez que as escolas faziam estas provas, os dirigentes escolares garantem que a sua aplicação não causou grandes transtornos nas escolas. “O dia correu como era suposto correr, sem problemas”, avalia Manuel Pereira. “Não houve sobressaltos”, confirma Filinto Lima.

“Aferir o sistema”

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, também fez um “balanço positivo” do primeiro dia de provas de aferição, dizendo que os sinais recebidos das escolas de todo o país foram de “serenidade e tranquilidade”. À margem de uma visita à Feira do Livro de Lisboa, o governante considerou “significativo” o número de escolas onde foram feitas as provas de aferição.

Os resultados das provas deverão dar dados que permitam à tutela “aferir o sistema”, antecipa o ministro, que as classificou como um “instrumento importante” para que as escolas, as famílias, os alunos e os professores “possam ter um retorno importante relativamente aos processos de aprendizagem” em função dos quais poderão, no próximo ano, responder a problemas que sejam detectados nas comunidades educativas ou nos percursos individuais dos alunos.

À saída da escola Clara de Resende, no Porto, a percepção dos alunos do 5.º ano era de que a prova tinha sido acessível. Maria não tinha dúvidas: “Era muito parecido com o exame do 4.º ano.” Beatriz concordava: “Parecia mais uma prova de cruzinhas do que uma prova de Português.” Joana e Guilherme, colegas da mesma escola, também acharam que a prova de Português era muito fácil, por não ter saído “quase nada de gramática”. A opinião era unânime entre os mais de 160 alunos do 2.º ciclo daquela escola que, a partir das 10h30 desta segunda-feira, se sentaram com a prova de aferição à sua frente.

Guilherme achava mesmo que “até se fazia aquilo no 4.º ano”. Mas a professora Isabel, vigilante na prova de português, era mais cautelosa: “Era uma prova acessível, que tinha muito a ver com aquilo que demos nas aulas, mas exigia muita, muita concentração.” A professora destacou que, “nestas idades, esse é o problema maior”.

A novidade deste ano foi a avaliação da compreensão oral da língua portuguesa. Uma estreia nas provas de aferição bem recebida pelos alunos. “Podíamos realizar mais vezes, correu muito bem”, dizia Beatriz.

A prova incluía a interpretação de dois textos, entre eles um excerto de A Floresta, de Sophia de Mello Breyner, um exercício de escrita narrativa e exercícios de gramática. Foi aqui que o vocativo e a pronominalização dos verbos podem ter sido as armadilhas da prova, destacou a professora.

Também a prova de Português do 2.º ano era “acessível, dentro daquilo que se preparou”, descreveu uma outra professora do mesmo agrupamento, Fátima, que acompanhou uma das salas em que o teste foi feito. Esta docente do 1.º ciclo destacou alguns termos “que precisavam de uma explicação adicional”. Também as perguntas podiam ser mais directas e adequadas às crianças de sete anos, apontou, repetindo uma crítica várias vezes feita nas avaliações nacionais.

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