Copa América deixa zona de conforto para seduzir em terreno minado
Edição especial Centenário 2016 decorre, até ao próximo dia 27, pela primeira vez no hemisfério norte, onde o Chile defende um título inédito e a FIFA enfrenta uma longa investigação.
Arrancou na última madrugada, na Califórnia, com um EUA-Colômbia, a edição especial “Centenário 2016” da venerável Copa América. Com a proeza chilena ainda fresca na memória colectiva, esta competição verdadeiramente pioneira a uma escala continental saiu da sua zona de conforto com a missão de seduzir o norte e preencher um vazio competitivo de 22 anos que perdura desde o Mundial de 1994.
Apesar do exemplo flagrante do Chile e de ser a primeira vez na história que a “velhinha” (epíteto carinhoso da “Copa”) dribla o hemisfério sul, poucos arriscarão um vencedor que não conste do reduzido lote de selecções predilectas, do qual, por força do próprio destino, emerge a Argentina de “Lio” Messi, finalista vencido, em 2015, pelo Chile, no recurso às grandes penalidades.
E nem mesmo as limitações físicas de “La Pulga” parecem suficientemente fortes para travar o desejo de arrebatar este precioso troféu, originalmente concebido para comemorar a passagem do primeiro século de independência da República argentina, declarada em 1816.
Momento, portanto, mais do que indicado — apesar de Tévez ter sido “riscado” por Tata Martino — para aconchegar o estômago após um jejum de 23 anos. Conquista que serviria, ainda, para exorcizar os fantasmas de Messi na casa “alviceleste”, onde o acumular de pó na montra privada de troféus data dos Jogos Olímpicos de 2008.
Para o “astro” argentino, a final marcada para a “Big Apple” chega exactamente dois dias depois do seu 29.º aniversário, o que de certa forma compensaria as decepções nas finais com o Chile e, pior ainda, com a Alemanha, no Mundial de há dois anos, em pleno Maracanã.
E do Brasil chega outro crónico candidato à vitória, mesmo face a um “escrete” petrificado pela sucessão de imprevistos que obrigaram Dunga a mudar a convocatória original por sete vezes, adensando as dúvidas levantadas pela ausência de Neymar, reservado para os Jogos Olímpicos.Talvez para compensar tanta turbulência, a “canarinha” tenha caído num grupo simpático, na companhia de Equador, Haiti e Peru.
Porém, numa prova que inscreve 16 selecções (dez do sul e seis do centro-norte-Caraíbas), será demasiado redutor não admitir a hipótese de emergir um outsider. Mesmo que ainda falte mencionar os uruguaios, campeões em matéria de títulos (15) e de participações (43) na prova que agora parte para a 45.ª edição.
Mas como nem a história nem a tradição ganham finais, a Copa América tem que puxar dos galões se quiser emocionar o planeta futebol e baralhar as contas da luta pelo mediatismo, dividindo as atenções com o Euro 2016, numa espécie de antecâmara dos Jogos Olímpicos.
Para este duelo transatlântico muito pode contribuir o charme do Chile de Arturo Vidal e Alexis Sánchez, agora com Juan Antonio Pizzi (outro argentino) no comando. O detentor do troféu prepara-se para a quase hercúlea tarefa defender o primeiro título de campeão, algo extremamente raro e que só Uruguai, Argentina e Brasil conseguiram concretizar. E para dissipar dúvidas, nada melhor do que a reedição da final de Santiago logo na primeira fase, frente à Argentina, que poderá deixar indicações seguras sobre o atrevimento dos campeões em título.
Emoção é, pois, coisa que não faltará. Americanos e colombianos deram — enquanto a Europa dormia — o mote sobre a Falha de Santo André, a escassas horas de viagem do não menos famoso “Rose Bowl”, estádio dos subúrbios de Los Angeles onde, há 22 anos, os EUA chocaram a Colômbia, num abalo sentido dos Andes à Amazónia que culminaria com o assassinato de Andrés Escobar, alegadamente vítima do auto-golo de Passadena.
Bem mais longe da tragédia e íntimo da festa da Copa América, surge o colosso Uruguai de Luis Suárez, apesar de a lesão do Bota de Ouro privar Oscar Tabárez do “matador” até à fase a eliminar. Para este coleccionador de Copas, particularmente sedento da reconquista do troféu que lhe escapa há cinco anos, não há mais tempo a perder. Até porque desta feita, em termos de territorialidade, a vantagem dilui-se para qualquer dos pesos-pesados, que pisarão um terreno minado para outra espécie de tubarões.
É que, no pico de uma convulsão provocada pela investigação que feriu a estrutura da FIFA — que ontem revelou mais contornos do escândalo —, os EUA tiveram o mérito de atrair mais do que os genuínos amantes do “soccer” a uma “armadilha” montada nas duas costas. Um palco preparado para fugir ao efeito das crises governativas que marcam muitos dos países mais a sul, numa tentativa de promover a modalidade num território onde a paixão pelo futebol ainda não saiu da fase de apresentação.
Grupos
Grupo A
EUA - Colômbia 4 de Junho (já disputado)
Costa Rica - Paraguai 4 de Junho 22.00h
EUA - Costa Rica 8 de Junho 01.00h
Colômbia - Paraguai 8 de Junho 03.30 h
EUA - Paraguai 12 de Junho 00.00h
Colômbia - Costa Rica 12 de Junho 02.00h
Grupo B
Haiti - Peru 5 de Junho 00.30h
Brasil - Equador 5 de Junho 03.00h
Brasil - Haiti 9 de Junho 00.30h
Equador - Peru 9 de Junho 03.00h
Equador - Haiti 12 de Junho 23.30h
Brasil - Peru 13 de Junho 01.30h
Grupo C
Jamaica - Venezuela 5 de Junho 22.00h
México - Uruguai 6 de Junho 01.00h
México - Jamaica 10 de Junho 00.30h
Uruguai - Venezuela 10 de Junho 03.00h
México - Venezuela 14 de Junho 01.00h
Uruguai - Jamaica 14 de Junho 03.00h
Grupo D
Panamá - Bolívia 7 de Junho 00.00h
Argentina - Chile 7 de Junho 03.00h
Chile - Bolívia 11 de Junho 00.00h
Argentina - Panamá 11 de Junho 02.30h
Chile - Panamá 15 de Junho 01.00h
Argentina - Bolívia 15 de Junho 03.00h