“Todos deviam envolver-se com as empresas no combate à escravatura”

Três perguntas a Fiona David, directora executiva do departamento de pesquisa global da Walk Free Foundation, que produziu o Índice Global da Escravatura.

O número de pessoas escravizadas em Portugal parece gigante. Como contextualizar os quase 13 mil?
Em termos absolutos, há 121 países que têm problemas maiores do que Portugal, que é dos países com menor prevalência de escravatura moderna. Claro que isto é um número grande e preocupante mas, mesmo assim, Portugal está numa categoria de vulnerabilidade ao risco baixa comparado com outros países.

O que significa ser escravo em Portugal?
Usamos os nossos indicadores. O primeiro é que a pessoa tem que ser explorada, o segundo é que tem que ser posta naquela situação por alguém e não consegue sair — por isso, um dos indicadores que procuramos é o uso de algum tipo de força, ameaça, confisco de documentos. Por vezes, as pessoas são mesmo tratadas como animais. Não sabemos os nomes, nem quem são — isto é uma estimativa. O que sabemos é que em Portugal há situações em que as mulheres foram forçadas a trabalhar na indústria do sexo e temos homens a serem explorados na agricultura. Isto inclui pessoas do Brasil, Europa Central e de África — Moçambique, Nigéria e Marrocos.

Que medidas Portugal poderia adoptar para combater a escravatura?
O que todos os países podiam fazer era envolverem-se mais com as empresas e investigar como podem ajudar tanto o Governo como a sociedade a atacar este problema. Seria fantástico se Portugal pudesse consciencializar as suas empresas a investigar este tema na cadeia de fornecedores e certificar-se de que seria criado um sistema que juntasse o sector privado, o Governo e a sociedade civil no combate à escravatura.

 

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