E, sem surpresas, começou mais um Rock In Rio
O Parque da Bela Vista preenche-se de público, as animações dos stands de patrocinadores já carburam a todo o vapor, a roda gigante roda. Springsteen, o nome indispensável desta edição, chega às 23h45.
No Palco Mundo, um grupo de bailarinos/actores olha embevecido para um Freddie Mercury, igualmente bailarino/actor, que canta Love of my life como se estivéssemos em 1985, o ano do primeiro Rock In Rio, realizado no Rio de Janeiro. São 19h15 e o público que foi chegando em ritmo constante desde as 16h em que abriram as portas da chamada Cidade do Rock, no Parque da Bela Vista, em Lisboa, vai-se acomodando no relvado. Observa pachorrento o que se passa em palco, sem pensar muito na história que se conta. Isso, o musical – basicamente, uma sucessão de canções das bandas que passaram pelo festival ao longo dos anos –, é uma novidade do Rock In Rio 2016.
Às 16h30, subindo a avenida Dr. Arlindo Vicente para chegar ao já familiar pórtico de entrada, via-se, à direita, a inclinação relvada na qual se erguem, maciços, os prédios pintados em amarelo-torrado do bairro. À janela, uma dona de casa punha a roupa a secar no estendal. Ali, mais uma tarde como todas as outras. Já caminhando entre o público, viam-se as baias separadoras para ordenar a entrada do público, viam-se à esquerda as vedações que delimitam a “cidade” Rock In Rio e começavam a tornar-se mais nítidos os sons que dela chegavam. Gritos de incentivo, batida electrónica, animação. Os stands dos patrocinadores, com as suas actividades – aulas de dança ou aulas de fitness como aulas de dança, por exemplo – já carburavam a pleno vapor. À direita, a aparência de um dia como qualquer outro no bairro. À direita, o Rock In Rio Lisboa tal como o conhecemos.
Como mergulhar num vulcão e sobreviver no Rock In Rio
Há uma piscina junto ao palco Electrónica, mas ainda é cedo e está vazia – ainda não foi descoberta pelo público. Eis a segunda novidade. Quanto ao resto, o Rock In Rio é máquina testada e oleada. Está tudo no seu lugar, tal como há dois anos, tal há quatro anos. Neste centro de entretenimento de grandes dimensões, a roda gigante continua a rodar perante a muita procura, o slide montado frente ao palco desliza a intervalos regulares, os sofás insufláveis vermelhos continuam a ser o item mais procurado e aquele pelo qual ninguém se importa de esperar uma imensidão nas longas filas para os obter.
No palco Vodafone, aquele em que o presente musical se apresenta em programação cuidada, o duo portuense Sunflowers mostrará, perante o pouco público presente às 16h30 em que começaram, um rock’n’roll cru tão chegado a melodias trauteáveis quanto a bem-vinda corrosão eléctrica e a acelerações punk. O público chegará em maior número para ver os Keep Razors Sharp, nascidos em Lisboa, mostrar a sua música de ritmo compassado e nebulosa eléctrica – o caminho que se descobre entre a carnalidade blues e as alturas cósmicas do psicadelismo. Dentro em pouco, será tempo de ouvir os sempre festivos, sempre excessivos Black Lips, de Atlanta.
Enquanto isso, os que vieram para ver o grande nome desta edição do festival, Bruce Springsteen – as t-shirts não enganam –, os miúdos em correria entusiasmada como miúdos que são, os curiosos chegados pela primeira vez que observam com vagar as redondezas ou os estrangeiros vindos do Norte europeu em modo banhos de sol, aproveitam para se ambientarem. No palco Mundo, continua o musical. Às 20h, chegam os Stereophonics. Depois, os Xutos & Pontapés. Às 23h45, o Boss começa o seu concerto sob o signo de The River, o histórico álbum de 1980, que se prevê prolongado por três horas e meia. Vimo-lo há quatro anos neste mesmo espaço, mas um concerto de Springsteen é sempre uma surpresa. Quanto ao Rock In Rio, instalado e bem-sucedido, já dispensa surpresas.