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Fátima comemora aparições a pensar no centenário de 2017

Ainda não se sabe quando vem nem quanto tempo vai ficar, mas a potencial visita do Papa Francisco ao santuário de Fátima no ano do centenário das aparições faz com que os vários actores apontem para o próximo ano

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Novo elemento arquitectónico está a ser introduzido no recinto do santuário Enric Vives-Rubio

Perante a visita esperada mas ainda não confirmada do Papa Francisco, as celebrações deste ano revestem-se de um carácter preparatório para as comemorações do próximo ano. Santuário, autoridades e agentes hoteleiros da região preparam-se para uma enchente de maior expressão do que a que se regista todos os anos naquela localidade do distrito de Santarém.

O cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, disse nesta quinta-feira aos jornalistas, no santuário, que o Papa “apenas expressou a intenção de vir a Fátima no próximo ano”, sem conseguir adiantar muito mais. O último representante máximo da Igreja Católica a visitar o santuário foi Bento XVI, em 2010, por ocasião do décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos Jacinta e Francisco Marto.

O calendário em contagem decrescente no topo da página oficial do santuário na Internet vai retirando segundos ao tempo que falta para as comemorações dos 100 anos das aparições de Fátima. Para reforçar a ideia, os responsáveis pelo recinto inauguraram também um relógio no recinto que faz o mesmo tipo de contagem.

Infra-estruturas

A preparação das celebrações sagradas passa pelo investimento em bens terrenos. Não tem a escala da Basílica da Santíssima Trindade, inaugurada há quase uma década, mas um novo elemento arquitectónico foi introduzido no recinto. Com espaço para 120 concelebrantes, o altar principal foi renovado sob o traço do arquitecto grego Alexandros Tombazis (o mesmo que desenhou a basílica) e tem uma altura 2,4 metros inferior à do anterior. O santuário está a instalar um sistema de câmaras robotizadas de alta definição para registar as celebrações e a sala de imprensa, onde trabalham os jornalistas, foi também alvo de intervenção.

Os preparativos para o centenário das aparições passam igualmente pelas infra-estruturas fora do santuário. A 6 de Maio, foi inaugurado o novo Posto de Turismo de Fátima, mesmo a tempo das celebrações deste ano. Com um custo de 160 mil euros, o edifício da Entidade Regional do Turismo do Centro pretende simplificar a vida dos visitantes do maior pólo de turismo religioso em Portugal.

São estes visitantes que enchem anualmente as unidades hoteleiras da localidade por esta época. Este ano não é excepção, mas a iminência da visita do Papa Francisco fez com que os operadores se antecipassem na reserva de quartos. Tanto que, de acordo com a Associação Empresarial Ourém-Fátima (ACISO), os quartos para 13 de Maio de 2017 já estão esgotados.

O presidente da ACISO, Alexandre Marto, explica que, como a “enorme maioria dos hotéis tem contratos de distribuição com operadores turísticos, quando se começou a falar que o santo padre poderia vir, a pressão aumentou imediatamente”. Fátima tem cerca de 15 mil camas distribuídas entre hotéis, alojamento local e camas da Igreja, mas já “está praticamente tudo esgotado” para o próximo ano. O presidente da ACISO afirma que, normalmente, os operadores fecham o negócio com vários meses de antecedência, mas que não é comum fazê-lo com mais de um ano de avanço. Com alturas de maior procura, a taxa de ocupação hoteleira na região ronda os 30% ao longo do resto do ano, subindo substancialmente em Maio, Setembro e Outubro, refere Alexandre Marto.

Com o previsível aumento do afluxo de pessoas, as autoridades estão no terreno a testar medidas de segurança para o centenário. A Operação Peregrinação Segura, anunciada pelo porta-voz da GNR, Marco Cruz, na quarta-feira, ensaia um dispositivo para a visita do Papa em 2017.

O planeamento da segunda fase desta operação envolve 200 agentes e equaciona “cenários, desde o simples furto de carteiras até cenários de maior gravidade”, disse o porta-voz citado pela Lusa. A articulação entre “várias entidades” é outro dos pontos salientados, uma vez que estão a ser “treinados alguns dispositivos com o objetivo de garantir a segurança desta peregrinação” mas que também são “testados este ano para serem aplicados no próximo”.

Marco Cruz adiantava ainda que seria introduzido um controlo de objectos e de pessoas no acesso à cidade, sendo que referia a possibilidade de haver revistas selectivas num raio mais próximo do santuário.

No terreno entre esta quinta e sexta-feira, a operação desencadeada pela Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) envolve outros 300 operacionais entre INEM, Cruz Vermelha, Protecção Civil e Corpo Nacional de Escutas. O objectivo é garantir a segurança e primeiros socorros aos peregrinos.

Na estrada

Vários grupos de peregrinos iam ainda chegando a Fátima na manhã desta quinta-feira. Por essa hora, o vaivém de carrinhas de apoio fazia prever que muitos ainda não tinham terminado a caminhada. Os que vêm de localidades a Sul chegam através da estrada de Minde, à beira da qual se pode encontrar o Café Rosa, a cerca de dois quilómetros do Santuário. Um cartaz escrito à mão com as palavras em letras maiúsculas “SAIU AQUI” denuncia o sítio onde foi registado na passada sexta-feira o boletim vencedor do jackpot de 73 milhões de euros do Euromilhões.

A dona do estabelecimento, Lurdes Rosa Alves, conta ao PÚBLICO que por estas alturas é normal um aumento da clientela, uma vez que a casa “já tem muitos anos”. O que não é normal é o café encher-se de câmaras de televisão e jornalistas, como aconteceu assim que se soube onde tinha apostado o vencedor. Agora os peregrinos vão passando e também vão jogando mais. O telefone também toca com maior frequência, mas sem que tenha havido sinal do vencedor.

Com o santuário como destino final, este ano são esperados 137 grupos de peregrinos provenientes de 34 países diferentes. A soma supera os 7 mil crentes, mas terá ainda que se acrescentar os grupos que não se registaram e restantes devotos.

Ao cair da noite desta quinta-feira, são já muitos os que montam cadeira desdobrável e farnel junto ao gradeamento central do santuário, para guardar um lugar de primeira fila para a procissão das velas.

Enquanto aproveita uma pausa nas cerimónias religiosas para repousar as pernas num dos bancos do recinto, António Fernandes, que partiu há três dias do Cacém, conta que este é o segundo ano consecutivo que vem a Fátima. O caminho, diz, fê-lo “parte pela promessa, parte pelo prazer” do convívio e percurso. Veio num grupo de 130 peregrinos e recorda que “foi complicado”, principalmente devido à chuva, por contraste com o ano passado, em que esteve sol. António diz que 2017 “será mais um ano e ainda será mais reconfortante por chegar” sabendo que é o centenário das aparições. “Se o Papa também vier, melhor”, afirma.

Também pelo segundo ano, Micael Simões veio de Cantanhede. Leva um cachecol do Futebol Clube do Porto ao pescoço mas garante que vem para cumprir uma promessa não relacionada com futebol. Até porque a prestação da equipa nesta época não foi a melhor.

Atropelados três peregrinos em Albergaria-a-Velha

Apesar da Operação Peregrinação Segura (a primeira fase envolveu cerca de 4000 militares nas estradas desde 4 de Maio), este ano foram atropelados três peregrinos em Albergaria-a-Velha, distrito de Aveiro. Nenhum ficou em estado grave, mas na memória está ainda a morte de cinco pessoas, em Cernache, de Coimbra, no ano passado, quando seguiam a pé na berma do IC2 em direcção a Fátima.

O padre Rui Louro, da Associação dos Amigos dos Caminhos de Fátima, considera que há falta de divulgação dos trajectos alternativos para fazer a peregrinação em maiores condições de segurança. “Há novos caminhos que conduzem a Fátima, já estão sinalizados com setas, e grande parte deles são feitos por campo”, explica.

O sacerdote lamenta que essas vias ainda não sejam suficientemente difundidas e entende que “as entidades oficiais ainda não se abriram suficientemente para esse tipo de caminhos”, talvez por ainda não estarem “sensibilizadas para a importância desses caminhos a todos os níveis”. Entre as razões para utilizar esses percursos, o responsável pela associação que aconselha caminhos alternativos, alojamentos e equipamentos a levar na peregrinação aponta a “maior segurança” e a “maior facilidade de as pessoas estarem consigo próprias”. “A peregrinação não é só uma corrida para chegar a Fátima, mas é um momento também de reflexão” e dessa forma não teriam que estar preocupadas com o próximo carro, particulariza.

O reitor do santuário, padre Carlos Cabecinhas, na conferência de imprensa, fez questão de realçar que esta não é uma responsabilidade do santuário. “Não se passe para o santuário aquilo que não é do santuário”, disse o padre, apelando à prudência de automobilistas e peregrinos.

Sobre as razões que levam os peregrinos a optar por estradas mais movimentadas e perigosas, o padre Rui Louro sugere que a escolha se deva ao facto de esses caminhos serem “mais fáceis e mais rápidos”, com maior acesso a restaurantes, cafés e às carrinhas de apoio. Isto além de os guias, pessoas que fazem o trajecto há vários anos, terem o hábito de ir por ali. Apesar de referir alguns contactos com o santuário e também com algumas câmaras municipais, o padre Rui Louro considera que há ainda muito trabalho a ser feito.

O padre Carlos Cabecinhas realça que tem havido um aumento no esforço sensibilização por parte de entidades como a GNR e a Infra-estruturas de Portugal de modo a garantir uma maior protecção dos peregrinos. O reitor refere ainda que a estrutura tem “procurado apoiar iniciativas” nesse sentido. 

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