Uber contrata ex-comissária europeia da concorrência

Neelie Kroes, responsável pela agenda digital no tempo de Barroso, vai integrar um conselho consultivo na multinacional.

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Kroes manifestou-se em 2014 contra uma decisão judicial de banir a aplicação na Bélgica Sebastien Pirlet/Reuters

A Uber, a aplicação para chamar um carro com motorista que entra em conflitos regulatórios à mesma velocidade a que se expande para novas cidades, contratou a antiga comissária europeia Neelie Kroes, que teve a pasta da agenda digital durante o segundo mandato de Durão Barroso e que já era nessa altura uma defensora da empresa.

Kroes fará parte de um conselho consultivo que tem em mãos as tarefas de aconselhar a multinacional a navegar pelas complicadas águas das regulações de transportes e concorrência, tanto dentro como fora da Europa. De acordo com o jornal Financial Times, que avançou a notícia, desta equipa farão também parte, entre outros, Ray LaHood, antigo secretário de estado dos transportes dos EUA, Roberto Dañino, primeiro-ministro peruano no início da década passada, e a princesa Reema Bandar al-Saud, da Arábia Saudita – é um país onde as mulheres têm várias limitações legais e culturais, nomeadamente no que diz respeito a deslocações, e onde a Uber afirma estar a ter um papel importante na mobilidade das mulheres.

Ao Financial Times, Kroes afirmou que a multinacional deve mudar a forma como comunica. “A Uber precisa de comunicar de forma muito diferente. Têm de ter em conta que ainda há diferenças culturais. Não pensar que toda a gente os está a atacar”.

A Uber, que compete com transportes como os táxis, tem enfrentado vários desafios legais e foi já banida em alguns países europeus. No essencial, a multinacional argumenta que é apenas uma plataforma de reservas, que junta pessoas que precisam de quem as transporte a pessoas com carros disponíveis. O serviço, porém, desdobra-se em modalidades, nem todas disponíveis em simultâneo em cada cidade. Em Portugal, por exemplo, os carros têm motoristas profissionais e pertencem a empresas, mas há países – como é o caso dos EUA – onde alguns condutores trabalham de forma independente, com o próprio carro e, muitas vezes, de forma irregular, como forma de obter rendimento extra.  

Há dois anos, Kroes, ainda comissária, vociferou contra a decisão de um tribunal belga de proibir a aplicação. Num tom que não é frequente no discurso das cúpulas europeias, escreveu um texto com o título “Decisão louca do tribunal de banir a Uber em Bruxelas”, no qual dizia que a decisão se destinava a “proteger um cartel de táxis”.

O conselho consultivo vai reunir-se duas vezes por ano e os membros são pagos com uma quantia não divulgada de acções da Uber. A empresa não tem planos públicos para entrar em bolsa, mas já recebeu cerca de dez mil milhões de euros de investimento, fazendo com que uma participação no capital da empresa seja uma potencial fortuna.

Em Abril, a Uber tinha feito outra contratação mediática: a empresária greco-americana Arianna Huffington, fundadora do Huffington Post, entrou para o conselho de administração.

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