Guterres defende reforço da cooperação para o desenvolvimento e a paz

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António Guterres REUTERS/Denis Balibouse

O antigo primeiro-ministro português António Guterres defendeu esta quinta-feira uma acção coerente da comunidade internacional para inverter a "caminhada trágica para cada vez menos paz e cada vez mais insegurança", registada nas últimas décadas. Guterres falava numa mensagem-vídeo, na sessão de abertura da segunda edição das Conferências de Lisboa, subordinada ao tema "A Globalização do Desenvolvimento".

A menor capacidade de prevenção e resolução de conflitos torna necessário a presença, desde o início, de agentes humanitários e de desenvolvimento a actuar para prevenir e permitir uma paz sustentável, afirmou o ex-Alto Comissário da ONU para os Refugiados.

"Quando olhamos para países como o Líbano e a Jordânia, que acolhem milhões de refugiados, torna-se evidente que estes não só produzem, por esse facto, um bem público global, como são factores de estabilidade essenciais nas suas regiões e a primeira linha de defesa em relação à nossa segurança colectiva", sublinhou.

"Estes países devem ser uma prioridade nas políticas de cooperação para o desenvolvimento (...) Paz e segurança, desenvolvimento, direitos humanos e acção humanitária são diferentes estafetas daquilo que tem que ser uma acção coerente da comunidade internacional para que os frutos do desenvolvimento possam chegar a todos e para que contribuam positivamente para resolver as dramáticas situações humanitárias que temos", declarou o candidato português ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas.

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, destacou os desafios que se colocam à Europa - a crise migratória, a dinâmica, "ou a ausência dela", da zona euro, o terrorismo, o desemprego, a instabilidade nas fronteiras, a ascensão dos populismos.

Para a segunda figura na hierarquia do Estado, a resposta a esses desafios passa por "mais democracia funcional das instituições europeias, mais harmonização social, mais governação económica para dar força ao projecto de União Económica e Monetária".

"A Europa tem que ser muito mais que uma moeda e um espaço de fronteiras abertas", disse Ferro Rodrigues, defendendo a construção de um modelo de governação mais democrático, assente numa economia social de mercado e no primado dos valores humanistas, que sejam uma referência para todo o mundo.

Para Luís Amado, presidente das Conferências de Lisboa, a "crise estrutural e multidimensional" que o mundo tem vivido nas últimas décadas é também a crise da globalização, um processo que começou historicamente na cidade de Lisboa há cinco séculos.

"Vamos entrar num período muito crítico. Até ao fim desta década, não tenhamos dúvidas de que grandes acontecimentos, situações extraordinárias, vão confrontar as nossas vidas e as vidas das nossas organizações, no curto e no longo prazo", declarou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros português.

Esta realidade exige serenidade, prudência, capacidade de diálogo e de antecipação e compreensão que tem que chegar ao cidadão e aos decisores intermédios das organizações, disse Amado, para explicar a agenda muito diversificada de temas em debate nas Conferências de Lisboa.

A sessão da abertura contou ainda com a intervenção do presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva.

Até sexta-feira, a segunda edição das Conferências de Lisboa vai debater as dificuldades actuais na União Europeia, a globalização e as ameaças de segurança, contando com a presença de cerca de 30 oradores nacionais e internacionais.

O programa do encontro, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, tem quatro painéis: "Conceitos Globais: Desenvolvimento Sustentável e Globalização", "Políticas Globais: Reconfigurações geoeconómicas e Entre bilateralismo e proteccionismo", "Geografias Globais: Um Norte-Sul de fronteiras difusas e Ameaças de segurança", e "Actores Globais: A União Europeia numa encruzilhada".

As Conferências de Lisboa são uma iniciativa conjunta da Gulbenkian, Câmara Municipal de Lisboa, Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Fundação Portugal-África, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Sofid e Instituto Marquês de Valle Flor.