Os onze magníficos do Leicester

Do filho do gigante ao avançado que trabalhava na fábrica. Antes, eram quase todos desconhecidos, agora são "estrelas". Um a um, os perfis dos onze magníficos do Leicester campeão.

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Não é preciso gastar centenas de milhões para vencer a Premier League e o Leicester é a prova disso mesmo. Para esta temporada, a equipa das Midlands gastou 37,62 milhões de libras, cerca de um quarto do volume de compras do Manchester City (152 milhões). Até o despromovido Aston Villa gastou mais (49 milhões) que o novo campeão inglês. Muitos foram "abandonados" por clubes "grandes" onde se formaram, outros cumpriram boa parte da carreira sem que ninguém desse alguma coisa por eles. Entre os 23 que Ranieri utilizou, estes foram os que mais se destacaram.

Kasper Schmeichel

Kasper começou a ser guarda-redes em Portugal. Peter Schmeichel, o pai, levava-o para os treinos do Sporting, ele calçava um par de luvas e Silvano de Lucia, treinador de guarda-redes dos “leões”, dedicava-lhe uns minutos. Durante os dois anos de gigante dinamarquês em Alvalade, Kasper ainda esteve nos escalões de formação do Estoril e continuou a ser guarda-redes quando a família Schmeichel regressou a Inglaterra. Kasper completou a formação no Manchester City, perdeu a batalha com Joe Hart pela baliza dos “blues” de Manchester e foi passando por vários clubes até se fixar no Leicester em 2011, onde tem sido titular indiscutível. Não tem a presença e o carisma do pai, mas já se mostrou um digno herdeiro do apelido, é o titular da selecção da Dinamarca e parece que o Barcelona está interessado nele.

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Kasper Schmeichel, guarda-redes

Danny Simpson

Danny Simpson tem uma história comum de muitos jogadores, formado em clube grande onde não teve espaço para evoluir e teve de ir tentar a sorte noutras paragens. Simpson formou-se na academia do Manchester United, mas apenas fez três jogos pela equipa principal e acabou por ser dispensado após vários empréstimos de pouca consequência. O Newcastle apostou nele e fez boas épocas na Premier League, seguindo depois para o QPR, onde ficou apenas um ano, sendo resgatado pelo Leicester no regresso dos “foxes” ao escalão principal. Se há sector elogiado no Leicester é a defesa e Simpson tem sido uma peça fundamental. Não é o lateral mais ofensivo do mundo, mas também não é isso que Ranieri quer dele. Para correr estão lá outros.

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Danny Simpson, lateral-direito

Wes Morgan

Britânico de nascimento, jamaicano por filiação futebolística, é o capitão do Leicester e dono de uma rede de salões de tatuagens – os “Ink-credible”. Fez quase toda a carreira no Nottingham Forest e aterrou em Leicester em 2012, onde se assumiu como o comandante da defesa e tem formado uma pareceria imbatível com Roberth Huth. Tal como o alemão, não é lá muito rápido, mas a sua experiência e capacidade física compensam. Durante muitos anos foi considerado um dos melhores centrais das divisões secundárias e só agora, aos 32 anos, é que está a merecer atenção devida. Harry Redknapp chegou a dizer que ele merecia uma oportunidade na selecção inglesa – onde, provavelmente, seria titular -, mas o veterano treinador esqueceu-se que Morgan já foi internacional pela Jamaica. “You’ll never beat Wes Morgan”, é o cântico que os adeptos do Leicester dedicam ao seu capitão.

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Wes Morgan, Central

Robert Huth

Era o único com experiência de campeão, durante o primeiro consulado de José Mourinho no Chelsea, mas o alemão era apenas uma solução de recurso para a dupla inamovível John Terry-Ricardo Carvalho. Depois de abandonar Stamford Bridge, andou pelo Middlesbrough e pelo Stoke City, antes de aterrar em Leicester em 2015, como uma das contratações mais caras da equipa (cerca de três milhões de libras). É um central alto e forte, e não muito rápido, mas a sua estatura faz a diferença, tanto na defesa, como no ataque, marcando alguns golos decisivos durante a campanha.

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Robert Huth, central

Christian Fuchs

Nunca chegou sequer a conhecer o treinador que o contratou (Nigel Pearson saiu pouco antes da época começar), mas o lateral-esquerdo austríaco que chegou a custo zero do Schalke 04 rapidamente conquistou a confiança de Ranieri, com muita solidez defensiva e alguma propensão atacante, e é um especialista nas bolas paradas. Mas a presença de Fuchs no Leicester vai para lá do que faz no campo. É uma espécie de bobo da corte, como se percebe pela sua presença nas redes sociais. Faz vídeos de competições bizarras com os colegas de equipa – a levar com boladas nas costas, por exemplo – e criou um pequeno negócio de roupa com a hashtag #NoFuchsGiven, trocadilho não vernáculo de “don’t give a fuck”. Portugal vai vê-lo mais de perto quando defrontar a selecção austríaca no Euro 2016.

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Christian Fuchs, lateral-esquerdo

Danny Drinkwater

Tem uma história parecida com a do outro Danny da equipa. Formou-se no Manchester United e foi dispensado após nula utilização em Old Trafford. E tal como Simpson, o Leicester foi o clube ideal para ele, ao ponto de ter chegado à selecção inglesa. É um médio trabalhador incansável, feroz, intratável no desarme e com boa capacidade de passe. Ainda assim, foi com Ranieri que se assumiu como titular indiscutível e tem formado uma dupla muito complementar com N’Golo Kanté. Ao contrário de alguns dos seus colegas, “Drinky”, como lhe chama Ranieri, é um jogador menos exuberante, que até se esconde das luzes da ribalta e gosta pouco de dar entrevistas.

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Danny Drinkwater, médio

N’Golo Kanté

Quando Ranieri o viu treinar pela primeira vez, disse-lhe que não precisava de estar sempre a correr, mas o pequeno (1,69m) médio francês de 25 anos parece ter uma energia inesgotável. É um dos diamantes mais brilhantes do scouting apurado do Leicester, ele que era um quase desconhecido que jogava no Caen e que foi incluído na equipa ideal do ano da Premier League. Tal como aconteceu com muitos outros jogadores do Leicester, esta campanha vitoriosa fez com que a selecção do seu país reparasse nele. Esteve na votação final para melhor jogador do ano da Premier League e está na lista de compras de muita gente.

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N’Golo Kanté, médio

Marc Albrighton

Teve uma carreira decente, mas irregular, no Aston Villa, que o dispensou a custo zero em Maio de 2014. Dois anos depois, o Villa desceu de divisão e o Leicester é campeão, com Allbrighton a desempenhar um papel importante num dos flancos do ataque. Como a táctica de Ranieri assim o exige, Albrighton é um extremo rápido que renasceu futebolisticamente com o treinador italiano depois de uma carreira promissora (com passagem pelas selecções jovens de Inglaterra) muito afectada por lesões.

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Marc Albrighton, médio-ofensivo

Riyad Mahrez

Foi eleito o melhor jogador da Premier League e por alguma razão. Entre golos e assistências, o argelino foi o mais produtivo da temporada e dificilmente irá continuar no Leicester, a não ser que clube e jogador rejeitem as mais que prováveis ofertas milionárias que se vão seguir. Numa altura em que alternava entre a equipa principal e as reservas do Le Havre, Mahrez até hesitou na hora de assinar pelo Leicester há duas temporadas e meia (quando o clube ainda estava na segunda divisão), e chegou mesmo a confessar que pensava que o Leicester era só uma equipa de râguebi – também há, mas esses são os Tigers, não os Foxes. No estilo relativamente previsível e nem sempre bonito da equipa, o franco-argelino é quem dá a magia e a imprevisibilidade, algo que Ranieri reconhece sem reservas: “É um génio, é a nossa luz. Quando brilha, todo o estádio se ilumina.”

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Riyad Mahrez, médio-ofensivo

Shinji Okazaki

É o jogador mais substituído da Premier League (23 vezes) e a sua influência não se mede em golos ou assistências, mas no trabalho invisível que consiste em dar linhas de passe nos contra-ataques e sofrer faltas perto da área adversária. Foi o jogador mais caro do plantel e os sete milhões que o Leicester pagou por ele ao Mainz, da Alemanha, parecem um pouco à margem da política de recrutamento, mas o japonês de 30 anos compensou o investimento sendo o exemplo perfeito de jogador de equipa. Durante a época teve, no entanto, um momento de enorme brilhantismo: marcou, de pontapé de bicicleta, um golo que valeu uma vitória frente ao Newcastle.

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Shinji Okazaki, avançado

Jamie Vardy

Já está em pré-produção um filme sobre ele e isso diz muito da extraordinária ascensão deste avançado que, há poucas épocas, jogava na quinta divisão inglesa e alguns anos antes disso trabalhava numa fábrica. É um talento que escapou ao scouting dos grandes clubes, mas encaixou que nem uma luva na táctica de Ranieri, muito focada no contra-ataque. Vardy é rápido, muito rápido mesmo e, não sendo um ponta-de-lança clássico, é um avançado com uma perfeita noção de desmarcação, tendo batido o recorde de jogos consecutivos na Premier League a marcar. Aos 29 anos, este antigo operário numa fábrica de próteses vai estar no Euro 2016 com a selecção inglesa e vai ser o perigo para as defesas contrárias.

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Jamie Vardy, avançado

 

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