Morreu uma voz pioneira da soul: Billy Paul
Haverá de ficar para sempre ligado à chamada "philly soul" dos anos 1970 e à balada Me and Mrs Jones. Tinha 80 anos.
O pioneiro da música soul Billy Paul morreu este domingo, aos 80 anos, de cancro no pâncreas, segundo um comunicado publicado esta segunda-feira na sua página oficial da Internet.
O cantor norte-americano, que havia sido hospitalizado na semana passada, acabou por morrer em sua casa, em Blackwood, Nova Jérsia. Nascido em Filadélfia, foi um dos nomes mais relevantes da chamada “philly soul”, tendo adquirido fama internacional com o sucesso Me and Mrs Jones, de 1972, que alcançou o primeiro lugar do top americano nesse mesmo ano.
No ano seguinte haveria de receber um Grammy para melhor interpretação masculina R&B por causa dessa mesma canção, superando grandes vultos como Ray Charles ou Curtis Mayfield. Ao longo dos anos continuaria sobretudo a ser identificado por causa dessa balada, apesar de ter tido outros grandes êxitos, como Let’ em in, Thanks for saving my life ou Only the strong survive, todos dos anos 1970, de longe o seu período mais relevante.
O seu primeiro álbum, Feelin Good at the Cadillac Club, foi lançado em 1968; ao todo, editou 15 até 1988. Ao longo da sua carreira colaborou com nomes como Miles Davis, Dinah Washington, Charlie Parker ou Roberta Flack.
Conhecido pelos óculos de grandes dimensões e pela sua barba, foi um dos muitos cantores que obtiveram sucesso trabalhando com a equipa de produção constituída por Kenny Gamble e Leon Huff, cuja editora, a Philadelphia International, também lançou material dos O’ Jays, Harold Melvin & The Blue Notes ou Lou Rawls.
O som de Filadélfia
Na viragem dos anos 1960 para os 1970, essa nova sonoridade, a “philly soul”, deu que falar, quando produtores como Kenny Gamble e Leon Huff, ou orquestradores como Dexter Wansel e Vincent Montana Jr, definiram o chamado “som de Filadélfia” – um cruzamento de soul e disco, anos antes de o género nascer oficialmente, baseado em sofisticados e melódicos arranjos de cordas.
O seu sucesso foi tal que entre 1972 e 1980 constituiram uma séria ameaça ao domínio da Motown de Berry Gordy. O seu êxito só foi possível porque existiam cantores soul de vozes distintas como Billy Paul, O’Jays, The Spinners, Harold Melvin & The Blue Notes ou The Stylistics, que atribuiam sentido às texturas instrumentais, às harmonias e aos arranjos luminosos propostos pelos músicos e produtores.
Nos anos 1970, o chamado “philly sound” transformou-se numa força da indústria e estrelas estabelecidas da soul como Wilson Pickett, Dionne Warwick ou Lou Rawls deslocavam-se à cidade especificamente para gravar com os produtores locais. Billy Paul permaneceu na editora Philadelphia International até meio dos anos 1980, vindo a registar depois mais dois álbuns, antes de anunciar a sua retirada em 1989. Mas nos últimos anos viria a actuar várias vezes ao vivo, nos Estados Unidos e na Europa.