Estudo mostra que vegetais das hortas de Lisboa são seguros
O “mito” de que nas hortas urbanas não se cultivam produtos hortícolas saudáveis “acabou”, conclui o vereador da Estrutura Verde face aos resultados das análises feitas em seis locais.
Apesar de as concentrações de alguns dos elementos analisados nos solos e nas águas terem excedido, nalgumas das seis hortas objecto de análise, os valores recomendados, a qualidade dos produtos hortícolas raramente apresentou contaminação. Esta é a principal conclusão de um estudo sobre hortas urbanas que foi apresentado esta sexta-feira em Lisboa.
Realizado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA), o estudo resulta de uma parceria com a Câmara de Lisboa e com a Junta de Freguesia de Alvalade. Na base desta iniciativa esteve a decisão recente de criar um parque hortícola no LNEC e de promover a ligação, através de um corredor verde, entre a Avenida de Brasil e a Alta de Lisboa.
Neste trabalho de “avaliação da qualidade dos solos, das águas subterrâneas e das espécies hortícolas” foram estudadas seis hortas: no LNEC, no vizinho Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL), no Vale de Chelas, junto à CRIL e na Quinta da Granja, em Benfica. Nesse último local foram analisadas duas hortas, uma mais antiga e outra no parque hortícola aberto em 2011.
Como explicou a investigadora Teresa Leitão, procurou perceber-se “de que forma a poluição atmosférica podia ter impacto nas espécies hortícolas”, mas também verificar se “as práticas hortícolas podem ter efeito em termos de poluição da cidade”. Ou seja, sintetizou, ver “o que a cidade faz à horta e o que a horta faz à cidade”.
Antes mesmo de os investigadores apresentarem as suas conclusões, o vereador da Estrutura Verde da Câmara de Lisboa resumiu-as numa ideia. “Existe um mito de que as hortas urbanas podem não produzir produtos saudáveis, por causa da poluição e de uma série de razões. Agora esse mito acabou: as hortas urbanas, com muito poucas excepções, produzem bons produtos para nós consumirmos”, constatou José Sá Fernandes.
No caso das seis hortas estudadas, verificou-se que a proximidade de eixos viários é umas das “pressões” a que elas estão sujeitas, como notou Teresa Leitão. Além disso, a do LNEC e a do CHPL estão próximas do corredor aéreo do Aeroporto de Lisboa. Também analisada foi a composição dos diferentes solos.
Em relação à qualidade dos solos concluiu-se, como observou a investigadora do LNEC, que é na horta da CRIL que há “maior poluição”, facto comprovável entre outros aspectos pela presença de hidrocarbonetos, que “pelo facto de existirem mostra que há poluição”.
Quanto às águas utilizadas para a rega observou-se que em quase todos os casos elas provêm de rede pública, o que não acontece no LNEC e na Quinta da Granja. Rosário Cameira, docente do ISA, destacou o último desses casos, frisando que é preciso ter “cuidado” com a água da mina que rega essa horta em Benfica, dado que os nitratos detectados apresentam valores acima do recomendado e muito próximos do máximo admissível.
Finalmente, o estudo procurou perceber se os produtos cultivados pelos hortelões absorvem ou não os metais pesados, tendo para isso sido analisados alimentos colhidos em Janeiro e em Junho de 2015. De acordo com Miguel Mourato, do ISA, as notícias a este respeito são boas: “Depois do que vimos nos solos seria de esperar uma maior concentração na CRIL, mas isso não acontece”.
“Nem na CRIL verificamos uma contaminação”, sublinha o docente, concluindo que “não há uma contaminação séria dos vegetais produzidos em hortas urbanas”.
Na plateia do LNEC, a assistir ao seminário de apresentação deste estudo, estavam vários hortelões de Lisboa. Segundo os números da câmara, divulgados na ocasião por Rita Folgosa, eles são cerca de 500 e cultivam uma área próxima dos seis hectares. De acordo com a técnica do gabinete do vereador da Estrutura Verde, todos eles receberam formação no “modo de produção biológico”.
Na sua intervenção, Sá fernandes frisou que em Lisboa as hortas estão “ligadas a contínuos ecológicos, em parques urbanos e no centro” da cidade. “Se nos chamam alfacinhas pelo menos que a gente tenha umas alfaces para mostrar às pessoas”, brincou, notando que as hortas têm também “um propósito pedagógico muito interessante”.