Dilma perde novo parceiro de coligação e dá mais um passo em direcção ao impeachment
Partido Progressista bate com a porta - Presidente perdeu o seu maior aliado no Congresso a poucos dias da votação que pode decidir o seu futuro.
Dilma Rousseff perdeu o seu maior aliado no Congresso e deu um novo passo em direcção ao impeachment. O Partido Progressista (PP) abandonou na terça-feira a coligação de Governo, pôs os seus cargos ministeriais à disposição e declarou-se favorável ao processo de destituição da Presidente do Brasil, que será votado na câmara baixa do parlamento no domingo.
O PP é o segundo grande parceiro de coligação a abandonar o Partido dos Trabalhadores (PT) em pleno processo de destituição de Dilma. Aconteceu pela primeira vez em Março, às mãos do maior partido no Congresso, o PMDB, do vice-Presidente Michel Temer — agora uma das grandes figuras da oposição à Presidente e seu sucessor no caso de impeachment.
Com a saída do PMDB, o Partido Progressista tornou-se o maior aliado do Governo. A relutância em continuar a sê-lo revelou-se na noite de segunda-feira, durante a votação da comissão especial de deputados que abriu formalmente o pedido de impeachment: três dos cinco representantes do PP na comissão especial votaram a favor da abertura do processo.
Infografia: Os passos do impeachment
O partido anunciou nesse momento que estava a avaliar a sua posição em relação à destituição de Dilma. Revelou a sua decisão ao final de tarde de terça-feira: 37 dos seus deputados votaram a favor da saída do Governo e do impeachment, contra nove que decidiram o contrário. “É uma decisão que eu sei que é histórica, mas que visa a unidade da bancada”, declarou Aguinaldo Ribeiro, líder da bancada na Câmara dos Deputados.
“Vamos sair para o gabinete do presidente do partido e comunicar que o partido deliberou pelo encaminhamento no plenário do voto sim”, disse, sobre a sessão deste fim-de-semana. Com 47 deputados na câmara baixa, o PP pode ser determinante para decidir a tendência de voto de outros parceiros da coligação — a grande maioria dos membros do PP já anunciara o voto contra Dilma, mas a posição conjunta pode influenciar mais deputados a fazê-lo.
A saída de um novo parceiro de coligação confirma a tendência de que o apoio a Dilma no Congresso enfraquece com o passar dos dias. Ainda nenhum dos lados — oposição e defensores da Presidente — tem para já votos suficientes para vencer a votação de domingo. A oposição precisa dois terços da Câmara dos Deputados, ou 342 votos, para aprovar o impeachment — terá agora pouco menos de 300, segundo as diversas contagens diárias na imprensa brasileira.
A chave está nos cerca de cem deputados indecisos sobre o voto de domingo. O Governo mobiliza-se em negociações para garantir o apoio de pelo menos um terço da câmara, o que garantiria a sua sobrevivência no imediato, mas não evita parecer por agora o elo mais fraco na equação.
“Os congressistas indecisos devem estar a calcular se devem ficar com um Governo muito fraco que mal consegue governar o país, ou apostar num futuro Governo com [Michel] Temer que terá mais apoio”, explica à Reuters Cláudio Couto, investigador e cientista político na fundação Getúlio Vargas.