Unidade de Saúde do Nordeste melhora resultados mas é difícil captar médicos

A ULSNE foi criada em 2011, entrando em funcionamento em 2012, com uma atribuição de 535 euros por cada um dos mais de 136 mil habitantes do distrito de Bragança

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A Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE) apresentou esta terça-feira os melhores resultados desde a sua entrada em funcionamento, em 2012, mas continua a sentir dificuldades em atrair médicos para o interior do país.

Apesar de manter resultados líquidos negativos desde o início (em 2015 foram de 2,280 milhões de euros), o presidente do Conselho de Administração, António Marçôa, revela que a dívida caiu oito milhões de euros só no ano passado. Os resultados do EBITDA (antes de impostos e amortizações) foram positivos em 700 mil euros. Para além disso, foi possível reduzir os custos em 14 milhões de euros nos últimos quatro anos (de 104 milhões em 2011 para 90 milhões em 2015).

“Foi um trabalho difícil mas motivador porque inicialmente não tínhamos os recursos financeiros necessários. Nos dois primeiros anos não tivemos uma capitação justa, comparando com as outras unidades equivalentes à nossa”, frisou aquele responsável.

A ULSNE foi criada em 2011, entrando em funcionamento em 2012, com uma atribuição de 535 euros por cada um dos mais de 136 mil habitantes do distrito de Bragança. Actualmente, esse valor subiu para os 587 euros por habitante, um número ainda longe dos 604 que foram apontados, na altura da sua criação, como o valor referência que deveria receber por prestar os cuidados de saúde à população do distrito de Bragança.

“Com as distâncias, temos de ter centros de saúde que servem concelhos com relativamente pouca população e custos fixos elevados”, explicou António Marçôa, que aponta, ainda, outros fatores de diferenciação desta região como o envelhecimento da população (265 idosos por cada cem jovens, quase o dobro da média nacional), em que 28% tem mais de 65 anos, as grandes distâncias a serem cobertas (6600 quilómetros quadrados) ou a esperança média de vida superior à média nacional (81,2 anos contra os 80,6 que se registam, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, no Continente). Tudo somado, estes fatores obrigam a um investimento maior na saúde dos transmontanos.

“São números que devem indicar às forças políticas a necessidade de investimento forte no Interior. Nós temos o dobro de índice de dependência de idosos, temos taxas elevadíssimas de envelhecimento da população. Se se associar a isso a dispersão da população por um território extenso, mais o facto de o rendimento per capita da região ser apenas 70 por cento da média nacional, concluiu-se que devemos ter especial atenção nas causas de morbilidade e na forma como apoiamos a população que servimos”, frisou.

A prescrição electrónica, que entrou em vigor no início do mês é uma forma de permitir mais algumas poupanças.

Por outro lado, se a capitação atribuída à ULSNE fosse aumentada para os 604 euros apontados na altura da sua criação, isso corresponderia a mais 2,3 milhões de euros, o suficiente para “ter resultados líquidos positivos”.

António Marçôa garantiu, ainda, que apesar das medidas tomadas para a contenção de custos, como a internalização das análises clínicas, o atendimento à população não saiu prejudicado. Pelo contrário. Segundo os dados apresentados pela ULSNE, nos centros de saúde o rastreio do cancro colo-rectal subiu de 18,5% em 2011 para os 52,6% da população no ano passado. As mulheres com mamografia actualizada passaram de 47% para 70% do total e, actualmente, 98% dos utentes têm médico de família.

Já nos três hospitais desta Unidade (Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela), o tempo de espera para uma primeira consulta diminuiu 32 dias em quatro anos, passando de 83 dias de 2011 para os 51 actualmente. Isto quer dizer que 91% das consultas são realizadas dentro do tempo médio regulamentado, quando a média nacional é de apenas 74%.

Na cirurgia de ambulatório, o tempo de espera baixou 56 dias, de 146 para 90 dias.

No entanto, apesar destes resultados, continua a ser difícil atrair médicos para o Interior. “Já existem alguns incentivos em vigor mas, sobretudo ao nível das remunerações, deveriam ser revistos para estas regiões”, disse o presidente da ULSNE, que espera contratar “de forma urgente”, sete clínicos ainda este ano. “

“Os serviços estão assegurados mas temos de ter muito cuidado com o nível de segurança. Temos médicos nos cuidados de saúde primários em que a idade ultrapassa os 55 anos e temos baixas prolongadas. Por outro lado, é essencial ter acompanhamento da população, pois a nossa aposta é na prevenção da saúde”, sublinhou.

Para além de quatro médicos de medicina geral e familiar para os centros de saúde, a ULSNE espera contratar ainda um especialista em medicina interna, um fisiatra e um radiologista. “Temos dois para três hospitais mas um está em processo de aposentação”, justificou António Marçôa.

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