Câmara de Gaia altera parque do Cabedelo, a nova casa do Marés Vivas

Festival tem o aval do Ministério do Ambiente, com algumas restrições no horário, no nível de ruído e respectivo direccionamento, para proteger avifauna do estuário do Douro.

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Promotora do festival Marés Vivas garante maior investimento para anular ruído no estuário do Douro Paulo Pimenta

No mesmo dia em que revelou que o Ministério do Ambiente considera viável, com algumas restrições, a realização do Festival Marés Vivas no novo Parque Urbano de S. Paio, no Cabedelo, a Câmara de Gaia anunciou algumas mudanças no projecto do parque que visam aliviar a pressão humana sobre o local, ao longo de todo o ano. Criticado pela Quercus e por especialistas no estudo das aves por ter insistido em manter o festival junto à reserva, o município quer mostrar que está empenhado em valorizar esta área natural local.

A autarquia anunciou esta terça-feira ter alterado o desenho para o Parque Urbano de S. Paio, retirando do projecto inicial – “datado de 2005 e apresentado publicamente por variadas vezes, a última das quais em 2012”, assinala – um conjunto de elementos que considera “excessivos”, tendo em conta a envolvente. De fora do projecto ficam um parque de campismo com instalação permanente de bungalows em madeira e um edifício de apoio a esta estrutura, um campo de futebol, e um parque automóvel, “que comprometeriam a utilização deste espaço com actividades (...) prejudiciais para a vizinha reserva”.

Numa nota à imprensa, o município assume a criação, já este mês, no âmbito do Conselho Municipal do Ambiente, de uma estrutura “que trabalhará no sentido de fortalecer a zona de protecção da Reserva Natural Local do Estuário do Douro, enquadrando nessa zona o próprio Parque Urbano de S. Paio", a nova localização escolhida para o festival Marés Vivas depois de ser conhecida, no final do ano passado, que na localização anterior, a poente do Cabedelo, vai começar a ser construído um empreendimento urbanístico, um de vários que levaram, nota a autarquia, à desmatação da Quinta de Marques Gomes.

“Infelizmente, não parece ser possível evitar o impacto da pressão humana que os projectos licenciados em 2008 provocarão diariamente na zona da reserva, com cerca de 6500 novos habitantes e um tráfego previsível de mais de 4 mil automóveis particulares por dia”, assinala o executivo liderado por Eduardo Vítor Rodrigues, o autarca que tem respondido às críticas dos ambientalistas sobre o Marés Vivas, acusando-os de não terem tido o mesmo empenho na denúncia destes projectos urbanísticos para esta mesma zona das margens do Douro.  

Quanto ao festival de música, a Comissão que juntou elementos do município, da Agência Portuguesa do Ambiente e da organização do evento definiu que nos três dias em que decorre, o evento vai ter de começar meia hora mais cedo e terminar também um pouco antes do habitual. E que o som vai ter de ser controlado por limitadores. Tendo em conta a perspectiva de passagem de mais de 20 mil pessoas por aquele local, e a existência, no estuário, em Julho, de ninhos de borrelho, pelo menos, os parques de estacionamento vão ser afastados e os acessos pedonais à zona húmida vão ser controlados por elementos da segurança do Marés Vivas.

As restantes restrições impostas ao festival são, basicamente, aquelas que foram sendo apontadas nos últimos meses. Na sua nova localização, na mesma a sul do estuári  mas mais perto do mar e alguns metros mais próximo, também, da reserva, o palco do Marés Vivas e todas as colunas de som vão estar voltadas para sudoeste, ou seja, ficarão de costas para a zona húmida frequentada por aves migratórias. Nas laterais ao palco, e na ausência de uma cortina arbórea nesta zona, durante as próximas edições vai ser instalada uma cortina de protecção sonora para minimizar, mais ainda, a propagação do som para norte.

A promotora do festival Marés Vivas garantiu, à Lusa, que irá aplicar as recomendações do Ministério do Ambiente para minimizar o impacto do evento e irá instalar um sistema de som capaz de anular o ruído no Estuário do Douro. "O investimento no sistema de som será mais elevado este ano para anular na totalidade o ruído na reserva", afirmou Jorge Lopes, da PEV-Entertainment. O organizador do festival, que pretendeu, sempre, mantê-lo em Gaia, notou, admitiu ter ficado "mais descansado com uma opinião técnica de que o evento não traz problemas à zona" onde se irá realizar.

No comunicado enviado à imprensa, a Câmara de Gaia mostrou-se satisfeita com o trabalho produzido, com o sim ao festival e mesmo com as restrições propostas, que assume como demonstração do empenho municipal em zelar pelo espaço natural. “Pela primeira vez na história da Reserva Natural Local do Estuário do Douro serão implementadas medidas de proteção e monitorização rigorosas que possibilitam a realização do evento em condições controladas, com supervisão científica e técnica independente”, assinala o executivo, numa referência a uma outra decisão do grupo de trabalho: a realização de um censo às aves do estuário, antes e depois do evento, e a medição do ruído nos locais de nidificação por parte de investigadores da Universidade do Porto.

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