Qual será o futuro das 953 fotografias do Novo Banco?

Sabemos que "é um activo" do Novo Banco, mas nada sobre o seu futuro. Uma exposição mostra a influência das colecções de duas empresas na vida artística contemporânea de Portugal e Espanha.

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Runaway Car Crashed (1999), de João Louro, colecção Novo Banco

“Espero que aconteça o melhor”, responde Lorena Martínez de Corral, a comissária da exposição Linhas de Diálogo – das Colecções Fundación Coca-Cola e Novo Banco, quando lhe perguntamos que futuro terá a Colecção de Fotografia do Novo Banco. “Que outra fundação a possa adquirir ou o Estado português, porque é algo que tem que ser mostrado a toda gente.”

A visita guiada à exposição com inauguração marcada para o final da tarde desta segunda-feira no espaço do Novo Banco no Marquês de Pombal, em Lisboa, já terminou e Lorena de Corral, que também é curadora da Colecção Coca-Cola, não se cansou de mostrar o que une as duas colecções. Têm dois objectivos diferentes, embora ambas sejam colecções empresariais, mas enquanto a espanhola, com quase 400 obras, junta todos os media, da escultura ao vídeo, mas está focada nos artistas ibéricos, a portuguesa, próxima das mil peças, concentra-se na fotografia contemporânea de todo o mundo. Em comum, como podemos ver em Linhas de Diálogo, têm a fotografia contemporânea espanhola e portuguesa.

Logo no início encontramos dois trabalhos do artista Julião Sarmento, “ambos pertencentes à mesma série”, American Landscape. A seguir, aponta para o trabalho mais abstracto ou conceptual de Ignasi Aballí, da colecção do Novo Banco, intitulado Reflexión, para mostrar “como a fotografia abarca todos os temas” e como a colecção portuguesa tem nomes tão importantes da arte espanhola e vice-versa.

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Série American Landscape (2004), de Julião Sarmento, colecção Coca-Cola

Mais à frente há um trabalho de João Louro, do Novo Banco, artista que “gostávamos de ter”, e chegamos a novo diálogo, desta vez entre o trabalho das duas duplas Cabello/Carceller e João Maria Gusmão & Pedro Paiva, entre a ficção/realidade das obras Desislava como Colin Farrell da primeira e o Homem Magnético da segunda. Pontes geracionais, que a curadora também faz entre Daniel Canogar e Daniel Blaufuks, ou novamente temáticas, desta vez diarísticas, como vemos na sala onde está o trabalho de Pedro Cabrita Reis (Uma Casa e Outros Sítios Mais), Ruben Acosta (La Costa Afortunada) ou Nuno Cera (Room With a View).

Os sessenta trabalhos das duas colecções mostram o que aconteceu nos últimos 25 anos na fotografia contemporânea dos dois países, com o espólio do Novo Banco sempre preocupado “em coleccionar artistas importantes para a cena portuguesa” e a espanhola num “esforço para mostrar o trabalho de fotógrafos jovens”.  Apesar de coincidirem em vários pontos, a comissária ressalva que a colecção do Novo Banco “é impressionante a nível internacional”, enquanto a espanhola só "tem espanhóis e portugueses”. Talvez nos próximos anos, aliás, a Fundación Coca-Cola comece a coleccionar também fotografia europeia.

A exposição Linhas de Diálogo não foi feita a pensar na ArcoLisboa, a feira de arte espanhola que pela primeira vez vai ter lugar na capital portuguesa em Maio. “É uma coincidência”, diz Lorena de Corral, mas ela já foi integrada no programa paralelo da ArcoLisboa e vai permitir que “muitos coleccionadores possam ter uma visão do que está a acontecer na fotografia contemporânea de ambos os países”.

Alexandra Conde, responsável pela colecção no Novo Banco - que continua à espera de ser vendido pelo Banco de Portugal -, conta que nos últimos dois anos não houve compras para esta colecção que começou a ser feita em 2004 sob a marca BES, também associada a um prémio internacional, e que tinha como curadora Alexandra Pinho. Tem actualmente 953 obras, de 280 artistas de 38 nacionalidades, e foi considerada uma das 80 colecções empresariais mais importantes no ranking da Global Corporate Collections, publicado pela editora alemã Deutsche Standards Editionen. Esta mostra faz parte do programa expositivo a que a colecção sempre esteve associada desde 2008, quando foi mostrada pela primeira vez no Museu Berardo.

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Arménia (2009), de Pauliana Valente Pimentel, colecção Novo Banco

Entramos para as reservas, que ficam mesmo ao lado do espaço expositivo do Novo Banco, e a primeira coisa que vemos é um trabalho de Andreas Gursky, seguindo-se Wolfgang Tillmans, Hannah Starkey. Alexandra Conde continua a apontar e agora são Cindy Sherman e John Baldessari. Estão 18 graus neste ambiente com temperatura controlada e o difícil é parar de puxar as enormes estantes onde estão guardadas séries compostas por várias imagens, como a série Tela Habitada (1977), de Helena Almeida, com 12 fotografias que correspondem ao momento fundacional em que a artista abandonou a pintura. Na exposição estão duas obras suas, em que a artista se fez fotografar com o marido, a mão invisível que ao longo dos anos tem carregado no botão da máquina para Helena Almeida compor os seus auto-retratos. Do outro lado da sala, vemos o trabalho M. Kippenberger, de Alberto García-Alix, um dos históricos da fotografia espanhola, sublinha a comissária espanhola.

Durante a ArcoLisboa, já há duas visitas de coleccionadores agendadas para verem a colecção do Novo Banco, afirma Alexandra Conde. Sobre o futuro da colecção, é uma pergunta recorrente para a qual não tem resposta. A colecção, que “é um activo do Novo Banco”, foi avaliada internamente, por causa dos seguros das reservas, mas essa informação não é pública. Uma avaliação feita por uma entidade externa não existe: “Penso que ainda não tomaram a decisão de vender a colecção, porque têm outras prioridades.”

Voltamos às palavras da comissária espanhola no início da visita guiada, a colecção do Novo Banco "é uma das mais importantes da Europa em fotografia".

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