Presidente do PS-Coimbra deixa partido

Antigo deputado enviou cartão de militante a António Costa e rompe com o PS na sequência da polémica sobre as fichas de inscrição.

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O Secretariado Nacional do PS decidiu, a 26 de Fevereiro, suspender a data das eleições na Federação Distrital de Coimbra Miguel Madeira

O presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Coimbra, Rui Duarte, que também foi líder distrital da JS e deputado, abandonou o partido, tendo enviado já o seu cartão de militante ao secretário-geral, António Costa. Foi substituído por João Paulo Almeida e Sousa, segundo da lista.

“Após mais de dez anos dedicados à causa pública, em nome do Partido Socialista (…), tomei a decisão de me desfiliar do mesmo”, afirma Rui Duarte, numa declaração enviada no fim-de-semana ao secretário-geral, ao presidente e à secretária-geral-adjunta do PS, a que a agência Lusa teve acesso.

“Deixo a vida partidária, essencialmente por sentir que estar no PS significa, hoje, maior dedicação às lutas de poder interno do que ao propósito maior de servir pessoas e contribuir para aquilo que verdadeiramente interessa aos portugueses, e em particular aos conimbricenses”, explica Rui Duarte, na “declaração de desfiliação” do partido.

“Sempre fui contra um debate intrapartidário nos tribunais e jamais, mesmo com prejuízo para o meu bom nome, sob a minha liderança, o PS/Coimbra levaria a ‘guerra aberta de militantes’ que vive para o tribunal, isto é, para a praça pública”, assegura no mesmo documento.

O Secretariado Nacional do PS decidiu, a 26 de Fevereiro, suspender a data das eleições na Federação Distrital de Coimbra, na sequência de um processo de fichas falsas.

Antes, o Ministério Público (MP) tinha determinado a suspensão provisória do processo de fichas falsas de militantes do PS do distrito de Coimbra, num caso que não avançou para julgamento.

Apesar de não ter ido a julgamento, Rui Duarte e 17 outros militantes terão cometido, segundo o despacho do MP, um crime de falsificação, prática que o acusado nega, sustentando que “o próprio despacho do MP não passa de uma visão, ainda não contraditada, nem passada pelos tribunais, que são quem julga num Estado de direito democrático”.

Rui Duarte deixa o partido, mas respeita e acredita no “projecto de sociedade do PS”, que “hoje, felizmente”, é uma “força de governo importante para transformar a vida dos portugueses”, tendo já dado provas que quer “melhorar a vida das pessoas no país”.

Mas “a energia dedicada a lutas de poder interno é desmerecida, inútil e prejudicial ao bom nome”, sublinha. “Acima de tudo, é uma ‘guerra aberta de militantes’, que opõe interesses paralelos a interesses acessórios, tudo absolutamente alheio ao propósito principal de um partido político”, salienta o antigo deputado.

Há uma agenda paralela, “muitíssimo bem instrumentalizada pelo melhor sentido de ‘aproveitamento guerrilheiro’ de fações que não olham a meios para conquistar poder interno”, acusa. Sobre o “patético processo judicial” das ‘fichas de militantes’, Rui Duarte interpreta-o como “mais um dos episódios” da guerra de militantes em Coimbra.

Colocando a questão “fora do contexto partidário e de qualquer responsabilidade política”, Rui Duarte sente-se no “direito de tomar as decisões que melhor defendam” o seu bom nome, pois sempre se norteou e norteará pelos “princípios da verdade, da ética e da honestidade”, afirma. “Agora, desta vez, escolho defender-me a mim”, sublinha.

“Vou defender o meu bom nome e reputação” por todos os meios legais, perante quem persista em “violar os elementares direitos e princípios constitucionais, pondo em causa a minha condição de inocente no processo judicial em curso”, conclui Rui Duarte.